The humanizing in delivery: the bibliographyc study
A humanização no parto: um estudo bibliográfico
Karla de Abreu Peixoto Moreira*, Michell Ângelo Marques Araújo**, Maria Veraci Oliveira Queiroz***, Maria Salete Bessa Jorge***, Consuelo Helena Aires de Freitas***
*Universidade Federal do Ceará, CE, Brasil. Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico/FUNCAP; **Faculdade Católica Rainha do Sertão, Ce, Brasil; ***Universidade Estadual do Ceará, Ce, Brasil.
ABSTRACT: This is a bibliographic study in papers of nursing of 2000 to 2005 which objective was to analysis the scientific production in nursing about humanization in delivery. It was researched seven brazilian magazines in nursing with international classification using the descriptors humanization in delivery and pain in delivery. Overall were found 16 articles which were submitted to content analysis. We highlight the core of senses that were grouped forming the categories: the rescue of historicity of delivery; the medicalization and use of technologies in delivery; humanization in delivery and methods of care to woman. The studies shown convergence of opinions about the institution of delivery and technologic interventions that get far of humanized conducts. Thus, the reversion of this phenomena occurs with respect to privacity and woman autonomy. There is need to new studies about the theme, deeming the complexity of aspects that involves the humanization in delivery.
Key words: Humanizing delivery; Labor pain; Perinatal care.
RESUMO: Trata-se de um estudo bibliográfico em periódicos da Enfermagem nos anos de 2000 a 2005, cujo objetivo foi analisar a produção científica na enfermagem sobre humanização no parto. Foram pesquisadas sete revistas brasileiras de Enfermagem com classificação internacional, utilizando os descritores humanização no parto e dor de parto. Ao todo foram encontrados 16 artigos submetidos à análise de conteúdo. Destacamos os núcleos de sentido, que foram agrupados formando as seguintes categorias: o resgate da historicidade do parto; a “medicalização” e o uso de tecnologias no parto; humanização no parto e métodos de cuidado à mulher. Os estudos mostram convergência de opiniões sobre a institucionalização do parto e as intervenções tecnológicas que distanciam de condutas humanizadas. Portanto, a reversão desse fenômeno ocorre com respeito à privacidade e autonomia da mulher. Há necessidade de novos estudos sobre o tema, considerando a complexidade dos aspectos que envolvem a humanização no parto.
Palavras chaves: Humanização do parto; Dor de parto; Assistência perinatal.
INTRODUÇÃO
Atualmente, se discute sobre a humanização no parto e em mecanismos para a redução de sua dor, com a adoção de métodos não farmacológicos a fim de reduzir a ansiedade. Parece redundante referir-se a humanização ao se tratar de parturientes, sendo, mister, pois, refletir sobre as condições vivenciadas pelas mulheres no ato de parir.
Na realidade, esse é um ponto gerador de várias opiniões, mas o que deve ser necessário reaver é o apoio dado à mulher nesse momento tão singular e individual, que é o parto.
È preciso recuperar o parto como evento familiar e natural e unir aos benefícios das modernas evidências científicas1. A humanização no parto independe da via de parto: ser “normal” ou “cesariano”. Observa é que a humanização é mais pensada sob o enfoque do parto dito “normal”, termo comumente utilizado para parto transpélvico ou natural, mas esta deve ser tratada também para partos cesarianos em todas as suas especificidades, em sua indicação e em sua realização, compreendendo o nascimento como um momento inerente à mulher.
Nos dias de hoje, observa-se que a realização de partos cesarianos ultrapassa em muito os transpélvicos, e esse aumento torna-se alarmante, pois, muitas vezes, estão sendo realizados cesarianos desnecessários, por ser mais cômodo para o profissional ou o serviço. Não se leva em conta o que a mulher sente, os seus anseios, e não é explicitado a ela o porquê da realização de vários procedimentos ocorridos ainda em sua admissão hospitalar.
O parto seria mais acolhedor e humanizado se um acompanhante, desejado pela mulher, estivesse presente na ocasião, se a mulher fosse livre para a escolha de sua posição de parir, se abolissem procedimentos invasivos desnecessários.
Esses procedimentos podem ser extremamente dolorosos e causar as chamadas dores iatrogênicas, já que há a interferência do profissional, e devem ser feitas em apenas 5 a 10% das mulheres quando realmente tiver indicação1.
A assistência à gestante faz-se necessária, pela própria especificidade desta condição, que requer suporte à saúde da mulher e saúde do feto, já que a gravidez se configura como um período de várias mudanças físicas e emocionais, vivenciado, pelo, em particular de forma singular.
