ARTIGOS ORIGINAIS

 

Autocuidado no pré-operatório de revascularização miocárdica: um estudo descritivo

 

Raul Amaral de Araújo1, Telma Marques da Silva1, Vânia Pinheiro Ramos1

1Universidade Federal de Pernambuco

 


RESUMO
Objetivo: relacionar os fatores condicionantes básicos do autocuidado à capacidade de autocuidado no pré-operatório de revascularização miocárdica.
Método: pesquisa descritiva, transversal, tendo como referencial a Teoria do Autocuidado. Coletaram-se dados de 62 participantes por meio de entrevista individual. Aplicaram-se testes para análise de proporções, para comparação de médias e o modelo de regressão de Poisson.
Resultados: a capacidade de autocuidado foi de 87,5 (±10,5), relacionando-se à renda e à idade dos participantes.
Discussão: a associação entre os fatores estudados e a capacidade de autocuidado pode revelar uma habilidade para adaptação e enfrentamento de problemas cardiovasculares, que demandam procedimentos cirúrgicos.
Conclusão: a aplicação da Teoria do Autocuidado é uma possibilidade em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica, fortalecendo a integração entre pesquisa, prática e teoria, contribuindo na delimitação, no norteamento e na autonomia do processo de trabalho em Enfermagem.
Descritores: Autocuidado; Teoria de enfermagem; Cuidados Pré-operatórios.


 

INTRODUÇÃO

O autocuidado vem se destacando frente às Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT), que demandam dos indivíduos acometidos o engajamento na atenção a sua própria saúde. Essa exigência advém da complexidade, e por vezes da cronicidade, do processo saúde-doença dessas condições, bem como pela busca de uma qualidade de vida (QV) satisfatória(1).

A busca por QV é uma questão pesquisada sobre diversas óticas. Nesse aspecto, e tendo em vista o cuidado às DANT, tem-se a cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM), um procedimento cirúrgico padrão, realizado para melhorar o prognóstico de indivíduos acometidos por doenças cardiovasculares isquêmicas e favorecer a prática do autocuidado(2-3).

Diante da CRVM e de aspectos relacionados ao autocuidado, a Enfermagem, tendo em vista a fase pré-operatória, tem atuado na prevenção de complicações, que podem decorrer do procedimento cirúrgico. Essa atuação também se pauta na educação em saúde, a fim de empoderar os indivíduos sobre aspectos relacionados ao autocuidado(4).

Nesse contexto, o autocuidado pode ser aprendido ao longo da vida e caracteriza-se como uma ação iniciada e executada pelo indivíduo em seu próprio benefício, conforme o modelo teórico de Dorothea Orem(5-6).

Esse modelo é constituído por três construtos teóricos inter-relacionados: Teoria do Autocuidado, Teoria do Déficit do Autocuidado e Teoria dos Sistemas de Enfermagem(5-6), que podem fundamentar o cuidado de Enfermagem no pré-operatório da CRVM. Também podem fornecer subsídios à prevenção de complicações cirúrgicas, direcionando a busca por déficits e o empoderamento sobre práticas de autocuidado(4-6).

O empoderamento sobre tais práticas exige o conhecimento e o reconhecimento dos denominados fatores condicionantes básicos do autocuidado (FCB), além da capacidade de autocuidado (CAC) dos indivíduos no pré-operatório da CRVM(4-6).

Os FCB influenciam a capacidade para efetivação do autocuidado e incluem características como idade, sexo, aspectos socioculturais e apoio familiar. Já a CAC é descrita como a habilidade que os indivíduos têm de voluntária e deliberadamente engajar-se em ações direcionadas à sua saúde e ao seu bem-estar(6).

A pesquisa sobre ambos os aspectos pode favorecer ações de educação em saúde, promovendo a autoconfiança e o autoconhecimento que são necessários ao transoperatório da CRVM(4-6). Desse modo, este estudo objetivou relacionar os FCB à CAC de indivíduos no pré-operatório da CRVM.

 

MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo, com corte transversal e abordagem quantitativa(7), realizado no Pronto-Socorro Universitário Cardiológico de Pernambuco, da Universidade de Pernambuco, situado na cidade de Recife/PE, referência para atendimento em cardiologia nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.

