ARTIGOS ORIGINAIS

 

Adoecimento dos enfermeiros da rede hospitalar  de Rio Branco - Acre - Brasil 


Gleiciany Miranda1, Liliane Maria Alves Maia1, Mônica Pereira Lima1, Creso Machado Lopes1, Pascoal Torres Muniz1

1UFAC

 


RESUMO
Estudo com o objetivo de identificar os problemas de saúde apresentados pelas enfermeiras no seu local de trabalho, realizado junto a 85 (51,2%) enfermeiras da Rede dos Hospitais de Rio Branco - Acre -  Brasil, e em oito Chefias do Serviço de Enfermagem, com uso de questionário e entrevista preenchida pelas autoras, com respeito aos aspectos éticos da pesquisa. Como resultados 87,5% possuem dupla ou tripla jornada de trabalho. De acordo com as chefias, 75,0% apresentaram problemas no relacionamento / humor e assistência ao paciente; 62,5% queixaram de problemas de saúde pelas condições do trabalho; 17,1% faziam uso de medicamentos contra a hipertensão, e 68,3% auto-medicação, com uso de analgésico. As doenças mais encontradas foram: doenças do sistema ósseo e muscular e do tecido conjuntivo, com 34,9%; doenças do sistema nervoso, com 23,2% e os sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório não classificados em outra parte, com 22,0%, onde reforça-se a necessidade de implementar programas de prevenção à saúde das enfermeiras.
Descritores: Saúde do Trabalhador; Enfermagem do Trabalho; Promoção à Saúde.



INTRODUÇÃO

O trabalho constitui uma das ações mais importantes da vida do ser humano, pois é através desta atividade que o homem propicia sua subsistência. Desta forma, o trabalho deve respeitar a vida e a saúde do trabalhador, deixar-lhe tempo livre para o descanso e distração e permitir uma realização pessoal. Desta maneira, o significado do trabalho não se restringe apenas na prestação de serviço e recebimento de salário, e muito menos um fator de doença.

A questão da saúde do trabalhador tem sido alvo de preocupação desde o século XVI, pois foi neste período que as empresas passaram a adquirir serviços médicos, com o intuito de manter um equilíbrio na saúde do trabalhador, garantindo assim uma melhor produtividade. Viu-se que o melhor mecanismo para manter o controle e prevenir as doenças profissionais era que houvesse uma adequada interação entre o ambiente e o trabalhador.

A trajetória da prestação de serviços de saúde no Brasil tem tentado adaptar-se aos interesses e evoluções da política econômica e social de cada época, quase sempre se legitimando por razões outras, que não o atendimento das necessidades de saúde da população.

Segundo Bulhões (1994), os fatores de riscos biológicos, químicos e físicos são os principais geradores de insalubridade e periculosidade na profissão, produzindo doenças comuns ao profissional de enfermagem. Nota-se, que os enfermeiros devido às condições precárias, estão sendo colocados a mercê de riscos que são responsáveis pelo aparecimento de doenças.

Ultimamente, a humanidade tem dado uma grande importância a qualidade de vida geral dos indivíduos, sendo que para obter uma vida saudável é necessário estar em equilíbrio com os aspectos social, afetivo, profissional e físico. Desta forma, o bem estar geral dos profissionais ficará comprometido se houver um déficit em qualquer uma destas áreas.

Desta forma, a incidência de doenças profissionais, medida a partir da concessão de benefícios previdenciários, manteve-se praticamente inalterada entre 1970 e 1985: em torno de dois casos para cada 10 mil trabalhadores. No período de 1985 e 1992, esse índice alcançou  a faixa de quatro casos por 10 mil. A partir de 1993, observa-se um crescimento com padrão epidêmico registrando-se um coeficiente de incidência próximo a 14 casos por 10 mil. Esse aumento acentuado deve-se, principalmente, aos grupos de doenças denominados LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), responsáveis por cerca de 80 a 90% dos casos de doenças profissionais registrados nos últimos anos, no Ministério da Previdência e Assistência Social  MPAS. Considerando-se que esse aumento absoluto e relativo da notificação das doenças profissionais ao Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS, por meio da Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT, é um dos frutos de ações desenvolvidas nos projetos e programas de saúde do trabalhador, implantados na rede de serviços de saúde, a partir da década de 80 (Brasil, 2001).