Com isso, surgem perguntas inquietadoras relacionadas com a Enfermagem obstétrica: há produção científica na Enfermagem sobre humanização no parto? O que está sendo estudado? Que aspectos são abordados na humanização no parto?
Tentando responder a essas questões, realizamos este estudo, tendo como objetivo analisar a produção científica na Enfermagem sobre humanização no parto, no período de 2000 a 2005.
O artigo se justifica pela necessidade de se saber como estão sendo trabalhadas as questões da humanização e sob qual prisma está pautada a assistência humanizada no parto, além de servir de incentivo para novas pesquisas e implementação da humanização nos serviços de saúde.
PERCURSO METODOLÓGICO
Realizamos um estudo bibliográfico em periódicos de Enfermagem, buscando analisar a produção científica sobre humanização no parto. A pesquisa foi realizada em revistas científicas brasileiras de Enfermagem com classificação internacional, situando no tendo como referência o período 2000 a 2005. Obedecendo a esse critério, selecionamos os seguintes periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem; Revista Gaúcha de Enfermagem; Revista Latino-Americana de Enfermagem; Revista Texto e Contexto de Enfermagem; Revista de Enfermagem da UERJ; Revista Acta Paulista de Enfermagem e Revista de Enfermagem da USP, perfazendo o total de sete. Na escolha dos artigos, utilizamos como critério a presença dos seguintes descritores: humanização no parto e dor de parto, sendo selecionados 16 artigos de toda a produção científica pesquisada.
A coleta de dados ocorreu na biblioteca de uma Universidade privada na cidade de Fortaleza, realizada manualmente no acervo de revistas científicas na área de Enfermagem, sendo este complementado com pesquisas realizadas em banco de dados de Enfermagem (BDENF/BIREME).
A análise dos artigos baseou-se na técnica de análise de conteúdo, de Bardin (1977), modalidade temática. A técnica de análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença, ou freqüência de aparição, pode significar alguma coisa para o objeto analítico escolhido2. Assim, procedemos com a leitura flutuante, possibilitando uma visão de todo o conteúdo, e depois leitura analítica, destacando os núcleos de sentidos os quais foram agrupados formando as seguintes categorias: o resgate da historicidade do parto; a “medicalização” e o uso de tecnologias no parto; humanização no parto e métodos de cuidado à mulher.
DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados estão apresentados seguindo as categorias emergentes, as quais representam o conteúdo dos artigos com seus significados, de acordo com a percepção dos autores pesquisados.
O resgate da historicidade do parto
Parir era considerado um processo natural, acompanhado em ambiente domiciliar por parteiras, conhecidas no Nordeste brasileiro como “cachimbeiras”. Essas mulheres detinham conhecimento empírico, passados de geração a geração. Eram pessoas de confiança e muitas dela influentes na comunidade. Elas não somente auxiliavam as parturientes, como também proviam apoio emocional e espiritual, por meio de suas rezas, poções e bênçãos. O parto nesse período era considerado assunto de mulher3.
Essas mulheres eram provedoras de cuidados e entendidas na arte de curar. Com o advento do cristianismo e dominação da Igreja Católica, as parteiras eram vistas, não simplesmente como cuidadoras, mas como detentoras de conhecimentos mágicos e sobrenaturais, sendo alvo de perseguição e em muitos casos condenadas à morte nas fogueiras da Santa Inquisição4,5.
Na Idade Moderna, com as descobertas científicas, o parto tornou-se assunto não só de mulheres mas também de interesse e curiosidade da ciência, exercida na sua totalidade por homens, apesar dos obstáculos de ordem moral impedirem a entrada de homens nos aposentos femininos. Somente após o século XVIII, houve a participação masculina direta na assistência ao parto6,7.
A descoberta do mecanismo de ovulação foi marco na transformação do atendimento ao parto e a concepção de que a mulher, em virtude de sua constituição frágil, precisava necessariamente de intervenção médica, foi responsável pelo estabelecimento da Obstetrícia como saber científico, atribuindo ao médico poder exclusivo no atendimento à mulher e ao parto, desqualificando o saber empírico e a atuação das parteiras6.
A partir do século XIX, iniciaram as atividades de assistência ao parto, com responsabilidade profissional, institucionalizando a formação para assistir o parto, não só para médicos, mas também incluídas as parteiras, mudando sua forma de atuar e o lugar de atuação, antes ocorrente no domicílio, e passaram a acontecer nos hospitais, incorporando aos seus conhecimentos populares e seus ritos de passagem8,9.
