ARTIGOS ORIGINAIS

 

Diretório acadêmico Aurora de Afonso Costa: fragmentos da história


Cristina Lavoyer Escudeiro1, Linconl Agudo Oliveira Benito2, Gustavo Alberto Suarez das Chagas Filho3,4

1Universidade Federal Fluminense
2SENAC
3Universidade Veiga de Almeida
4Universidade Estácio de Sá

 


RESUMO
Estudo histórico-social sobre representação política estudantil na formação profissional objetivando captar a motivação de acadêmicos de enfermagem para a representação política; contribuições à vida profissional e os marcos político-históricos que embasam a atuação política. Estudo descritivo realizado na Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa com acadêmicos que participaram do diretório acadêmico no período de 1998-2004, utilizou-se da história oral temática como metodologia de pesquisa. A inserção no movimento estudantil baseia-se nas aspirações por transformações das condições educacionais e de representação política. Militância marcada por dificuldades - como falta de apoio e participação institucional e de alunos do próprio curso nas questões de interesse coletivo; participações e contribuições para a formação pessoal e profissional. Política estudantil abarca filosofia, luta pelos direitos estudantis, é tornar-se cidadão crítico-reflexivo-transformador. Atuar politicamente está ancorado na visão de mundo, com influências de esquerda, socialista e formação familiar; é agir com emoção, razão e sensibilidade.
Descritores: História da Enfermagem; Estudantes; Política.



INTRODUÇÃO

A representação estudantil, como movimento realizado pelos integrantes de uma instituição de ensino, possui como metas principais a preservação do direito ao acesso igualitário à educação, à manutenção desta condição indispensável de sobrevivência e ainda, à preservação dos organismos e sistemas públicos de ensino.

Estas mobilizações que visam garantir os interesses políticos das agremiações estudantis, instituições de ensino e da sociedade, configuram-se enquanto uma representação política, por haver envolvido em suas relações a presença do debate político cerceado por negociações entre as partes interessadas na busca incessante e vital pela melhoria da qualidade de vida para posterior transformação social.

Por entender que as expressões representação estudantil e representação política perseveram e exteriorizam as capacidades humanas como forma de diminuição do padecimento da criatura humana, com vistas a melhoria da qualidade de vida na sociedade, utilizaremos doravante a sentença representação política para designar este processo.

Neste sentido, a representação política é percebida como manifestação de cunho político e que expressa os desejos, as vontades e as aspirações iminentes dos pertencentes à sociedade. Assim, a representação política possibilita uma forma de facilitar a aquisição de determinado bem, o qual passa a ser útil para a coletividade.

Representação política poderia ser definida como “um sistema institucionalizado de responsabilidade política, realizada através da designação eleitoral livre de certos organismos políticos fundamentais (o mais das vezes, os parlamentos)”(1:11), bem como, a relação existente entre o cidadão e o governante, na qual a ação do governante está de acordo com a vontade do cidadão(2).

A representação política adquire propriedade e se desenvolve com mais facilidade, pelo interesse, respeito e perseverança com o qual seus pertencentes desenvolvem suas atividades laborativas, por meio de sua participação, como forma de cumplicidade e coligação com este processo.

A participação política é uma conjugação da ação dos indivíduos e grupos humanos, dirigindo-as a um determinado fim comum(3). Esta união de interesses comuns, direcionada pelo espírito político-ativista resulta em ganhos que beneficiam a sociedade, permitindo o seu crescimento progressivo por meio da constante e verdadeira militância. Neste sentido, a política se constitui como prática social que permitirá a diminuição e posterior eliminação das angústias numa sociedade.

O ser humano vive e adquire a manutenção para sua existência na sociedade, e é nela que ele recebe as condições que favorecerão sua vivência como membro ativo de uma sociedade organizada. Nesta sociedade bens inalienáveis como educação, saúde, segurança, justiça, acesso ao trabalho, os quais, auxiliados pelas políticas públicas e pela participação dos indivíduos que a compõem, propiciará um ganho quantitativo e qualitativo a todos na estrutura social.

