NOTAS PRÉVIAS
A educação permanente de trabalhadores de enfermagem da área de saúde mental
Cláudia Mara de Melo Tavares1, Flávia Manhanini Vieira1, Aline Campus Abreu1
1Universidade Federal Fluminense
Keywords: Mental health; Psychiatric nursing; Professional training in health.
O plano de reordenação política de recursos humanos no SUS preconiza a educação permanente no trabalho visando alcançar perfis profissionais orientados pelas necessidades da população, em cada realidade regional e em cada nível de complexidade. Os processos de capacitação do pessoal da saúde devem ser estruturados a partir da problematização do processo de trabalho, tendo como objetivos a transformação das práticas profissionais e da organização do trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e o controle social em saúde1.
A estratégia da educação permanente tem como principal desafio na área de saúde mental consolidar a própria reforma psiquiátrica2. Assim sendo, torna-se imperativa a necessidade da equipe de enfermagem superar a histórica fragmentação do saber, partindo para a construção de tecnologias de cuidado que articulem a existência singular do sujeito ao meio no qual convive3, passando atuar numa perspectiva interdisciplinar, e de acordo com os princípios da Reforma Psiquiátrica.
O presente estudo tem como objetivos: analisar o perfil profissional da equipe de enfermagem de saúde mental; mapear a necessidade de educação permanente dos trabalhadores de enfermagem e discutir estratégias de educação permanente com profissionais de enfermagem. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências Médicas da UFF, conforme os termos da Portaria 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa exploratória foi realizada no Município de Niterói – Rio de Janeiro, a partir de entrevistas com os trabalhadores de enfermagem dos serviços públicos de saúde mental. Os dados serão analisados e interpretados à luz da perspectiva teórica da reforma psiquiátrica e dos princípios do SUS.
Verificou-se que 58% dos enfermeiros e 32% dos técnicos não trabalham na psiquiatria por opção profissional. Cerca de 30% dos enfermeiros e 20% dos técnicos estão satisfeitos com o trabalho que realizam. Quase a totalidade dos profissionais gostariam de atuar em uma outra área na enfermagem - ensino, emergência e CTI (31%) e enfermagem do trabalho (14%).Os trabalhadores entrevistados atuam na psiquiatria de 1 a 10 anos e informam ter dúvidas de como agir com as pessoas portadoras de sofrimento psíquico. Entre as dificuldades apontadas destacam-se: lidar com pacientes agressivos; agir na crise; lidar com questões relacionadas a sexualidade; interagir com o paciente, a família e a equipe multiprofissional. 50% dos trabalhadores passou por algum mecanismo de capacitação nos últimos 5 anos, sendo a maioria realizado no âmbito do próprio serviço. Como estratégias de educação permanente são apontadas oficinas, grupos de estudo e cursos.
Sugerindo-se que as atividades educativas sejam desenvolvidas em conjunto com os profissionais de enfermagem, na modalidade presencial ou a distância. Cerca de 80% dos trabalhadores têm acesso a Internet, dispondo em média de duas horas diárias para estudo. Entre os temas de interesse para capacitação, destacam-se: aspectos clínicos do cuidado de enfermagem, proposta do SUS para saúde mental, promoção da saúde mental, comunicação terapêutica, emergência psiquiátrica, teorias de enfermagem, psicofarmacologia e trabalho em equipe.
Com base nos dados analisados até o momento, podemos considerar que a educação permanente dos trabalhadores de enfermagem da área de saúde mental exige processos educativos mais amplos e problematizadores que visem o desenvolvimento de conhecimentos de caráter interdisciplinar. O trabalho colaborativa em equipe interdisciplinar é ainda um desafio para a equipe de enfermagem. As demandas globais das pessoas portadoras de sofrimento psíquico não constitui o foco de atenção da equipe de enfermagem. Tanto nos serviços tradicionais de atendimento quanto nos novos dispositivos assistenciais, o enfermeiro procura reafirmar seu papel profissional como garantia da autonomia profissional. A equipe de enfermagem demostrou interesse por estratégias de educação permanente que favoreçam a tomada de decisão no processo de cuidar em saúde mental e que contribuam para o seu desenvolvimento profissional.
REFERÊNCIA
1. Ministério da Saúde (Brasil). Política de educação e desenvolvimento para o SUS: caminhos para a educação permanente em saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2003.
2. Silva JPV, Tavares CMM. Integralidade: dispositivo para a formação crítica de profissionais de saúde. Trabalho, Educação e Saúde 2004 Set; 2 (2):271-285.
3. Santos I, Figueiredo N, Sobral V, Tavares C. Caring: building na new history of sensibility. Online Braz J. Nurs [ online ] 2002 Dec;1(3) Available com: www.uff.br/nepae/objn103santosietal.htm
Recebido: 08/08/2005
Aprovado: 18/08/2005