A população do estudo constituiu-se de indivíduos hospitalizados e na fase pré-operatória da CRVM. Determinou-se o tamanho da amostra em 62 participantes, por meio de cálculo amostral para estudos de proporção com população finita, baseado em pesquisa anterior no local do estudo(8). Arrolaram-se consecutivamente todos os indivíduos acessíveis que atenderam aos critérios de inclusão:  aqueles que se submeteram pela primeira vez à CRVM, e em caráter eletivo; ambos os sexos e com idade entre 50 e 70 anos (faixa etária predominante na população pesquisada)(8).

Excluíram-se pessoas com cirurgia agendada para o dia da coleta de dados; que possuíam comprometimento neurológico ou muscular; em tratamento com psicotrópicos; que apresentaram dificuldade de comunicação ou incapacidade para responder aos questionários durante a coleta de dados.

Os dados foram coletados entre março e agosto de 2013, por meio de entrevista realizada individualmente em ambiente privativo. Elaborou-se um instrumento fundamentado na Teoria do Autocuidado, utilizada como referencial teórico-metodológico deste estudo(6). Essa teoria é um dos três construtos que compõem o modelo teórico de Dorothea Orem, possuindo como conceito central o autocuidado, além de englobar os FCB e a CAC(6).

Desse modo, os seguintes dados sobre os FCB foram coletados: idade, sexo, cor autorrelatada, estado civil, escolaridade, situação profissional, renda mensal individual e familiar, número de pessoas da família e classe socioeconômica(6).

A classe socioeconômica foi definida pelo Critério de Classificação Econômica Brasil, que estima o poder de compra por meio da quantidade de itens possuídos e do grau de instrução do chefe da família. Consideraram-se oito grupos de corte possíveis: A1 (melhor status), A2, B1, B2, C1, C2, D e E (pior status)(9).

Na coleta de dados também foi empregado um instrumento para avaliar a CAC, denominado Appraisal of Self-Care Agency Scale (ASA-A), baseado no modelo teórico de Dorothea Orem(6). Tal escala foi traduzida e validada no Brasil, demonstrando um coeficiente alfa de Cronbach de 0,85, sendo denominado de Escala para Avaliar a Capacidade de Autocuidado - EACAC(10).

A EACAC contém 24 itens, admitindo respostas do tipo Likert, cuja pontuação varia entre 1 (discordo totalmente) e 5 (concordo totalmente). A pontuação total da escala compreende escores entre 24 e 120 pontos, com altas pontuações indicando uma melhor CAC. As pontuações podem ser categorizadas da seguinte maneira: 24 a 40 = péssima; 41 a 56 = ruim; 57 a 72 = regular; 73 a 88 = boa; 89 a 104 = muito boa; e 105 a 120 = ótima(10).

Um banco de dados foi construído no software EPI INFO 3.5.2 por meio de dupla entrada de dados, para validação das informações coletadas. Os dados foram exportados e analisados no software Statistical Package for the Social Sciences versão 18.

Os FCB foram analisados por meio do cálculo das frequências, das médias e dos respectivos desvios-padrões. A análise da CAC fez-se a partir do cálculo dos valores mínimo e máximo, média e desvio-padrão, além dos intervalos de confiança dos escores médios. O coeficiente alfa de Cronbach serviu para a avaliação da consistência interna da EACAC(11).

Utilizou-se o teste qui-quadrado para comparar as proporções entre os FCB. O teste t de Student foi empregado para comparação das variáveis entre dois grupos, e a análise de variância (ANOVA) para comparação das variáveis entre três ou mais grupos(11).

O modelo de regressão de Poisson serviu para avaliar a relação entre os FCB e a CAC no grupo pesquisado. Aplicou-se o teste de Wald para determinação da significância estatística. Expressou-se a associação de cada fator com a CAC como razão de prevalência (RP) com intervalo de confiança (IC) de 95%. Considerou-se um nível de significância de 5% para todos os testes realizados(11).

Esta pesquisa foi aprovada por Comitê de Ética em Pesquisa, por meio da Plataforma Brasil, sob CAAE Nº. 11133712.2.0000.5192. Todos os indivíduos que compuseram a amostra deste estudo aceitaram participar voluntariamente, após esclarecimentos e assinatura de termo de consentimento, sendo-lhes garantido o sigilo e a liberdade de ser recusar a participar, de solicitar novos esclarecimentos e de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa.

 

RESULTADOS

A Tabela 1 sintetiza os dados referentes aos FCB entre os participantes do estudo. Observou-se, por meio da comparação de proporções, o perfil predominante no grupo pesquisado.