Um fato que demonstra a ação política, com vistas à defesa dos interesses da sociedade e da diminuição do hiato entre os governantes e governados no que se refere às práticas de saúde, propiciou a fundação da Escola de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro no ano de 1944 na cidade de Niterói, antiga capital do Estado do Rio de Janeiro.

Esta escola de formação de enfermeiros, reconhecida atualmente como Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC), que em 2004 completou seu sexagésimo aniversário de fundação, configura-se como empreendimento político e de inquestionável utilidade pública, prestando inclusive seus serviços, e profissionais formados, a outras unidades federativas da nação brasileira.

A Escola continua com seus objetivos iniciais de excelência à educação do enfermeiro, pesquisa e prática, bem como de compromisso social(4). Apesar da valorosa contribuição da EEAAC para o desenvolvimento e crescimento da enfermagem brasileira, verifica-se a existência de poucos trabalhos acadêmicos que busquem resgatar a sua própria história.

Desconhecendo debates e discussões dos graduandos de enfermagem da referida instituição de ensino, sobre a trajetória da militância política estudantil, surgiu a idéia de desenvolver um estudo sobre as representações políticas destes atores sociais no âmbito da universidade, e perceber quais as contribuições que a militância neste espaço de formação disponibiliza aos seus associados enquanto futuros enfermeiros.

Com relação a qualidade formal e política do enfermeiro, tanto a formação, a qual é marcada pelo modelo biomédico, por traços fortes de militarismo, subordinação histórica e religiosidade, quanto sua prática, inserida acriticamente nas políticas sociais para legitimar discursos hegemônicos, contribuem para a sua fragilidade política(5).

O presente estudo trata da representação política estudantil na formação profissional e objetiva descrever os motivos que levam acadêmicos de enfermagem a ingressarem no diretório acadêmico como representantes políticos; identificar as contribuições para a vida profissional e pessoal a partir da vivência política no espaço de representação estudantil do diretório acadêmico e levantar em que marcos políticos e históricos os representantes estudantis do diretório acadêmico se apóiam para atuarem politicamente.

A participação no Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa (DAAAC) tende a proporcionar contribuições políticas aos seus integrantes no decurso de suas atividades de militância e ainda, durante a sua formação profissional, contribuindo deste modo com uma maior participação dos estudantes, e traçar fragmentos de sua história na constante e efetiva militância política ao longo de sua existência. 

Este estudo contribuirá como parte do acervo histórico da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, uma vez que resgata fragmentos da memória do Diretório Acadêmico como espaço de militância política de seus associados, considerando o período de 1998 a 2004.

Sua importância funda-se na instrumentalização de informações históricas aos graduandos de enfermagem, docentes e demais interessados nas questões políticas emergentes nesta instituição educacional, e que necessitam de subsídios para suas reflexões e ações cotidianas.

Os órgãos de representação estudantil são territórios de representação/mobilização política de seus associados e nas questões emergentes que necessitam de resoluções às suas indagações são fundamentais os debates e participação coletiva. Configura-se ainda, como importante iniciativa na legitimação do valor imprescritível do Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, e ainda, como espaço de estímulo e desenvolvimento das potencialidades sociais, éticas e políticas de seus integrantes.

A participação política dos acadêmicos de enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa deve ser incentivada no sentido de preparar cidadãos empenhados no processo de construção, mobilização e transformação da realidade social.


METODOLOGIA

O estudo do tipo descritivo, apresenta uma interface histórico-social e utilizou-se da história oral como metodologia de pesquisa.

A história oral tem influenciado no “comportamento das disciplinas universitárias e atuado diretamente na conduta de museus e arquivos do mundo inteiro”, pois se torna inevitável à consideração dos “novos usos da palavra como documento de registros e análise”(6:11). Ela é utilizada para elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à vida social de pessoas, e é sempre uma “história do tempo presente e é reconhecida como história viva”(6:17).