O estabelecimento da Enfermagem como profissão também incluiu a Obstetrícia como área de atuação, incorporando a parteira como membro da equipe de Enfermagem e sendo regulamentado o exercício profissional10.
O Ministério da Saúde do Brasil, preocupado em reduzir as intervenções e os altos índices de cesarianas desnecessárias, cria vários projetos para implementação da humanização no parto. Um deles é o Projeto Maternidade Segura, que visa, além da humanização, à qualificação de profissionais11.
Essa formação deve recobrar o parto como momento da mulher e de sua família, fazendo-se necessário repensar, na qualidade de profissionais de saúde, práticas e conceitos que valorizem a mulher, ao vivenciar seu ciclo vital e, principalmente, no seu parto.
Ainda hoje, gestantes e parturientes permanecem sofrendo discriminações, preconceitos, atitudes desrespeitosas e outras formas de violências nos serviços de atenção obstétrica12.
As mulheres deveriam ter a oportunidade de viver a gestação e o parto como parte de sua vida afetiva e sexual, dispondo dos recursos médicos, quando necessário, e, ao mesmo tempo, podendo estar em contato com a natureza verdadeira do ato de dar à luz13.
A “medicalização” e o uso de tecnologias no parto
Com a institucionalização do parto e do saber obstétrico, aquele se transforma em um procedimento médico. No domicílio, existe a possibilidade de vivenciar o nascimento de forma ritualizada, sem o uso abusivo de tecnologias e com individualidade e respeito à mulher. Seu parto torna-se único, o seu momento, não apenas mais um parto “normal”, como o que acontece nos serviços hospitalares.
A apropriação do corpo feminino como objeto de dominação ocorreu de forma particular pela Igreja e pelos médicos. Estes tinham acesso à intimidade da mulher, mas com objetivos distintos: um voltado ao cuidado da alma e o outro do corpo3.
A mulher ao permitir, que outros compartilhem da sua intimidade, entrega-se com simplicidade e confiança, submetendo-se ao dito saber científico, perdendo o poder sobre seu próprio corpo. A Medicina, detentora das relações de poder na saúde, se propõe a controlar os processos naturais, fazendo com que a mulher perca o direito de escolher as circunstâncias do seu parto.
O processo de “medicalização” e a dominação do corpo da mulher por parte dos médicos fizeram com que algumas delas aceitassem e acreditassem que a realização de procedimentos invasivos fosse benéfica para a evolução do parto, embora fosse também causa de dor e sofrimento14.
No ambiente de pré-parto, a exposição e a intrusão alheia no corpo são considerados normais e aceitáveis. O profissional tem o “direito” de manipular a parturiente, sem importar-se se esta consente. A mulher é vista apenas sob o enfoque biológico, uma visão que se concentra no útero e em seus processos patológicos, ao que se aliam os aspectos técnicos em detrimento dos aspectos culturais que envolvem o parto, caracterizando a “medicalização”.
As mulheres perderam seu lugar de protagonistas na cena do parto e foram relegadas ao papel de coadjuvantes. Foram perdendo a possibilidade de existir no processo e levadas a viver o que denominamos de cultura do silêncio. Suas intuições, crenças, valores, sabedoria e cultura foram progressivamente apagados15.
Em nome da redução da mortalidade infantil e materna, o parto é institucionalizado no século XX e, com isso, baseado na premissa de que a Medicina pode dominar e/ou neutralizar seu risco. Com a crescente inclusão dos cirurgiões no parto, a criação do fórceps, por Chamberlain, e a instituição da posição de decúbito dorsal, por Mauriceau, o uso de tecnologias e a instrumentalização do parto são criados para facilitar o trabalho médico16.
Com o aprimoramento do saber médico, o índice de mortalidade materna começou a diminuir, o que contribuiu para o aceite da hospitalização perante a sociedade. Ter seus filhos em hospitais passou a ser mais seguro para as mulheres3.
Os médicos proclamaram o hospital como o local apropriado ao parto normal, que, sob a nova ordem científica, não era mais considerado um ato fisiológico da mulher, mas sim um problema médico17.Com a concepção de que o hospital é o único local adequado e seguro para parir, vem da idéia de que, quanto mais tecnológico o parto, maior a segurança5.
Desde a criação do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1984, pouco se caminha para romper com o modelo tecnocrático que visa à mulher sem autonomia sobre o seu corpo, separada de seus entes queridos e muitas vezes do próprio filho ao nascer. O parto é, então, visto como algo patológico e necessário de intervenções e uso abusivo de tecnologias.