No ambiente hospitalar a enfermagem se destaca por ocupar a segunda posição no que se refere aos profissionais que mais se acidentam no trabalho. Isto se deve a alguns fatores, como por exemplo: a responsabilidade por 60% das ações de saúde, ter contato direto com doente, além da diversidade de atribuições que são de sua responsabilidade (Bulhões, 1994).

Inúmeros fatores vêm contribuindo para o desgaste físico, emocional e social dos profissionais de enfermagem. Dentre eles, a obtenção de vários empregos, realização de plantão extra, tipo de clínicas onde suas atividades são desenvolvidas, ritmo intenso de trabalho, assistência direta a pessoas doentes, muitas vezes em situações graves, tendo contato com situações de vida/morte, poluição ambiental (riscos físicos, químicos, biológicos e radiação), falta de equipamento e material de apoio, local inadequado para alimentação, falta de condições para satisfação das necessidades básicas (ingestão, alimentação, comunicação, exercício e repouso), acúmulo de atribuições e ansiedade por não atendimento dos interesses pessoais e familiares Mauro (1997), além dos ergonômicos, psicossociais, mecânicos e de acidentes (Brasil, 2001).

Os trabalhadores compartilham o perfil de adoecimentos e mortes da população em geral, em função de sua idade, gênero, grupo social ou inserção em um grupo de risco. Além disso, os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho, como conseqüência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte dos trabalhadores resultará da amalgamação desses fatores, segundo (Mendes & Dias 1999).

Alexandre & Angerami (1993) analisando os aspectos ergonômicos salientaram que o pessoal de enfermagem realiza transporte sob condições desfavoráveis, equipe deficiente e com equipamentos inadequados e sem manutenções.

Posso (1982), estudou o efeito do ruído emitido por aparelhos que são utilizados no centro cirúrgico e, alterações fisiológicas e psicológicas que podem ser causadas em clientes e equipe. Estas alterações são visíveis quando se observa a diminuição da capacidade e qualidade de trabalho proporcionando riscos de possíveis erros.

É importante destacar que uma das maiores funções do hospital é prestar assistência, entretanto, está coberto de sentimentos inseguros, de ansiedade, medo, sendo isto as conseqüências trazidas por problemas de enfermidade. E estes sentimentos não somente acompanham o doente e seus familiares, como também os profissionais de saúde.

Takahashi (1985) evidenciou o quanto a sobrecarga de trabalho ligado aos problemas administrativos e a sobreposição de funções administrativas e assistenciais são geradoras  de “stress” para enfermeiros. Atribui tal fato a uma formação que valoriza mais os aspectos assistenciais em detrimento aos administrativos, pois o enfermeiro se defronta com a cobrança da instituição em administrar deixando de lado seus valores da assistência.

As pessoas ao sofrerem por algum tipo de problema de saúde, seja ele físico ou mental, acaba refletindo no seu ambiente de trabalho. Isto será demonstrado quando o profissional começa a se descuidar de seu horário de serviço, falta com freqüência, descuida com o material, ocasionando assim, uma diminuição na qualidade do trabalho executado.

Bulhões (1994) declara que durante muito tempo a enfermagem foi considerada uma vocação; nos dias de hoje nos interrogamos sobre a vida tão curta desses profissionais, que vêm lutando por melhores condições de higiene, saúde e segurança em seu ambiente de trabalho.