 

Tabela 1 - Fatores condicionantes básicos do autocuidado entre os participantes do estudo. Recife, 2013.
Fatores Condicionantes Básicos n %
Idade
50 a 60 anos 30 48,4
61 a 70 anos 32 51,6
Sexo
Masculino 42 67,7
Feminino 20 32,3
Cor autorrelatada
Branca 29 46,8
Preta 7 11,3
Parda 26 41,9
Estado civil
Casado 47 75,8
Separado/divorciado 8 12,9
Viúvo 7 11,3
Escolaridade
Não alfabetizado 6 9,7
Somente alfabetizado 3 4,8
1ª a 3ª série do 1º grau 12 19,4
Até a 4ª série do 1º grau 16 25,8
1º ciclo ou da 5ª a 8ª série do 1º grau 13 21
2º ciclo ou 2º grau 12 19,4
Situação profissional
Aposentado 37 59,7
Conta própria 8 12,9
Empregado 12 19,4
Não remunerado 5 8,1
Renda mensal individual
Sem renda 5 8,1
< R$ 678,00 32 51,6
R$ 678,00 a R$ 1.356,00 15 24,2
> R$ 1.356,00 10 16,1
Renda mensal da família
< R$ 678,00 13 21
R$ 678,00 a R$ 1.356,00 23 37,1
> R$ 1.356,00 26 41,9
Principal responsável pela renda da família
Sim 41 66,1
Não 21 33,9
Número de pessoas da família
1 4 6,5
2 22 35,5
3 15 24,2
4 ou mais 21 33,9
Classe socioeconômica
B1 1 1,6
B2 4 6,5
C1 8 12,9
C2 34 54,8
D 15 24,2
Fonte: Elaborado pelos autores

 

A CAC foi categorizada no grupo pesquisado, conforme a Tabela 2. A média dos escores obtidos com a EACAC foi de 87,5 (± 10,5), indicando uma boa CAC no grupo pesquisado. Analisou-se a consistência interna da EACAC pelo coeficiente alfa de Cronbach, calculado em 0,82.

 

Tabela 2 - Descrição por categorias da capacidade de autocuidado no grupo pesquisado. Recife, 2013.
Capacidade de Autocuidado n %
Péssima 0 0
Ruim 1 1,5
Regular 5 8
Boa 21 33,9
Muito boa 32 51,6
Ótima 3 5

 

Na Tabela 3, verificou-se a pontuação média e o respectivo desvio-padrão da CAC para cada um dos FCB pesquisados. Não ocorreu significância estatística entre as pontuações médias da capacidade de autocuidado, segundo os fatores pesquisados.

 

Tabela 3 - Associação entre capacidade de autocuidado e categorias de fatores condicionantes básicos. Recife, 2013.
Fatores Condicionantes Básicos Capacidade de Autocuidado p-valor
Idade
50 a 60 anos 71,4 ± 10,6 0,200*
61 a 70 anos 74,3 ± 6,5
Sexo
Masculino 73,5 ± 9,4 0,503*
Feminino 71,8 ± 7,6
Cor autorrelatada
Branca 74,0 ± 5,9 0,068†
Preta 65,7 ± 9,8
Parda 73,7 ± 10,5
Estado civil
Casado 74,1 ± 7,8 0,063†
Separado/divorciado 67,6 ± 12,2
Viúvo 77,2 ± 2,1
Escolaridade
Não alfabetizado 73,9 ± 4,5 0,262†
Somente alfabetizado 79,2 ± 3,8
1ª a 3ª série do 1º grau 73,8 ± 7,2
Até a 4ª série do 1º grau 70,6 ± 7,5
1º ciclo ou da 5ª a 8ª série do 1º grau 69,7 ± 9,8
2º ciclo ou 2º grau 76,5 ± 11,7
Situação profissional
Aposentado 74,0 ± 6,6 0,719†
Conta própria 70,7 ± 9,4
Empregado 71,6 ± 14,3
Não remunerado 71,8 ± 7,1
Renda mensal individual
Sem renda 71,8 ± 7,1 0,093†
< R$ 678,00 74,3 ± 7,1
R$ 678,00 a R$ 1.356,00 71,5 ± 10,3
> R$ 1.356,00 71,3 ± 12,3
Renda mensal da família
< R$ 678,00 72,8 ± 5,6 0,358†
R$ 678,00 a R$ 1.356,00 74,4 ± 7,6
> R$ 1.356,00 71,4 ± 10,9
Principal responsável pela renda da família
Sim 73,4 ± 10,0 0,566*
Não 72,0 ± 6,0
Número de pessoas da família
1 72,3 ± 5,3 0,669†
2 71,1 ± 10,1
3 73,8 ± 9,4
4 ou mais 74,3 ± 7,5
Classe socioeconômica
B1 80,0 (±0,0) 0,361†
B2 76,2 ± 16,5
C1 77,6 ± 8,3
C2 71,5 ± 7,5
D 72,2 ± 9,5
*Teste t de Student. †Análise de Variância
Fonte: Elaborado pelos autores.