O cenário do estudo foi a Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, tendo como sujeitos oito acadêmicos de enfermagem que atuaram no Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa/UFF como membros efetivos no período de 1998 a 2004.

O estudo teve como fonte primária de dados os depoimentos dos sujeitos, os quais seguiram um roteiro específico de perguntas e foram adquiridos a partir de entrevistas semi-estruturadas, as quais foram gravadas em fitas K7 com autorização prévia e utilização de nomes fictícios (a identificação dos acadêmicos que participaram como sujeitos sociais do estudo segue por nomes de pensadores da filosofia política) para preservar a identificação dos sujeitos.

A modalidade de história oral desenvolvida no estudo foi a história oral temática, pois, “não só admite o uso do questionário mas, mais do que isso, este torna-se peça fundamental para a aquisição dos detalhes procurados”(6:51). Esta modalidade da história oral parte de um assunto específico e preestabelecido e se compromete com o esclarecimento ou opinião do sujeito da pesquisa sobre algum evento definido.

As fontes secundárias, utilizadas para construção do contexto histórico-social dos movimentos estudantis, vida associativa e da criação da Escola de Enfermagem e do Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa/UFF, foram: documentos oficiais como decretos, leis, atas; matérias de jornais das décadas de 40 e 50; artigos científicos; teses; livros e periódicos.

Para melhor compreensão, e na busca de desvendar os fenômenos existentes no material produzido a partir das fontes primárias, após identificar as unidades de registro, procedeu-se à categorização dos dados.

De acordo com os aspectos éticos, esta pesquisa seguiu os pré-requisitos estipulados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 196 de 16 de outubro de 1996, que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos, respeitando quatro referenciais da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Portanto, utilizou-se o consentimento livre e esclarecido que autorizou a participação voluntária dos entrevistados no estudo. 


INSERÇÃO NO MOVIMENTO ESTUDANTIL: MOTIVAÇÃO, EXPECTATIVAS E IDEAIS
O acesso à militância estudantil, anteriormente ao ensino universitário, é timidamente referendado pelos sujeitos sociais. Em alguns relatos, a participação neste movimento, configura-se de forma descontínua e com pouco empenho pessoal. Porém para outros acadêmicos o início do interesse e participação nas discussões referentes à política educacional e demais questões de sua instituição de ensino, começou durante a formação no ensino médio.

A concepção do ingresso e a permanência no referido órgão de representação político-estudantil, está ligada a necessidade de defesa aos interesses coletivos e no auxílio as questões emergentes, bem como na promoção de mudanças.

Estimulados por suas inquietações e anseios, o processo de mobilização dos graduandos é fortalecido, tendo como práticas laborativas a priorização dos problemas encontrados, além das dificuldades percebidas e vivenciadas, potencializam as medidas que visam as discussões reflexivas para posterior início do processo de resolutivas.

As expectativas e as motivações dos acadêmicos ao entrarem no movimento estudantil mediante a participação efetiva no Diretório Acadêmico são de múltiplas ordens. Entretanto, promover mudanças, aproximação entre os demais estudantes do curso, dar visibilidade à entidade representativa estudantil, promover uma boa recepção ao que inicia sua trajetória universitária, são propostas comuns no discurso dos sujeitos.

Várias são as expectativas no ingresso deste grupo estudantil, entre eles o processo de fortalecimento da integração dos graduandos em enfermagem, pertencentes a todos os nove períodos que compõe o curso de graduação em enfermagem da Universidade Federal Fluminense, desta maneira são reforçados laços de amizade, coleguismo e sentimento gregário com seus pares sociais.

Tendo consciência que mudanças de comportamento necessitam do empenho e dedicação dos atores sociais envolvidos neste processo de representação política, conscientes modificações estruturais e regimentais se fazem necessárias como forma de facilitar o seu contínuo progresso.

Para que o corpo de governo estudantil seja realmente eficiente em suas proposições, com vistas a realizações coletivas, é de vital importância a participação plena de todos os integrantes estudantis deste instituto de formação em enfermagem, respeitando com igualdade as condições individuais de todos os associados.