Diante da possibilidade de valorização do saber dos trabalhadores, Lacaz (1992) já há algum tempo, relata a participação dos enfermeiros com propostas para resolução dos problemas, o questionamento da monetarização e a procura da valorização da prevenção, a possibilidade da universalização do atendimento a todos os trabalhadores, entre outros.

A saúde do trabalhador ainda é um fator novo, mas uma questão fundamental que necessita ser debatida pelos profissionais da área de enfermagem com o intuito de compreender a importância das propostas contidas no Sistema Único de Saúde.

Neste sentido, a idéia original deste estudo surge da preocupação de seus autores, no que diz respeito às doenças que acometem os enfermeiros e as suas condições de trabalho como “provável” responsável por este adoecimento, cujos resultados nos proporcionará não só aprofundar os conhecimentos sobre esta temática, como também propor medidas de promoção à saúde do trabalhador no ambiente hospitalar, onde para sua realização estabeleceu como objetivo - Identificar os problemas de saúde apresentados pelos enfermeiros no seu ambiente de trabalho, na Rede Hospitalar Pública, Privada e Filantrópica de Rio Branco – Acre - Brasil.


MÉTODO

A pesquisa foi realizada junto a 82 (51,2%), dos 160 enfermeiros da Rede Hospitalar do município de Rio Branco – Acre, onde abrangeu as seguintes instituições: Hospital Geral de Clínicas de Rio Branco (HGCRB), Fundação Hospital Estadual do Acre (FUNDHACRE), Pronto Clínica, Hospital Santa Juliana, Urgil, Santa Casa da Misericórdia do Acre, Hospital de Saúde Mental do Acre (HOSMAC) e Maternidade Bárbara Heliodora (MBH), bem como junto a oito Chefes dos Serviços de Enfermagem.

Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: um formulário contendo perguntas abertas e fechadas, destinados aos enfermeiros assistenciais, os quais foram sorteados aleatoriamente, e um roteiro de perguntas aplicado às Chefias de Enfermagem, os quais foram preenchidos pelas próprias  pesquisadoras.

Uma vez coletado os dados, estes foram agrupados de acordo com o CID – 10, OMS (1997), bem como foi utilizado o Programa EPIINFO 6.0, para facilitar o processamento e análise dos dados. Por sua vez, os dados qualitativos foram categorizados e agrupados por semelhança de conteúdo, segundo Bardin (1995), visando a análise e interpretação dos dados.

Convém esclarecer também que esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, atendendo a Resolução 196/96.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a pesquisa realizada, constatou-se que a maioria dos enfermeiros entrevistados, pertencem ao gênero feminino com 76,8%, contra 23,2% do masculino, comprovando que a prevalência do gênero feminino na profissão de enfermagem é superior ao masculino.

A predominância da faixa etária dos pesquisados foi de 30-39 anos com (35,4%), seguido daqueles com idade menor que 30 anos e  na de 40-49 anos os quais obtiveram o mesmo percentual (26,8%). Os profissionais com idade de 50 anos e mais representaram 11,0%.

Com relação a condição marital 53,7% dos entrevistados eram casados e 34,1% solteiros. Da amostra pesquisada, 47,6% possuem filhos, ainda dependentes financeiramente estando estes com a faixa etária compreendida entre 5-12 anos, representando 27,4%.

Quando questionado sobre o relacionamento com cônjuge e filhos, 48,7% classificaram como ótimo, ou seja, possui fácil diálogo e introsamento não apresentando problemas interpessoais e apenas 5,3% consideraram regular (pouco diálogo e introsamento e eventuais problemas interpessoais).

Observou-se que 54,9% possuem algum título de especialização mas, atualmente 43,9% estavam cursando alguma pós-graduação.

Ao discorrer sobre o estado físico e emocional dos entrevistados, 69,1% consideram ótimo e bom ao chegar em casa após sua jornada de trabalho, contra 30,9%  que classificaram como regular e ruim.