Consideramos que houve melhora com a instituição, pelo Ministério da Saúde (MS), de ações implementadas como a assistência ao pré-natal, parto e puerpério; entretanto, reaver a mulher como pessoa autônoma de seu próprio corpo ainda não foi possível.
Não podemos negar os benefícios do uso das tecnologias na assistência ao parto de alto risco e a sobre vida materna e neonatal; mas o seu uso abusivo, principalmente na assistência ao parto de baixo risco, transpélvico, produz controvérsias. A valorização, em demasia, da tecnologia, trouxe repercussões negativas na vida das mulheres18.
A atitude do profissional que presta assistência à parturiente deve ser sutil e delicada, com vistas a entender e apoiar os momentos de dor pela contratilidade uterina, seus gritos e gemidos19.
Observa-se, contudo, um distanciamento desse profissional que está junto à parturiente quando da realização de procedimentos invasivos, como o toque vaginal, por exemplo, manipula-se a mulher e, muitas vezes, nem sequer se sabe o seu nome ou pede-se licença para realizar tal técnica.
Deve-se permitir à mulher o poder de fazer escolhas; onde, como, com quem e de que forma parir, e não ser submetida a normas e rotinas impostas pela instituição ou à mercê dos profissionais que se utilizam o uso de tecnologias como forma de prestação de cuidados.
Humanização no parto
Na década de 1980, formou-se um movimento social pela humanização do parto e nascimento. Desde então, diversas organizações não governamentais e associações procuram recuperar essa forma mais natural de nascer. Destaca-se na luta pela humanização a Associação Brasileira de Enfermeiros Obstetras (ABENFO); ONG Amigas do Parto e Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (REHUNA), entre outros15. Os profissionais de saúde envolvidos com a assistência perinatal demonstram preocupação e propõem medidas que melhorem o atendimento no nascimento9.
Humanizar significa acolher a parturiente, respeitar sua individualidade de fêmea, oferecer ambiente seguro, ensejar um acompanhante e não intervir em processos naturais com tecnologia desnecessária20. Implica também mudanças na atitude, filosofia de vida e percepção de si e do outro como ser humano. A sensibilidade, a informação, a comunicação, a decisão e a responsabilidade deve ser compartilhadas entre mãe-mulher, família e profissionais de saúde15. O parto humanizado consiste em um conjunto de condutas e procedimentos que têm por finalidade a promoção do parto e nascimento saudáveis e a prevenção contra morbimortalidade materna e perinatal11.
O parto humanizado atua em um acompanhamento com um mínimo de intervenções possíveis, com pessoal treinado para prever possíveis complicações obstétricas que possam surgir e um atendimento empático, que demonstre confiança e respeito à individualidade da mulher.
O humanismo tem como princípio não seguir o modelo convencional, elevando a mulher como sujeito de sua história, dando-lhe direito a escolhas, valorizando a participação da família e procurando incentivar ao máximo a participação ativa do acompanhante na hora do parto3.
Consideramos também que a privacidade no ato de parir é fundamental, pois somente em um ambiente propício é que a mulher atingirá uma liberdade para viver o seu momento de parir. A liberdade para movimentar-se é outro fator extremamente importante, visto que, na atual prática obstétrica, o espaço da parturiente se restringe ao seu leito ou quando é encaminhada ao banheiro.
A tendência mundial do avanço tecnológico e científico mostra enorme fragilidade no que se refere ao cuidado. Tecnologias avançadas tentam substituir e, por vezes, substituem o cuidado humano21.
Mesmo com a mudança da assistência ao parto ao nível hospitalar e todo o amparato tecnológico, no entanto, observam-se a dificuldade de acesso aos serviços de saúde de qualidade, altos índices de morbimortalidade materna e neonatal, níveis elevados de cesáreas desnecessárias, abortos clandestinos, esterilização em massa, baixa adesão das mulheres ao aleitamento materno, entre outros22.
A “(des)humanização” pode ser entendida pela institucionalização do parto e a formação dos profissionais de saúde que visam ao biológico e ao patológico somente. Considera-se como alternativa à humanização do parto o restabelecimento do espaço domiciliar ou as casas de parto e o repensar a mulher como sujeito da parturição. Considerando tal fato, o Ministério da Saúde instituiu o Programa de Humanização no Parto e Nascimento.
O modelo de cuidado utilizado pela Enfermagem obstétrica e neonatal atualmente está pautado na humanização da assistência, e tem como base as políticas públicas de saúde, na perspectiva da integralidade, utilização de tecnologias apropriadas e necessárias, valorização de crenças e modos de vida15.