De comum acordo com estas práticas, os integrantes e militantes desta causa irão fortalecer suas ações coletivas, aprimorando suas atuações políticas no cotidiano de sua existência estudantil, mas também após a sua formação como cidadão e profissional, terá uma maior facilidade em conhecer plenamente seus direitos e deveres na sociedade, permitindo assim, maior autonomia em seus empenhos.

Neste sentido, a necessidade e importância da representação política-estudantil emerge nos discursos dos sujeitos, fortalecendo a necessidade contínua desta prática, como meio de se estimular e estruturar atos concretos e que contribuam para a manutenção e preservação dos interesses comuns numa coletividade, promovendo gradativamente o interesse por esta temática.

No entendimento dos sujeitos sociais, a representação política-estudantil, como prática transformadora, deve ser balizada por princípios inerentes e vitais a sua constituição, necessitando para tal, liberdade e autonomia para sua execução por fluir com mais facilidade. Assim, compreendendo que, decisões e posicionamentos inerentes a esta prática social, não podem e nem devem ser retirados, dependentes e/ou a deriva de interesses desiguais à concórdia do corpo associativo de estudantes universitários.

Este posicionamento se embaraça na questão financeira do órgão de representação política-estudantil, pois, é sabido que esta instituição se caracteriza como sociedade civil sem fins lucrativos e, apesar da mesma estar sediada nas instalações de uma instituição pública de ensino, evidentemente livre de despesas com bens de consumo, disponibilizados por empresas prestadoras de serviços como água, energia elétrica entre outras, inviabilizam sua total autonomia, por não possuir receitas financeiras que possibilitem uma plena liberdade para sua ações.

Atuar no movimento estudantil é uma tarefa por vezes pesarosa. Por um lado há toda uma motivação e expectativas que mobilizam o estudante para lutar por causas políticas e sociais ligadas ao ensino e a profissão; e por outro há os ideais a serem conquistados. Porém, como um dos sujeitos bem coloca “nem tudo são flores”, as expectativas em parte foram atendidas, outras não, causando frustrações e desencanto.


PARTICIPAÇÃO E REPRESENTAÇÃO ESTUDANTIL: DIFICULDADES DE ATUAÇÃO, REALIZAÇÕES, PARTICIPAÇÕES E CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL
O falta de tempo para se dedicar às mobilizações e representações estudantis foi a maior dificuldade apontada pelos atores sociais do estudo à participação dos estudantes.

O curso de graduação em enfermagem exige dedicação integral e exclusiva, sendo grande o quantitativo de atividades a serem realizadas no transcurso de sua formação. Somados a esta afirmação, a participação do graduando em monitorias, grupos de pesquisas, iniciações científicas, bolsa treinamento, entre outras atividades universitárias de pesquisa e extensão, dificulta sua permanência em movimentos de representação estudantil, tendo muitas vezes que eleger em que frente irá empenhar suas capacidades.

Um fato que exerce influência nesta escolha é o fator financeiro. É fato que uma grande maioria dos graduandos, não somente do curso de enfermagem mas também em outros cursos, possui uma situação financeira não muito favorável, dificultando o envolvimento em espaços que exigem dedicação, trabalho e sacrifícios, sem no entanto, reverter benefícios materiais que auxiliem sua manutenção como estudante. Esta difícil situação mostra-se mais como um mecanismo que seleciona e muito as pessoas que por ventura se interessariam por esta militância política.

Outro fato evidenciado nas falas dos sujeitos da pesquisa está ligado a postura adotada por parte de alguns integrantes do corpo docente, na reduzida receptividade e aceitação desta prática de representação político-estudantil. O marcante desacordo e aceitação docente dificulta o fluxo das relações intra-acadêmicas, fragmentando, quando não eliminando o desejo em participação deste processo de representação estudantil. Ser um aluno crítico, reflexivo, atuante e defensor das causas estudantis, como por exemplo, a qualidade do ensino e das condições de formação, é condição para um olhar atravessado por alguns docentes.