Ao questionar sobre o número de locais que os enfermeiros trabalham, 42,7% responderam que trabalham na Rede Hospitalar; Rede Hospitalar e Rede Educacional, respectivamente, seguido por 12,2% na Rede Hospitalar e Rede Básica e  2,4% nos três níveis.

É notório que a obtenção de vários empregos, a realização de plantões extra, tipo de clínica onde suas atividades são desenvolvidas e o próprio ambiente hospitalar fazem com que o enfermeiro se torne responsável por até 60% das ações de saúde (Bulhões, 1994).

Diante deste cenário perverso, insalubre e penoso, Bulhões (1994) ainda ressalta que os profissionais de enfermagem convivem com uma carga horária excessiva, uma condição financeira que não lhes permite ter uma única fonte de renda, portanto assumindo dois ou mais empregos. Assim, todos estes fatores são predisponentes aos agravos de saúde do profissional enfermeiro.

Evidenciando as citações dos autores, a pesquisa revela que os profissionais que possuem mais de um vínculo empregatício, 51,1% responderam que consideram a rede hospitalar como o mais cansativo.

Realizando uma abordagem no relacionamento do enfermeiro com os demais profissionais, nota-se que a maior parte é classificado como “bom” perfazendo uma média de 64,3%, sendo que o relacionamento menos harmonioso, segundo os enfermeiros, é com a Direção Geral e Clínica das instituições, que obteve 8,5% de relacionamento “regular”. Vale lembrar que o relacionamento “bom” é quando possui fácil diálogo e introsamento e apresenta apenas eventuais problemas interpessoais.

As respostas dos entrevistados sobre relacionamento ruim/regular alcançaram 27,0% onde responderam não desempenhar o trabalho como deveriam; seguido por 23,1% por falta de comunicação e 19,2% por falta de interação multiprofissional e competição/conflito, respectivamente, sendo considerados os mais significativos.

Diante destes dados fica evidente a necessidade de se trabalhar o processo de interação equipe/direção, pois em virtude das próprias condições adversas do trabalho, o próprio cliente também poderá ser prejudicado na sua assistência.

Conforme relato das Chefias de Enfermagem, 75,0% responderam que os enfermeiros que apresentam problemas de saúde, tem modificado seu relacionamento/humor com a Direção/Divisão de Enfermagem/ Enfermeiros/demais Servidores do Hospital / Pacientes e Familiares, o que vem ao encontro das descrições acima apresentadas.

Ao discorrer sobre a jornada de trabalho dos enfermeiros, 44,0% estão na faixa de 30-40 horas semanais de trabalho, enquanto que os 56,0% estão acima do preconizado pela lei.

A análise feita diante dos resultados é que a enfermagem apesar de toda a luta da categoria por melhores condições de trabalho e uma carga horária menos agressiva, considerando as atividades que desempenham, continua na sua maioria exercendo a carga horária de 40 horas semanais, cujas ações demandam esforço contínuo, repetitivo, portanto, descaracterizando as peculiaridades do trabalho que realizam, conforme nos alerta (Bulhões, 1994).

Segundo as Chefias de Enfermagem, 87,5% relataram que os enfermeiros da sua instituição possuem dupla ou tripla jornada de trabalho, o que vem ao encontro das preocupações acima citadas.

Ao levantar a avaliação da dupla ou tripla jornada de trabalho, junto as Chefias de Enfermagem, das 14 respostas obtidas, 35,7% mencionaram como péssima, seguida por 28,6% em que a prestação do serviço ao paciente fica prejudicada e com sobrecarga de trabalho/cansaço/stress respectivamente, o que por si só reflete na qualidade da assistência prestada pelo enfermeiro.

Levando em consideração o tempo de prestação de serviço na enfermagem, observa-se que 32,9% tem de 0 a 5 anos de trabalho, 20,7% possuem de 6 a 10 anos, 19,6% de 11 a 15 anos, 12,2% de 16 a 20 anos e 14,6% possuem de mais de 20 anos.

