ARTIGOS DE REVISÃO
Teoria de enfermagem de Jean Watson articulada com a sexualidade humana
Ednaldo Cavalcante de Araújo1, Marga Simon Coler1, Maria Miriam Lima da Nóbrega2
1Universidade Federal de Pernambuco
2Universidade Federal da Paraíba
RESUMO
Este estudo apresenta uma síntese da Teoria da Enfermagem de Jean Watson e a sua articulação com a sexualidade humana com o propósito de promover contribuições na área da construção do conhecimento de Enfermagem e da sexualidade humana, procurando incentivar pesquisadores a desenvolver novos estudos com esta temática. Jean Watson descreve sua teoria como fenomenológica existencial e espiritual e afirma que o propósito dela está no relato de alguns dos conceitos filosóficos e problemas empíricos que enfrentam a Enfermagem e tem a esperança de que seu trabalho possa auxiliar outros enfermeiros na investigação e no esclarecimento do processo do cuidado humano, como também direcioná-los a manter o conceito de pessoa na ciência da Enfermagem. À guisa de conclusão afirma-se que o conhecimento científico básico e o conhecimento humanístico são essenciais para a ciência e para a arte da Enfermagem. A análise fenomenológica de experiências humanas na saúde e na doença proverá os enfermeiros com dados necessários para entender a condição humana e os fatores curativos elaborados por Jean Watson.
Descritores: Teoria de enfermagem; Cuidado; Sexualidade; Conhecimento.
INTRODUÇÃO
Visão genérica da Teoria da Enfermagem de Jean Watson
De acordo com Watson(1) sua teoria classificada como fenomenológica existencial e espiritual tem o propósito de relatar alguns dos conceitos filosóficos e problemas empíricos que enfrentam a Enfermagem almejando que possa auxiliar mais enfermeiros na busca de investigações e esclarecimentos do processo do cuidado humano, direcionando-os a manter o conceito de pessoa na ciência da Enfermagem.
Os conceitos essenciais e específicos para o modelo teórico de Watson são o cuidado transpessoal, o ego, o campo fenomenológico e a ocasião do cuidado atual. Para a teórica, o cuidado é definido como uma ciência desenvolvida a partir de uma filosofia humanista, a qual é o enfoque da Enfermagem(1).
Para que os enfermeiros possam desenvolver filosofias e sistemas de valores humanistas, se faz necessário apresentar embasamento sólido em ciências humanas, as quais lhes oferecerão uma consistente fundamentação à ciência do cuidado. Desta maneira, os enfermeiros podem ampliar visões e perspectivas de mundo ampliadas, passando a desenvolver habilidades na formação de pensamentos críticos, os quais são necessários à ciência do cuidado, que apresenta seu foco na prevenção e na promoção da saúde e não na cura da doença(1).
Enquanto formulava suas idéias Watson1 começava a estruturar um arranjo de crenças e conceitos e a organizar um corpo de conhecimentos e princípios fundamentais do comportamento humano apresentado na saúde e na doença. Mediante esse processo, foram formulados dez fatores curativos na Enfermagem, considerados como centrais para o processo do cuidado que o enfermeiro utiliza-os com vistas a ajudar o cliente a conservar e alcançar a sua saúde, ou mesmo, obter uma morte pacífica.
Estes fatores básicos abaixo formulados compõem uma estrutura básica para se estudar e entender a Enfermagem como a ciência do cuidado:
1) A formação de um sistema de valores humanista-altruista
2) A instilação de fé-esperança
3) O cultivo da sensibilidade ao próprio ego e ao das demais pessoas
4) O desenvolvimento de uma relação de ajuda-confiança
5) A promoção e a aceitação da expressão de sentimentos positivos e negativos
6) O uso sistemático do método científico de solução de problemas para a tomada de decisão
7) A promoção do ensino-aprendizagem interpessoal
8) A previsão de um ambiente de apoio, proteção e/ou neutralização mental, física, sócio-cultural e espiritual
9) Assistência com a gratificação das necessidades humanas
10) A permissão de forças existenciais fenomenológicas.