Consideramos que, na humanização do parto, deve existir maior preocupação com a subjetividade da mulher, seus anseios, dúvidas e angústias. O esclarecimento de todos os procedimentos aos quais esta se submeterá e o auxílio em todos os momentos do trabalho de parto devem ser priorizados. Devemos lembrar que parir é algo próprio da mulher, sendo os profissionais apenas facilitadores, constituindo assim um retorno à antiga abordagem do parto como algo fisiológico e vivencial do feminino e familiar.
Métodos de cuidado à mulher
O nascimento, sendo considerado momento da família e uma celebração da vida, necessita sob esse enfoque da participação de um membro da família que apóie e ajude a parturiente. Em decorrência disso, há maior tranqüilidade e confiança da mulher, quando está com familiares ou profissionais de saúde que prestam cuidados e há, nesta relação, um vínculo afetivo14.
O vínculo estabelecido entre os profissionais e a parturiente pode reaver a humanização do parto, que ficou esquecido no mundo da tecnologia, buscando ações voltadas ao atendimento do ser humano com suas necessidades20.
A presença do acompanhante faz com que se recobre um pouco o contexto familiar, vivenciado nos partos em domicílio. Este acompanhamento representa o apoio de que a mulher necessita para enfrentar esse momento difícil, pois sua impossibilidade ocasiona insegurança e medo, razão por que deve ser uma pessoa significativa para a parturiente, podendo ser o pai da criança, sua genitora ou mesmo as “doulas” (mulheres preparadas para dar apoio e conforto durante as dores do parto)23.
Um ponto importante que deve ser ressaltado é a dor no parto, que acontece em virtude, principalmente, da contratilidade uterina, entretanto outros fatores fisiológicos estão envolvidos como: hipóxia da musculatura uterina; o estriamento cervical, vaginal e perianal durante o período expulsivo; o estresse e o limiar de tolerância à dor24.
A dor no parto é um fenômeno considerado em quase todas as culturas. Na cultura cristã, é tida por alguns até como uma maldição dirigida a Eva e à suas descendentes por causa do pecado original21,14.
Essa dor pode ser aumentada ou diminuída, dependendo de vários fatores que podem ser internos ou externos à mulher. Acredita-se que os modos de enfrentamento e o preparo psicológico ao parto, a utilização dos métodos não farmacológicos e o preparo do ambiente são fatores que diminuem a ansiedade e podem aliviar a dor no parto.
Dentre os métodos não farmacológicos, destacam-se: a massagem; os banhos de aspersão e imersão; a presença contínua do acompanhante, orientação antecipada sobre procedimentos que porventura sejam realizados; liberdade para assumir a posição desejada durante o trabalho de parto; métodos de respiração e relaxamento; musicoterapia; cromoterapia e alimentação apropriada25.
Embora possa haver dor e sofrimento no parto este, é marcado também pelo alívio, alegria e prazer na “expulsão” da criança ao nascer. Há quase sempre um deleite com o nascimento do filho, sendo considerado um momento de plenitude feminina26.
Como profissionais da saúde, é mister fortalecer os vínculos mãe-filho-família, por meio de um cuidado humanizado que não negue à mulher o contato físico com o bebê, tão logo aconteça o nascimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos importante o estudo realizado, pois alcançamos o objetivo proposto e ele nos traz a possibilidade de repensar modelos e práticas de saúde à mulher em sua totalidade como ser humano, sem negar a sua subjetividade.
É necessário restabelecer e garantir à mulher capacidade para enfrentar a dor no parto, instituir medidas que promovam o bem-estar no ambiente de parturição e a implementação eficaz de métodos não farmacológicos para alívio da dor, diminuindo o nível de estresse e ansiedade, colaborando para um parto mais ativo e humanizado.
O parto humanizado deve ser instituído por um melhor atendimento à mulher, respeitando as suas particularidades, individualidades e seus direitos básicos de cidadania. Podemos conseguir isso com a “(des)medicalização” da assistência, com a mudança de atitude dos profissionais de saúde antes as necessidades da mulher e com desenvolvimento de melhor relação terapêutica mulher-enfermeiro(a) obstetra. Esse modelo hospitalocêntrico e biomédico de assistir a parturiente interfere na verdadeira escolha da mulher sobre o seu corpo e o seu tipo de parto. Ela mesma deve estar ciente de todas as implicações dos tipos de parto, para poder assumir o “empowerment” do seu ato natural de parir.
Esperamos que outros estudos sobre a temática possam surgir para a contribuição da assistência à parturiente, tão marginalizada e sofrida em seu momento singular de vida.
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