“O ritmo de trabalho intenso que a enfermagem realiza requisita-lhes dispêndio de esforço físico. A falta de um programa que lhes assegure o repouso necessário, o ambiente de trabalho inseguro, insalubre, inadequado para a realização das atividades próprias da enfermagem, a ausência de um programa alimentar para reposição das energias gastas durante a jornada de trabalho são fatores condicionantes ao adoecimento do pessoal de enfermagem” (Bulhões, 1994).

Considerando o que o autor  acima relata, viu-se que 70,7% dos enfermeiros entrevistados afirmaram que seu trabalho exige agilidade excessiva, contra 29,3% que mencionaram que não.

Questionados sobre a realização profissional, 84,1% afirmaram que estão satisfeitos com a atividade que exercem e 15,9% não, sendo que a justificativa para esta insatisfação é a falta de reconhecimento e valorização profissional, com 26,6%, falta de condições de trabalho 26,6%, trabalho estressante 20,0%, baixos salários 13,4%, falta de autonomia e desorganização da classe com 6,7% respectivamente.

Desta maneira, quando questionados sobre a prática de atividade física para obtenção de uma vida saudável, 67,1% dos entrevistados responderam que não praticam nenhum tipo de atividade física.

Isto se deve a justificativa de que 47,2% dos entrevistados responderam que não têm tempo, seguido de 18,9% que relata falta de disposição e 13,2% dizem ser acomodados, respostas estas que vem ao encontro de nossas preocupações não só com a condição de saúde física e mental, como também a qualidade da própria assistência prestada.

Assim pode-se dizer que a prática de atividades desportivas são benéficas ao organismo e a sua própria qualidade de vida, onde melhora a capacidade física, reduz os riscos de doenças coronarianas, além de proporcionar lazer, saúde física e mental.

As atividades de recreação praticadas pelos enfermeiros foram as mais variadas possíveis, sendo que os entrevistados sempre relatavam mais de uma atividade. Dentre elas destacam-se: sair com a família e amigos com 20,2%, passeios e sair à noite (boates e barzinhos) 20,1%, ficar em casa com a família, ler, assistir televisão e ouvir música 28,0%, jantar fora e ir ao cinema 8,5%, passeios em chácaras, fazendas e clubes 10,7%, praticar esportes 5,7%, preferem dormir 3,9%, namorar 1,7% e viajar e navegar na internet 1,2%.

Visto isso, a pesquisa demonstra uma amostra relativamente pequena que enquadra-se nos hábitos que são contrários às teorias citadas acima, ou seja, apenas 7,3% dos enfermeiros são tabagistas e 36,6% ingerem algum tipo de bebida alcoólica. Vale ressaltar que a bebida mais consumida é a cerveja com 70%, com uma freqüência elevada em eventos sociais 40% e finais de semana 43,3%, sendo que a quantidade freqüentemente ingerida é de 3 latas 26,7%. Relacionado ao fumo, a amostra revela que 50,0% fuma diariamente e 50,0% consome 1 maço de cigarro por dia.

Quando questionados sobre o uso de medicamentos, 17,1% dos enfermeiros informaram que fazem uso de algum fármaco, sendo que os mais utilizados são os antihipertensivos com 64,1%, o que mostra a real condição de saúde de nossos enfermeiros, onde por não termos dados de antecedentes familiares cardíacos ficou-se impossibilitado de associar com às condições de trabalho, mas acreditamos que estas tem forte influência no seu quadro.

Realizando uma análise quanto a questão dos sinais vitais (Pressão Arterial, Pulso, Respiração e Temperatura), além da altura e  peso corporal, notou-se que a maior parte dos pesquisados encontram-se dentro dos padrões considerados normais. Mas, vale ressaltar que quando aferido a pressão arterial, alguns relataram que apresentam picos hipertensivos, o qual é controlado pelo uso de medicamentos, conforme percentual acima mencionado.