Ficaram marcantes nos discursos dos sujeitos as relações de poder, a “perseguição”, ameaças, intimidações e falta de liberdade de atuação. A formação foi comparada ao modelo nightingaleano do século XIX, no qual o rigor e a disciplina são marcas históricas. Estes depoimentos levam a crer que a atividade de militância político-representativa de estudantes universitários, com vistas à melhoria das condições de educação nas unidades de ensino e a defesa da universidade pública, como bem público e centro capacitador de massa crítica e reflexiva, ainda não é plenamente vista e reconhecida como atividade de formação política e de valor incomensurável à sociedade.

As frustrações advindas das dificuldades encontradas para atuar politicamente levam os acadêmicos à duras críticas, até mesmo à própria concepção de formar profissionais críticos, reflexivos, com comportamentos e atitudes voltadas para o bem coletivo.

Entendendo que o docente possui o papel de extrema importância no encaminhamento, bem como, condução consciente de seus alunos, para a correta jornada, na formação de cidadãos em pleno gozo de suas aptidões, entendemos que este profissional não pode e nem deve alienar-se desta tarefa.

Em artigo que versa sobre o preparo nas escolas de enfermagem para a vida associativa, a autora declara que nem um dos esforços com vista à concretização deste fim, terá validade se o estudante não testemunha através do entusiasmo dos membros docentes, o valor da vida associativa que deverá permanecer intrínseca na própria estrutura da escola. É da participação desses membros e da capacidade do grupo docente se organizar para os objetivos aqui defendidos, que depende em grande parte uma visão mais ampla do problema profissional pelo estudante(7).

Outro problema grave expressado nos discursos configura-se pela multiplicidade de opiniões, resistentes aos debates emergentes e discussões realizadas pelos graduandos participantes do corpo associativo de política representativa. Todavia, a unidade de opiniões não é alcançada, permitindo o fracionamento e enfraquecimento, e até rivalidades entre o corpo representativo estudantil.

As realizações das gestões do Diretório Acadêmico, aqui subentendido a partir da participação dos sujeitos do estudo, são de várias ordens, desde se fazendo representar internamente e extra-muros, como também na conscientização dos demais alunos para as questões políticas estudantis e da profissão.

Mas nem só de dificuldades e frustrações vivem os representantes políticos ao ingressarem nos movimentos estudantis, há satisfação pelo dever cumprido, ganhos para sua formação como cidadão e futuro profissional. Sobre as contribuições que a militância representativa estudantil proporcionou para a formação profissional, a maioria dos sujeitos sociais concebe um ganho substancial nos acabamentos de sua formação, aperfeiçoando o discernimento crítico de questões que exigem decisões. 

No decorrer de sua formação cotidiana, e em suas atuações no palco onde se descortinam as mobilizações e discussões políticas, as capacidades são postas a exame, fortalecendo as decisões e posicionamentos. É neste espaço que são iniciadas sinceras amizades e fortificadas parcerias que prevalecerão, inclusive para a vida profissional, possibilitando alianças e coligações necessárias para avanço do corpo associativo.

O compartilhamento de conhecimentos e informações permite o acesso a subsídios de outras culturas e de outras realidades pelo ingresso ao diretório acadêmico e posterior movimento estudantil extramuros universitário.

Esta participação credita aos seus perseverantes, experiências que possivelmente não possuiriam o acesso somente pelos bancos escolares universitários, possibilitando o entendimento e possibilidade de realização do ofício de sua categoria profissional eleita, como prática científica a serviço da criatura humana. O acesso a estas possibilidades instrutivas possibilita a diferenciação frente a outros futuros profissionais menos afortunados.

Para uma atuação efetiva dos representantes estudantis urge uma participação maior das instituições formadoras, para que se possa de fato preparar o futuro profissional com base nos princípios norteadores da nova proposta curricular: cidadão crítico e reflexivo em condições de propor e efetuar transformações da prática profissional e realidade social.


