NOTAS PRÉVIAS

 

Enfrentamento do óbito fetal na perspectiva da mãe: análise de série temporal

 

Gisele Ferreira Paris1, Francine de Montigny2, Maria Dalva de Barros Carvalho1, Sandra Marisa Pelloso1

1Universidade Estadual de Maringá
2Université du Québec en Outaouais

 


RESUMO
O presente artigo aborda o projeto de tese desenvolvido no programa de pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá, em parceria com a Universidade do Quebec em Outaouais.
Objetivos: Analisar a assistência pré-natal e o pós-parto das mulheres que sofreram óbito fetal e compreender seu processo de luto.
Método: Análise de série temporal com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM); num segundo momento, pesquisa qualitativa e descritiva com mulheres que sofreram óbito fetal no município de Maringá (PR) e na província de Gatineau (Canadá). A coleta de dados será por meio do SIM e de entrevistas envolvendo questionário semiestruturado. Para análise dos dados serão utilizadas estatística e técnica de análise de conteúdo.
Descritores: Óbito fetal; Pré-natal; Período Pós-Parto; Luto.    


 

Situação problema e sua significância

A cada ano, aproximadamente 3 milhões de gestações finalizam em óbito fetal(1) no mundo, devido a complicações no parto, infecções maternas na gestação, doenças maternas relacionadas principalmente a hipertensão e diabetes, restrição do crescimento fetal e malformações congênitas(2). Essas mortes ocorrem maioritariamente em países de baixa e média renda, como o sul da Ásia e África sub-saariana, que apresentam mais de 25 natimortos por 1.000 nascimentos. Outras nações estão em processo evolutivo de diminuição: o Brasil possui 5 a 14,9 natimortos por 1.000 nascimentos. Já o Canadá e os Estados Unidos apresentam índices ainda melhores, com menos de 5 natimortos por 1.000 nascimentos(1).

Apesar de a mortalidade fetal ter influência das mesmas circunstâncias e etiologias que a mortalidade neonatal precoce, pouca atenção tem sido dada, pois não houve a inclusão desses óbitos nos objetivos do milênio.

As mulheres com antecedentes de aborto espontâneo recorrente, óbito fetal, prematuridade ou óbito neonatal precoce tiveram pior qualidade de vida e mais sintomas de ansiedade e depressão durante a gestação subsequente, quando comparadas com mulheres sem esses antecedentes(3).

O luto de um natimorto é diferente de qualquer outra forma de tristeza, pois os progenitores se deparam a mudança de meses de planejamento e expectativas para a incompreensão de dar a luz a um bebê sem vida. Alguns pais que sofreram óbito fetal conseguem superar a perda, mas há casos em que o trauma gera perturbações psicológicas como depressão e ansiedade(3).

Considerando a literatura exposta, são necessários estudos sobre o enfrentamento da mulher em relação ao luto, para apoio e revelação dos casos patológicos. Melhorar os cuidados de enfermagem prestados às famílias em situação de óbito fetal implica em uma avaliação precoce do processo, no sentido de programar intervenções necessárias a cada caso.

 

QUESTÕES NORTEADORAS

Há estabilidade no coeficiente dos óbitos fetais? Existe uma relação entre óbito fetal e assistência pré e pós-natal não adequadas? O enfrentamento do luto de uma mulher por óbito fetal é diferente segundo a idade gestacional na perda, o tempo decorrido e o apoio recebido?

 

OBJETIVOS

Geral
Analisar a assistência pré-natal e pós-parto das mulheres que tiveram óbito fetal e compreender seu processo de luto.


Específicos

Identificar a tendência dos óbitos fetais; descrever assistência pré-natal e pós-parto das mulheres que tiveram óbito fetal.