Baseado nos dados acima, nota-se através do estudo que os profissionais enfermeiros, na medida do possível e com esforço tentam se alimentar corretamente, pois 26,8% responderam que gastam em média 30 minutos para realizar uma refeição, outros 26,8% com 20 minutos e 18,3% com 15 minutos.

Relacionado ao período que os enfermeiros permanecem sem realizar uma refeição ou lanche, viu-se que 28,1% ficam 6 horas sem se alimentar, 26,8% por 4 horas e 17,1% com 5 horas.

Diante destes dados, exercendo o papel de profissionais de saúde, e tendo pleno conhecimento de todos os malefícios que comprometem a saúde e o bem estar do ser humano, é incomum encontrarmos enfermeiros que se preocupam em alimentar-se adequadamente, praticar esportes, atividades recreativas, administrar problemas diários e avaliar regularmente seu estado de saúde geral, com o objetivo de promover sua saúde (Reis, 1996).

De acordo com os dados encontrados, 37,8% dos enfermeiros procuram serviços médicos regularmente, porém 62,2% só o buscam quando adoecem. Constatou-se ainda através dos dados que 73,2% realizou a última consulta médica há menos de um ano, o que leva a crer que os profissionais enfermeiros estão adoecendo cada vez mais, e que por não termos mais informações, não sabemos se consultam no próprio horário de trabalho, o que não parece uma consulta eficaz, e sim talvez paliativa só para resolver aquele problema imediato, tendo em vista que na época da pesquisa não havia na Rede Hospitalar de Rio Branco – Acre um serviço sistematizado de assistência ao servidor da saúde.

Através dos resultados, pode-se perceber que 69,5% dos enfermeiros entrevistados realizam exames médicos periodicamente e 74,4% o fizeram a menos de 1 ano. Vale ressaltar que o Preventivo de Câncer de Colo Uterino e das Mamas juntamente com os exames laboratoriais são os mais realizados pelos enfermeiros,  com 35,1%.

Um dado preocupante foi encontrado em 68,3% dos profissionais que tem o hábito de ingerir medicação por conta própria. Conforme o próprio relato dos entrevistados, os analgésicos são a classe de medicamentos mais utilizados por 53,6%. Vale ressaltar que esta prática de automedicação não recomendada,  principalmente por ser profissional da saúde, faz pensar que tal prática acontece em virtude da inexistência de serviço de atenção à saúde do servidor em todas as unidades de trabalho.

De um modo geral, pode-se dizer que o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores caracteriza-se pela coexistência de agravos que têm relação direta com as condições de trabalho específicos como acidentes de trabalho típicos e as doenças profissionais (Brasil, 2001).

Conforme resultados da pesquisa, 61,0% dos entrevistados sabem o que é CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) e 80,5% conhecem a maioria dos seus direitos trabalhistas. Quando questionado sobre a ocorrência de acidente no ambiente de trabalho, 35,4% responderam que durante o trabalho já ocorreu algum acidente, mas destes, apenas 10,3% foram registrados ao CAT.

Segundo os enfermeiros só há um hospital no município de Rio Branco que disponibiliza este serviço, estando em fase de implantação. Com relação a este tema, gostaria de apresentar o relato de uma enfermeira, assim descrito: “Certa vez, tive um acidente sério com material pérfuro-cortante, fiquei em desespero pois o paciente era de comportamento de risco para HIV, tentei comunicar ao CAT mas o hospital não tinha esse serviço, então resolvi realizar os exames por conta própria. Graças a Deus o pior não aconteceu.”

Segundo relatos das Chefias de Enfermagem, 62,5% dos enfermeiros tem se queixado de problemas de saúde por causa das condições de trabalho, sendo que as queixas mais comuns são: excesso de serviço e responsabilidade 50,0%, stress 25,0%, jornada de trabalho e falta de materiais com 12,5% respectivamente.