POLÍTICA ESTUDANTIL: CONCEPÇÕES, BASES POLÍTICAS E HISTÓRICAS QUE ORIENTAM OS REPRESENTANTES ESTUDANTIS
O conceito de política estudantil é expressado para designar um processo realizado por um corpo de estudantes com vistas à aquisição de benefícios, melhorias e resoluções em temas de seu interesse. É mais do que uma luta para defender os direitos estudantis na Universidade como fora dela; é promover cidadania; é educação; é conscientização; é filosofia.

É facilmente perceptível que a militância política, na busca incessante pelas aspirações de seus pertencentes, irá melhor preparar para o mais completo exercício de suas potencialidades no “seio” da sociedade, exercendo de maneira plena suas capacidades em sua existência política, numa sociedade organizada.

A não aceitação de influências externas ao diretório acadêmico e ao meio universitário, nos revela o cuidado à incorruptibilidade que os representantes estudantis necessitam ter, nos fórum onde são decididos os rumos a serem tomados e que influenciaram os destinos de muitos.

Em se tratando da escolha dos membros efetivos desta sociedade de defesa dos interesses político-estudantis, um dos sujeitos coloca como condição indispensável à ocupação e representação de tamanha responsabilidade no processo eleitoral, o voto direto, como forma democrática de escolha dos representantes políticos de um conclave estudantil de defesa dos interesses.

Por ser um conceito amplo, de difícil definição, o termo política muitas vezes não é bem compreendido, dificultando inclusive a sua utilização. Neste sentido sentimos a necessidade de adquirir alguns subsídios que facilitem o entendimento deste vocábulo.

O termo política, ao ponderar-se sobre suas significações, afirma-se que nesse nome, foram designadas várias coisas, mais precisamente a doutrina do direito e da moral, a teoria do Estado, a arte ou a ciência do governo ou ainda, o estudo dos comportamentos intersubjetivos(8).

Apesar da multiplicidade de facetas a que se aplica a palavra “política”, uma delas goza de indiscutível unanimidade: a referência ao poder político, à esfera da política institucional(9). Outros autores consideram que a palavra política deriva de tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos e ao governo da cidade, aos negócios públicos (10).

De posse destes conceitos e refletindo sobre as acepções da palavra política, melhor alcançamos o entendimento de um dos sujeitos do estudo em suas afirmações, enxergando nesta ação progressiva a possibilidade, por meio das manifestações associativas e das mobilizações de um grupo representativo, de obtenção de valiosos ganhos sociais. Entendendo que a política é a força motriz que permite o acesso, o desenvolvimento e o progresso no “complexo mecanismo” denominado sociedade, torna-se de vital importância o desenvolvimento de ações em prol da educação, como direito inalienável assegurado pela Carta Magna Brasileira, em defesa contra o sucateamento dos aparelhos de ensino, pesquisa e extensão de nossa nação.

A coesão de forças, possível por conta de movimentos associativos de representação política, permite a superação dos obstáculos normalmente encontrados no transcorrer e na idealização destas atividades tão necessárias, permitirá o desenvolvimento e o progresso do conjunto social, promovendo verdadeiramente a transformação social.

Com relação às bases históricas e políticas que norteiam a atuação dos representantes estudantis no Diretório Acadêmico, percebemos um reduzido conhecimento, por parte de alguns sujeitos sociais, da importância da utilização de subsídios histórico-políticos, que contribuíssem para o melhor desenvolvimento das atividades de representação político-estudantil no âmbito universitário.

Alguns dos entrevistados afirmam não terem utilizado fundamentos e bases históricas e políticas no labor deste fim a ser perseguido. A formação para a atuação política vem da cultura familiar, de concepções pessoais, da visão de mundo de cada um.

A presença da expressão “ideais comunistas”, como base política e histórica na atuação representativa dos discentes no Diretório Acadêmico, e após mencionar emoção, nos surpreendeu durante leitura e análise deste discurso. Assim, recorremos a alguns teóricos, como forma de permitir maior facilidades em seu entendimento.