 

MÉTODO

Análise de série temporal a se realizar em dois momentos distintos: primeiramente, uma pesquisa de abordagem quantitativa, de série temporal, com todas as mulheres que sofreram óbito fetal no município de Maringá (PR) entre 2000 e 2013, a partir dos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Num segundo momento, será realizada uma pesquisa qualitativa e descritiva, com entrevistas envolvendo questionário semiestruturado com mulheres que sofreram óbito fetal em 2013 nos municípios de Maringá (PR) e Gatineau (Canadá). Serão incluídas todas as residentes em Maringá cadastradas no SIM e todas as que participaram do Centre d'études et de recherche en intervention familiale (CERIF), em Gatineau. O critério de exclusão será descontar as mulheres não residentes nos municípios após a perda.

O questionário do enfrentamento da mulher em relação ao óbito fetal é atualmente utilizado pelo CERIF e consolidado na Universidade do Quebec, em Outaouais. Estará disponível nas duas línguas oficiais da população de estudo: francesa e portuguesa.

A aplicação do questionário será no domicílio das mulheres. Em 2013, foi realizada a coleta de dados no Brasil, e em 2014 é feita pela doutoranda no Canadá, em seu estágio no exterior por meio do financiamento do Programa Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Os riscos da participação na pesquisa envolverão possível desconforto emocional pela lembrança do fato e incômodo físico pelo questionário extenso. No entanto, os benefícios superam os riscos, pois possibilitam um momento de expressão acerca do sentimento em relação à perda da gravidez e promovem um apoio no momento de luto.

A avaliação de tendência das taxas de mortalidade fetal será feita com diagrama de dispersão entre os coeficientes pelo programa estatístico SPSS. Já a investigação da atenção pré-natal e pós-parto e do enfrentamento do óbito fetal acontecerá por meio da análise temática de conteúdo.

O estudo segue as normas de pesquisa envolvendo seres humanos conforme Resolução nº466/12 do Conselho Nacional de Pesquisa, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá e da Universidade do Quebec.

 

REFERÊNCIAS

1. Cousens S, Blencowe H, Stanton C, Chou D, Ahmed S, Steinhardt L, et al. National, regional, and worldwide estimates of stillbirth rates in 2009 with trends since 1995: a systematic analysis. The Lancet [ internet ]. 2011 April 14 [ cited 2013 jan 18 ] 16(377):1319-30. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0140673610623100

2. Lawn JE,Blencowe H, Pattinson R, Cousens S, Kumar R, Ibiebele I, et al. Stillbirths: Where? When? Why? How to make the data count? The Lancet [ internet ]. 2011 April 14 [ Cited 2013 jan 20 ] 16(377):1448-63. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(10)62187-3/fulltext.

3. Scott J. Stillbirth: breaking the silence of a hidden grief. The Lancet [ internet ]. 2011 April 14 [ cited 2013 jan 22 ] 16(377):1386-88. Available from:http:// www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(11)60107-4/fulltext#article_upsell.

 

 

Todos os autores participaram das fases dessa publicação em uma ou mais etapas a seguir, de acordo com as recomendações do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE, 2013): (a) participação substancial na concepção ou confecção do manuscrito ou da coleta, análise ou interpretação dos dados; (b) elaboração do trabalho ou realização de revisão crítica do conteúdo intelectual; (c) aprovação da versão submetida. Todos os autores declaram para os devidos fins que são de suas responsabilidades o conteúdo relacionado a todos os aspectos do manuscrito submetido ao OBJN. Garantem que as questões relacionadas com a exatidão ou integridade de qualquer parte do artigo foram devidamente investigadas e resolvidas. Eximindo, portanto o OBJN de qualquer participação solidária em eventuais imbróglios sobre a materia em apreço. Todos os autores declaram que não possuem conflito de interesses, seja de ordem financeira ou de relacionamento, que influencie a redação e/ou interpretação dos achados. Essa declaração foi assinada digitalmente por todos os autores conforme recomendação do ICMJE, cujo modelo está disponível em http://www.objnursing.uff.br/normas/DUDE_final_13-06-2013.pdf

 

 

Recebido:10/06/2014
Revisado:05/08/2014
Aprovado:05/08/2014