A contaminação é o risco mais presente nos locais de trabalho de enfermagem, que associadas aos acidentes e as condições inadequadas de trabalho, justificam a maior incidência de doenças infecto-contagiosas, como principais agravos a saúde indicados pelos profissionais de enfermagem (Bulhões, 1994).

Desta maneira, 97,6% dos enfermeiros responderam que o seu trabalho oferece risco à sua saúde. A contaminação foi identificada pela maioria dos investigados como sendo a principal causa de risco existente na unidade onde trabalha, obtendo 54,1% para as doenças infecto-contagiosas, 17,5% para o material pérfuro-cortante, 7,5% para o stress, 4,2% para as doenças osteomusculares e  agressões físicas respectivamente, sendo aqui consideradas as mais significativas.

Baseado nas informações das Chefias de Enfermagem, 50,0% acham que as condições de trabalho do seu hospital são consideradas boas, 37,5% regular e 12,5% ótimas. Justificando estas avaliações, 45,4% afirmaram que na sua instituição há falta de recursos humanos e materiais, seguido por rotinas desgastantes, improvisações no serviço e número de empregos dos enfermeiros com 18,2% respectivamente.

Assim, a pesquisa revelou que 50,0% dos entrevistados afirmaram que já adquiriram alguma doença física e/ou psicológica após estar trabalhando na enfermagem. Dentre elas as mais citadas foram: varizes 17,6%, stress 14,7%, lombalgia 13,2%, doenças infecto-contagiosas 11,8% e infecções respiratórias agudas 8,8%, como sendo as que mais acometem  os enfermeiros após estarem atuando na profissão.

Baseado nos dados acima, viu-se que 69,5% dos enfermeiros consideram que seu trabalho provoca fadiga, concordando com o relato das Chefias de Enfermagem ao afirmarem que 100,0% dos enfermeiros queixam-se de problemas de saúde durante o horário de trabalho.

Dentre as queixas citadas pelos enfermeiros para as Chefias de Enfermagem, destacam-se cansaço/estresse 35,0%, cefaléia/enxaqueca 21,7%, problemas de coluna 17,4%, hipertensão 13,0%, como sendo os mais representativos.

Diante dos dados encontrados pode-se verificar que estes vêm ao encontro da preocupação desta pesquisa, pois com esta jornada de trabalho e as próprias condições de trabalho, em muito contribuem para esse quadro, com prejuízos na assistência ao paciente e a saúde do enfermeiro.

Ao levantar as principais queixas de saúde que acometem os enfermeiros, assim estão distribuídos: cefaléia 23,2%, lombalgia 15,5%, dor nos membros inferiores 14,8%, estresse 11,6%, cansaço 10,3%, infecção respiratória aguda com 6,5% e hipertensão arterial com 5,2%, sendo as de maior destaque. 

Como forma de ampliar o levantamento da problemática das condições de saúde dos enfermeiros no seu trabalho, foi de interesse levantar as queixas/doenças relatadas aos colegas de trabalho, onde destacam-se o estresse 20,8%, lombalgia 15,0%, cefaléia 13,2 e dores nos membros inferiores com 12,3%, e cansaço com 10,6%, como as de maior relevância.

Ao analisar estes dados, observa-se que vêm ao encontro da resposta anterior, o que reforça a real condição de saúde dos enfermeiros, bem como a consistência interna dos dados.

Por sua vez, ao questionar as Chefias de Enfermagem sobre os serviços de promoção à saúde para os seus profissionais, 87,5% responderam que o hospital não dispõe desse serviço, e 12,5% relataram que há um núcleo de assistência ao servidor ainda em implantação.