O comunismo é a ideologia política que tem como programa o Manifesto do Partido Comunista publicado por Marx e Engels em 1847, e desenvolvido em suas obras, bem como de Lênin e Stálin(8).

O comunismo representa desta maneira, a todo regime político, bem como, teoria política fundada na colocação em comum dos bens ou que absorve os indivíduos na coletividade (10).

Seus pontos fundamentais baseiam-se, a saber, que a personalidade humana depende da sociedade historicamente determinada a que pertence, e nada é fora e independente da própria sociedade; a estrutura de uma sociedade historicamente determinada depende das relações de produção e de trabalho próprias dessa sociedade, que determinam todas as suas manifestações (moralidade, religião, filosofia e etc); a luta de classes tem um caráter permanente e necessária em toda e qualquer sociedade capitalista; a passagem do capitalismo para o socialismo(8).

Diante do exposto, entendemos que a referida expressão demonstra o entendimento e o desejo contido na resposta do ator social, participante deste estudo e construtor da história neste espaço sócio-político de representação, referindo sua simpatia a esse sistema de governo, o que aponta, conforme suas crenças, para um movimento, no qual venham a ser priorizadas as relações sociais e a busca incessante pela mudança de comportamento.

O cuidado em não buscar em outras experiências e culturas, ou ainda, a dificuldade em acessar outras doutrinas históricas e políticas, que fundamentem, auxiliem e justifiquem suas atuações perante o diretório acadêmico, são encontradas nas respostas de alguns participantes do estudo, entendendo que esta atividade de representação político-estudantil deve ser realizada de forma natural e sem interferências, “florescendo” em seus militantes de forma comum, com a ausência de exigências e ações desnecessárias.

As relações estabelecidas com ex-estudantes, atualmente como militantes e líderes dos conselhos profissionais e órgãos de formação estudantil, podem contribuir para um maior conhecimento e engajamento nas causas comuns ao movimento participativo. Entretanto, estas referências, “exteriores aos muros universitários”, não permitem a efetiva construção e recuperação da memória do aparelho de representação político-estudantil de enfermagem na Universidade Federal Fluminense.

Atualmente, o movimento em defesa dos ideais político-educacionais, segundo entendimento de um dos entrevistados, é guiado por fundamentos da esquerda, tanto política como historicamente, objetivando em suas ações a manutenção e o não sucateamento das universidades públicas, o acesso ao ensino universitário de forma justa e igualitária inclusive aos menos favorecidos, bem como instrumentalizar a sociedade brasileira de cidadãos conscientes de seus deveres, direitos e obrigações de forma reflexiva e crítica, como forma de real e concreta transcendência social, como anseio a ser adquirido.

O acesso a informações históricas e a fatos que resgatam fragmentos e a memória da instituição militante e de representação estudantil, facilitam a atuação do grupo de efetivos representantes do diretório acadêmico na efetivação de suas decisões e posicionamentos. Outra contribuição relatada é o contato com representantes de gestões anteriores, compartilhando suas experiências no decorrer de suas mobilizações e participações dos ideais partidários da comunidade universitária.

Para outro sujeito, a influência marcante da corrente de pensamento socialista, percebida em seu discurso demonstra marcante presença deste conhecimento em suas decisões, influenciando inclusive em seus posicionamentos perante os debates e discussões político-educacionais.

O conceito de socialismo possui uma proposta de mudança da organização econômica e política da sociedade, visando o interesse geral, contra os interesses de uma ou mais classes privilegiadas, com base nas idéias de igualdade e justiça social(10).

O termo socialismo possui sua significação designando qualquer doutrina que defenda ou preconize a reorganização da sociedade em bases coletivas(8).

Derivado do fragmento da entrevista, o termo socialismo, pinçado e analisado após sua contextualização a partir de pensamento de alguns autores, representa ser uma postura, com vistas à mudança das ações sociais e ao trabalho pelo avanço progressivo em seu movimento reivindicatório estudantil, nos acenando também, para a necessidade de transformações e progressivas práticas durante seu cotidiano.