 

Na Tabela 4, observa-se o ajuste do modelo de Poisson para a CAC segundo a idade e a renda mensal familiar. Esse modelo foi gerado a partir de dois modelos anteriores, para analisar as associações entre uma maior CAC e os FCB, sendo excluídos os fatores escolaridade (p-valor=0,390) e estado civil (p-valor=0,065). Conforme a tabela abaixo, uma maior idade e uma menor renda mensal da família associaram-se a uma maior CAC.

 

Tabela 4 - Regressão de Poisson para a capacidade de autocuidado, segundo os fatores condicionantes básicos. Recife, 2013.
Fatores Condicionantes Básicos p-valor* Razão ajustada
RP
Idade
50 a 60 anos 1
61 a 70 anos 1,46
Sexo 0,939
Cor autorrelatada 0,417
Estado civil <0,001
Escolaridade 0,002
Situação profissional 0,4
Renda mensal individual 0,791
Renda mensal da família
< R$ 678,00 1,8
R$ 678,00 a R$ 1.356,00 1,08
> R$ 1.356,00 1
Principal responsável pela renda da família 0,797
Numero de pessoas na família 0,722
Classe socioeconômica 0,395  
*Teste de Wald.
Fonte: Elaborado pelos autores.

 

DISCUSSÃO

O estudo objetivou relacionar os FCB à CAC de indivíduos no pré-operatório da CRVM, fundamentando-se na Teoria do Autocuidado, de Dorothea Orem. Assim, os resultados obtidos a partir dos FCB coadunaram com as descrições presentes na literatura com relação ao perfil predominante no grupo pesquisado(3-4). Porém, destacam-se a baixa escolaridade e a precariedade socioeconômica entre os participantes(12-14).

Com relação à CAC, sua média foi maior nos participantes com idade mais avançada, nos homens, nos viúvos, naqueles somente alfabetizados, nos aposentados, nos participantes com renda mensal individual menor que R$ 678,00 e com renda mensal da família entre R$ 678,00 e R$ 1.356,00.

Ressalta-se que as médias elevadas da CAC entre os participantes com as características supracitadas, segundo a teoria adotada, devem ter seu autocuidado potencializado, enquanto os demais indivíduos necessitariam de uma avaliação mais rigorosa quanto à presença de déficits de autocuidado, para que possam receber um suporte adequado, a fim de desenvolver e melhorar essa prática(1-2,4,8).

Todavia, os resultados obtidos sobre os FCB e a CAC diferiram de estudos que identificaram esses aspectos com indivíduos em tratamento dialítico ou suporte ventilatório em domicílio(1), e em moradias de áreas urbanas com 65 anos ou mais de idade(14).

Nos indivíduos em tratamento dialítico ou suporte ventilatório em domicílio, descreveu-se que a CAC foi maior quando existia suporte social, sentimento de segurança e conhecimento sobre o uso de tecnologias. Entretanto, não ocorreu associação entre a CAC e FCB como idade, sexo, escolaridade e renda(1).

Já no estudo com moradores de áreas urbanas com 65 anos ou mais de idade, verificou-se uma elevada CAC entre os participantes. Esse dado foi associado à boa percepção de saúde, prática de atividade física regular e satisfação com a vida(14).

Nesses dois estudos, as médias da CAC foram de 87,7 (±11,3)(1) e de 92,4 (±10,7)(14). Tendo em vista que a média obtida no grupo pesquisado foi de 87,5 (±10,5), pode-se considerar que os indivíduos no pré-operatório de CRVM têm condições de desenvolver e aprimorar práticas de autocuidado.

Esse achado pode ser corroborado porque os dois estudos supracitados foram realizados em países desenvolvidos, com alto índice de desenvolvimento humano. Além disso, os indivíduos pesquisados encontravam-se em situação desfavorável, longe de suas famílias, contando, muitas vezes, apenas com o suporte oferecido pela instituição hospitalar, revelando a capacidade de manter sua saúde e seu bem-estar, mesmo diante do impacto também ocasionado pela doença cardiovascular(6,15).