Com o intuito de melhor compreender tanto as queixas dos enfermeiros, em número de 155, bem como as relatadas aos seus colegas de trabalho, com 227, as agrupou de acordo com a Classificação Internacional de Doença (CID-10), onde as queixas mais prevalentes foram as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo – CID XIII, com 34,9%; do sistema nervoso - CID VI, com 23,2% e  sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório não classificado em outra parte – CID – XVIII, com 22,0%. Já por sua vez, para as relatadas aos  colegas estas foram bastante semelhantes, com realce para as já citadas, CID XIII e CID XVIII com 31,7% respectivamente, acrescidas as do aparelho circulatório CID -  com 8,3% e as dos transtornos mentais e do comportamento CID – V, com 5,3%, o que mostra quanto os enfermeiros estão adoecendo.


CONCLUSÃO

Quando se propôs realizar esta pesquisa, estava-se convicto de sua representatividade, pois até o momento, o Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Acre desde sua criação em 1976 já graduou mais de 300 enfermeiros, e que nunca havia realizado uma pesquisa para avaliar as condições, não só de trabalho, mas também de saúde dos próprios enfermeiros da Rede Hospitalar de Rio Branco – Acre.

Desta maneira, foi possível encontrar 160 enfermeiros na rede hospitalar, dos quais foi pesquisado 82 (51,2%), aliados as 8 entrevistas com as Chefias dos Serviços de Enfermagem.

Através da pesquisa foi possível conhecer o processo de interação saúde-trabalho-doença, que é vivenciado pelos enfermeiros que trabalham na rede hospitalar. Observou-se que estes profissionais convivem com uma carga horária de trabalho excessiva, muitas vezes assumindo mais de um vínculo empregatício, alegando ser esta uma maneira de se obter uma condição financeira que lhe garanta a sobrevivência.

O estudo revelou que 43,9% dos enfermeiros trabalham de 30-40 horas semanais, enquanto que 56,1% estão acima do preconizado pela lei, o que é um fator preocupante, pois isto reflete na qualidade da assistência prestada pelo enfermeiro.

Este ritmo de trabalho intenso dificulta a prática de uma atividade física e de recreação, pois as tarefas realizadas pelo enfermeiro leva a um dispêndio físico e emocional.

Diante desta realidade constatou-se que os enfermeiros estão diante de fatores de riscos que são responsáveis pelo surgimento de doenças, pois apesar da busca por melhores condições de trabalho, 97,6% dos enfermeiros consideram que seu trabalho oferece riscos a sua saúde, fato este confirmado quando 50,0% afirmaram já terem adquirido alguma doença física e/ou psicológica após estar trabalhando na enfermagem.

Assim, os problemas de saúde que mais acometem os enfermeiros, de acordo com a pesquisa foram: lombalgia, estresse, cefaléia, dor nos membros inferiores, cansaço, dentre outros. Os resultados revelados confirmam que os enfermeiros estão adoecendo e as condições de trabalho surge como a principal responsável para tal problemática.

Ao levantar as atividades de promoção à saúde oferecidas pelas instituições, viu-se que não há nenhum tipo de serviço que garanta a saúde do enfermeiro no seu ambiente de trabalho.

Exercendo o papel de profissionais de saúde, tentou-se através desta pesquisa, despertar os dirigentes das instituições hospitalares, para o estabelecimento de programas que enfoquem a saúde física e mental dos seus trabalhadores.

Para finalizar, gostaria de deixar mais uma questão para reflexão num momento em que tanto se discute a qualidade dos serviços de saúde, onde se procuram alternativas através de novas formas de gerência: será que pode-se pensar em produtividade com qualidade sem se preocupar com a saúde dos enfermeiros?

REFERÊNCIAS

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10. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1995.

11. Reis A T, Pereira,V R F, Pereira, D C de M, Teixeira, K M. A saúde e sua forma de viver: perfil dos graduandos em enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Rev. Enfermagem UERJ1996; Rio de Janeiro. Edição Extra. p.1-22.

 

 

Recebido: 5/11/2004
Revisado: 20/01/ 2005
Aprovado: 10/04/ 2005