A diversidade de percepções acerca das bases políticas e históricas norteadoras das ações e atuações dos representantes estudantis do Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa aponta para a desarticulação política de universitários e docentes, para a falta de estruturação e efetiva participação dos demais alunos da instituição no movimento estudantil, à falta de historicidade e continuidade dos ideais e propostas já suscitadas por gestões anteriores, e ainda, a falta de orientação e sobretudo, desinteresse político-histórico-social de docentes e demais setores da instituição.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A emoção e a paixão pelo movimento estudantil ficaram evidenciadas no discurso destes representantes estudantis que lutam por melhores condições de ensino, formação e profissão. As atividades destes militantes são intensas no cotidiano universitário e extrapolam os muros da universidade, se fazendo representar em fóruns de âmbito nacional e internacional, levando consigo o nome da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa e de seu Diretório Acadêmico. Para isso, esforços são empreendidos, assumindo por vezes a falta de apoio institucional, quer seja financeiro, quer seja pelas ausências em salas de aula acarretando retaliações de docentes não sensibilizados com o desenvolvimento de sua formação crítico-reflexiva e política-social. 

Este estudo demonstra a fragilidade e reduzido cuidado para com a memória de nossa instituição, capital patrimonial a ser zelado e preservado pela comunidade acadêmica. Condições e movimentos que possuem como meta o resgate de elementos sobre a história do Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa e também, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, devem ser iniciados e incentivados.

Já por parte dos atores sociais que realizam seu ofício nesta instituição de ensino superior em enfermagem, consideramos que os mesmos devam conjugar-se em ações e fatos concretos, objetivando a redução do distanciamento entre as pessoas empenhadas neste processo contínuo de construção da história em nossa realidade.

Condições que favoreçam o progressivo crescimento e desenvolvimento do Diretório Acadêmico Aurora de Afonso Costa/UFF, devem ser repensadas, potencializando desta forma a militância política dos graduandos em enfermagem.

A questão da representação política estudantil em enfermagem merece maiores reflexões inclusive ao nível de pós-graduação, por sua indubitável importância, bem como, por ser a mesma, um dos mecanismos de amadurecimento para a plena vida associativa, como espíritos críticos, reflexivos e transformadores. O graduando em enfermagem deve posicionar-se mais efetivamente em fóruns e instâncias deliberativas, onde se produzem e se processam as discussões e debates com vistas à defesa dos interesses coletivos.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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2. Barretto V. Voto e representação. In: Cotta M, Barretto V, Souza SA. Introdução a ciência política: voto e representação política. 2ª. ed. Brasília (DF): EdUnB; 1984. p. 15-62.

3. Ferreira ABH. Miniaurélio século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira; 2001.

4. Cruz ICF. Aurora de Afonso Costa Scholl of Nursing – from 1944 to 2004: 60 years preparing nurses to care people’s responses to health and illness and to leader the health system. Online Braz J. Nurs [ serial on the Internet ]. 2004 December [ cited 2004 Mar 15 ] 3(3): [ about 1p. ]. Available from: http://www.uff.br/nepae/editorialv3n3.htm

5. Pires RGM. Enfermeiro com qualidade formal e política: em busca de um novo perfil [ dissertação de mestrado ]. Brasília(DF): Departamento de Serviço Social/UnB; 2001.

6. Meihy JCSB. Manual de História Oral. 2ª ed. São Paulo (SP): Loyola; 1998.

7. Oliveira MWR. Preparo nas Escolas de Enfermagem para a Vida Associativa. Rev Bras Enferm 1970 jul./dez.; 23(3-6): 100-102.

8. Abbagnamo N. Dicionário de Filosofia. São Paulo (SP): Martins Fontes, 2000.

9. Maar WL. O que é política. São Paulo (SP): Abril Cultural/ Brasiliense; 1985.

10. Japiassú H, Marcondes D. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª. ed. Rio de Janeiro (RJ): Zahar; 1996.

 


Recebido: 13/03/2005
Revisado 17/03/ 2005
Aprovado: 01/04/ 2005