Contudo, a CAC deve ser contextualizada à realidade do grupo pesquisado. No caso desta pesquisa, ganha destaque a associação entre a CAC e fatores como idade, renda e escolaridade, sendo que apenas este último fator não apresentou significância estatística na análise multivariada.

Assim, os fatores citados, apesar de precários no grupo pesquisado, são importantes para o planejamento do cuidado de Enfermagem, como também à aquisição, ao desenvolvimento e à manutenção do autocuidado em indivíduos com problemas cardiovasculares(16).

Particularmente quanto à escolaridade, estudos destacaram que um maior autocuidado associou-se à maior escolaridade,comunicação e entendimento. Essas características favoreceram a obtenção de práticas de autocuidado(12-13), revelando a importância da escolaridade dos indivíduos no planejamento das intervenções de Enfermagem.

No grupo pesquisado ainda se destacou que uma maior idade e uma menor renda mensal familiar associaram-se a uma maior CAC. Isto pode mostrar que, nesse grupo em particular, houve o desenvolvimento de habilidades adaptativas e de enfrentamento ao processo de adoecimento cardiovascular, mesmo tendo em contrapartida um desfavorecimento socioeconômico(3,16).

A referida associação necessita ser aprofundada, preferencialmente por estudos com maior poder estatístico ou que abordem qualitativamente fatores intrínsecos e extrínsecos aos indivíduos, os quais poderiam potencializar a adaptação e o enfrentamento em situações críticas - caso exemplificado pela resiliência.

Contudo, verifica-se a plausibilidade de articulação entre promoção, prevenção e reabilitação em indivíduos no pré-operatório de revascularização miocárdica(15) a partir do reconhecimento dos FCB e da CAC, fundamentando-se em teoria própria da Enfermagem(6).

Os fatores pesquisados favoreceram uma visão holística do grupo estudado, determinando suas especificidades e necessidades; assim, forneceram subsídios para atuação frente à inserção social e historicidade dos participantes, descentralizando essa atuação do corpo biológico e de tecnologias médicas(6,15).

Dessa forma, vislumbra-se a necessidade da educação em saúde para os indivíduos no pré-operatório da CRVM, salientando-se a singularidade e a autonomia desses indivíduos nas práticas de autocuidado(4,16-17).

Todos podem adquirir uma maior CAC ao longo da vida, e em menor ou maior grau, e ser capazes de realizar ações para o autocuidado, o que poderia melhorar os resultados nas fases intra e pós-operatória, além de prevenir situações potencialmente fatais(6-18).

Salienta-se que este estudo possui limitações inerentes ao seu delineamento não experimental pela amostragem não randomizada e pela baixa escolaridade dos participantes, restringindo a aplicação dos resultados obtidos a grupos congêneres. Além disso,  as informações advindas dos instrumentos utilizados abordaram aquilo que os pesquisadores queriam conhecer, e não o que os participantes desejavam expressar.

        
CONCLUSÃO

Na associação entre os FCB e a CAC, destacaram-se os seguintes fatores entre os participantes: idade, estado civil, escolaridade e renda mensal da família. Salientando-se que uma melhor CAC associou-se à idade e à renda da família no grupo pesquisado.

Nesse contexto, existe a possibilidade de aplicação do modelo teórico de Enfermagem de Dorothea Orem em indivíduos no pré-operatório da CRVM, favorecendo a integração entre pesquisa, prática e teoria, e, dessa forma, contribuindo na delimitação, no norteamento e na autonomia do processo de trabalho em Enfermagem.

Essa aplicação poderá ser ancorada tanto nos FCB quanto na CAC, desde que contextualizados ao local e à população alvo. Para o fortalecimento do modelo teórico empregado, enfatiza-se a necessidade da abordagem de outros aspectos contidos nele, para viabilizá-lo na prática clínica da Enfermagem.

A realização de pesquisas que abordem a CAC por meio de métodos mistos também pode ser incentivada a fim de se compreender questões intrínsecas a cada indivíduo, favorecendo o reconhecimento de fatores que estimulem ou dificultem as práticas de autocuidado.

Por fim, mesmo com a precariedade socioeconômica apontada pelos FCB pesquisados, houve o desenvolvimento da CAC no grupo pesquisado, implicando a prática clínica da Enfermagem, o planejamento de intervenções dialogadas que respeitem a historicidade, inserção social e limitações dos indivíduos assistidos em busca de uma melhor qualidade de vida após o procedimento cirúrgico.

 

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Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

 

 

Recebido: 03/11/2014
Revisado: 07/10/2015
Aprovado: 08/10/2015