A assistência com a gratificação das necessidades humanas envolve subpartes de uma grande quantidade de informações. As necessidades básicas podem ser resolutamente debatidas sob uma perspectiva psicossomática e psicofisiológica. Elas são aceitas numa perspectiva em que poderá ser mais útil no entendimento dos aspectos primários e secundários de cada necessidade. Uma visão psicofisiológica está também coerente com estudos de contemporaneidade dos efeitos de estresse no corpo. O significado dinâmico e simbólico de cuidado de necessidades humanas são de uma perspectiva interacional e de cuidado direto de Enfermagem(1).
As necessidades humanas podem ser classificadas como necessidades de ordem inferior e necessidades de ordem superior, conforme especificado no quadro abaixo.
Quadro 1: Ordem de necessidades humanas
1. Necessidades de ordem inferior (necessidades biofísicas) - Necessidades de sobrevivência.
· Necessidade de alimento e líquido
· Necessidade de eliminação
· Necessidade de ventilação
2. Necessidades de ordem inferior (necessidades psicofísicas) - Necessidades funcionais.
· Necessidade de atividade-inatividade
· Necessidade de sexualidade
3. Necessidades de ordem superior (necessidades psicossociais) - Necessidades integradoras.
· Necessidade de realização
· Necessidade de associação
4. Necessidade de ordem superior (necessidade intrapessoal-interpessoal) - Necessidade de busca de crescimento
· Necessidade de auto-realização
Fonte: Watson1
Teoria da Enfermagem de Jean Watson articulada com a Sexualidade Humana
Segundo Watson1, a necessidade de sexualidade envolve um completo desenvolvimento da personalidade, incluindo a identificação sexual, o autocuidado, a auto-estima e os relatados padrões de comportamento humano. Ela não pode ser limitada ao intercurso sexual, pois envolve satisfação com um corpo, com um sexo e com atitudes boas em direção ao seu próprio sexo e ao desempenho sexual.
A sexualidade refere-se a tudo que diz respeito a um homem e a uma mulher, enquanto que o sexo refere-se ao sexo genital. A necessidade sexual é influenciada primariamente pela biologia humana, mas ela é controlada principalmente pelo mecanismo psicológico e sócio-cultural do indivíduo(1,3).
Watson1 afirma que a necessidade de sexualidade é biológica por natureza e começa desde a concepção; o comportamento humano é adquirido e não inato, ao passo que o comportamento sexual é mais aprendido do que instintivo. A união precoce entre mãe e filho, num verdadeiro relacionamento, é um princípio básico para o desenvolvimento psicológico da necessidade de sexualidade, a qual é demonstrada precocemente, quando o bebê suga, morde e se alimenta como também na segurança e no contato diário com outras pessoas.
Erickson, apud Watson(1), afirma que o estabelecimento precoce da sexualidade é manisfestado no conflito psicológico iniciativa versus culpa. Durante o estágio de desenvolvimento da adolescência, o adolescente está lidando com o complexo desenvolvimento da sexualidade e com outras mudanças físicas e psicológicas. Novas relações entre os sexos acompanham estas mudanças. As necessidades, que os adolescentes têm, de compreender estas mudanças ocorridas em seus corpos se fazem acompanhar da necessidade de obter, também, informações sobre a concepção. A adolescência é também uma época de conflitos, em relação à busca de uma identidade, de um papel sexual, de um padrão de comportamento e da tomada de futuras decisões(3).
A completa atualização da necessidade de sexualidade e de maturidade biológica e psicológica termina durante o desenvolvimento do estágio adulto jovem(3). Este é caracterizado como um conflito que se estabelece entre intimidade versussolidão, estando relacionado com a capacidade para ingressar num significativo relacionamento interpessoal, desenvolvendo-se uma idéia sobre si próprio, como esposo e pai ou como esposa e mãe(1).
Os pais, freqüentemente, trazem à mente um conflito relacionado com a busca de solução para os problemas da sexualidade. Erickson, apud Watson1, faz menção das três diferentes reconciliações associadas com a necessidade de sexualidade:
1) A reconciliação de orgasmo genital e a necessidade sexual extra-genital
2) A reconciliação de amor e de sexualidade
3) A reconciliação de sexo, de procriação e de padrão de trabalho produtivo
Para Watson1, as atitudes sócio-culturais em relação à abertura no comportamento para o exercício da sexualidade, têm uma variedade de formas: ele pode ser encorajado, permitido, controlado, ignorado, comandado ou reprimido, tornando-se objeto de preocupação quando é violado ou está causando conflito com regras sociais estabelecidas ou com expectativas de uma cultura e de seus valores.
De acordo com Watson(1), o enfermeiro é comumente o profissional da saúde que mais se aproxima de outras pessoas, durante o estresse, a doença, e o bem-estar. A gratificação da necessidade de sexualidade é básica para a integridade da pessoa, devendo o enfermeiro utilizar-se de uma abordagem holística, ao assistir o cliente com a gratificação desta necessidade.
QUADRO 2 - Modelo esquemático da utilização da Teoria da Enfermagem de Jean Watson e a sexualidade humana
METODOLOGIA
Este estudo se apresenta como uma revisão e síntese da literatura sobre a Teoria de Enfermagem de Jean Watson objetivando mostrar como a sexualidade humana é enfocada por essa teórica, configurando-se portanto, em um estudo de revisão de literatura. Para o desenvolvimento deste utilizou-se de apenas três referências, visto que a fonte de pesquisa foi primária. Entretanto, são citadas duas referências que servirão de leitura complementar ao que está sendo apresentado neste artigo. Com isto espera-se promover contribuições na área da construção do conhecimento de Enfermagem e da sexualidade humana, procurando incentivar pesquisadores a desenvolver novos estudos com esta temática, assim como o fez Araújo(3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento científico básico e o conhecimento humanístico são essenciais para a ciência e para a arte da Enfermagem. A análise fenomenológica de experiências humanas na saúde e na doença proverá os enfermeiros com dados necessários para entender a condição humana e os fatores curativos elaborados por Jean Watson.
Este estudo provê direções na tomada de decisões de enfermeiros pesquisadores em viabilizar mais estudos com a utilização desta teoria no provimento de orientação sobre temas relacionados com a sexualidade humana com o objetivo de promover o bem-estar no exercício da sexualidade com base nos direitos humanos e nos relacionamentos de igualdade e de respeito mútuo.
REFERÊNCIAS
1. Watson J. Nursing: human science and human care; a theory of nursing. Norwalk: Appleton-Century-Crofts; 1985.
2. Hoogan R. Human sexuality; a nursing perspective. 2.ed. Appleton-Century Crofts: Connecticut; 1985.
3. Araújo EC. Aspectos biopsicossociais na sexualidade dos adolescentes: assistência de enfermagem [ dissertação ]. João Pessoa (PB): Universidade Federal da Paraíba; 1996. 159f.
4. Cruz ICF da. The implementation of the nursing process methodology: problems and perspectives. Online Braz J Nurs [ internet ] 2002 [ cited Jan 2002 ] 1(1). Available from: www.uff.br/nepae/objn101cruz.htm
5. Garcia TR, Nóbrega MML da, Carvalho EC. Nursing process: application to the professional practice. Online Brazilian Journal of Nursing (OBJN – ISSN 1676-4285) v. 3, n. 2, 2004 [ Online ] Available at: www.uff.br/nepae/objn302garciaetal.htm
Recebido: 28/03/2005
Revisado: 26/06/2005
Aprovado: 28/06/2005