EDITORIAL

Jogo dos sete erros no processo de submissão de artigos científicos (Parte 1): o cavalo e a cenoura

Dalmo Valério Machado de Lima¹

¹Universidade Federal Fluminense

RESUMO
Este editorial não tem a pretensão de constituir-se em um compêndio metodológico, tampouco um manual de boas práticas de publicação em saúde. Objetiva-se, contudo, discorrer um pouco sobre a experiência acumulada como editor chefe do Online Brazilian Journal of Nursing, cargo que ocupo desde 2011, e sua interseção às diretrizes internacionais quanto à otimização do processo de publicação científica em saúde. A ideia é dividir a temática em duas classes de editoriais: o jogo dos sete erros e; figuras de linguagem no processo de submissão de artigos científicos. Assim, abrindo o primeiro de sete editoriais acerca dos Jogos dos Sete Erros há de se esclarecer que os comentários que seguem não estão hierarquizados quanto à importância ou cronologicamente encadeados, embora conservem relativa verossimilhança com o segundo erro, posto que o anacronismo das observações não compromete o produto, desde que não negligenciadas.
Descritores: Formatos de Publicação; Acesso à Informação; Enfermagem Baseada em Evidências.

Este editorial não tem a pretensão de constituir-se em um compêndio metodológico, tampouco um manual de boas práticas de publicação em saúde. Ao que se refere aos aspectos discricionários expostos tem-se nos Requisitos uniformes para manuscritos submetidos às revistas biomédicas⁽¹⁾, de autoria do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, uma boa leitura conceitual. Objetiva-se, contudo, discorrer um pouco sobre a experiência acumulada como editor chefe do Online Brazilian Journal of Nursing, cargo que ocupo desde 2011,e sua interseção às diretrizes internacionais quanto à otimização do processo de publicação científica em saúde. Destarte, como bem declamado por expoentes da música popular brasileira: “...que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas...”⁽²⁾, “ou não...”⁽³⁾.

A ideia é dividir a temática em duas classes de editoriais: o jogo dos sete erros e; figuras de linguagem no processo de submissão de artigos científicos.

Assim, abrindo o primeiro de sete editoriais acerca dos Jogos dos Sete Erros há de se esclarecer que os comentários que seguem não estão hierarquizados quanto à importância ou cronologicamente encadeados, embora conservem relativa verossimilhança com o segundo erro, posto que o anacronismo das observações não compromete o produto, desde que não negligenciadas. Ademais, o destaque para o número cabalístico 7 (sete) se deu menos por finitude das fontes de erros e mais pelo esforço de não se perder o trocadilho. Estabelecidos os prolegômenos, vamos lá:
A velha máxima do primeiro presidente da Petrobras, proferida durante o exercício de embaixador do Brasil em Washington, Estados Unidos da América, na primeira fase da ditadura militar brasileira, expressa de maneira inequívoca o primeiro erro: “...o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”⁽⁴⁾. Ledo engano, o que é bom para um pode ser péssimo para outro, dependendo do que se trata. O erro constitui-se em indexar a submissão / publicação a partir de uma hierarquia descendente do Qualis⁽⁵⁾, Fator de Impacto⁽⁶⁾ ou Índice H⁽⁷⁾. Nessa lógica absurda, todo o esforço de direcionamento de formatação e perfil editorial segue níveis hierárquicos descendentes, em que se tenta primeiramente o aceite no periódico mais altamente classificado, passando sucessivamente ao nível imediatamente inferior, até que sua publicação seja aceita, ou não.

A discussão acerca da heterogeneidade de frameworks das revistas científicas em saúde já foi matéria abordada em editorial(9) desse periódico e não será retomada nesse momento. Outrossim, o processo de rejeição sistemática de material submetido pelo autor determina minimamente duas consequências imediatas (a, b) e uma tardia (c):

• Desembolso de custos financeiros referentes às taxas de submissão que, além do valor normalmente elevado, frequentemente não são subvencionadas institucionalmente, recaindo sobre o autor esse ônus;
• Obsolescência dos dados coletados, o que dificulta ainda mais a dinâmica do aceite de material submetido. Nessa seara advêm dois outros aspectos:
• Os Comitês de Ética em Pesquisas, por força de lei(10), estão cada vez mais criteriosos para a aprovação de projetos de pesquisa envolvendo seres humanos, sobretudo, quanto aos estudos de intervenção. A responsabilidade da maneira pela qual os dados foram obtidos estende-se até ao periódico científico, que se vê impelido a criar mecanismos mais elaborados para salvaguardar os referidos aspectos éticos, dada a responsabilidade solidária. O OBJN, por exemplo, aceita apenas artigos cujos dados tenham sido coletados em até três anos, contabilizados retrospectivamente a partir da data de submissão. E, desde 2013 adotou o Documento Único de Aspectos Éticos (DUDE), que, por meio de assinatura digital de todos os autores, contempla: declaração de autoria e responsabilidade exclusiva de conteúdo; conflito de interesses; autorização de uso de imagem; transferência de direitos autorais; responsabilidade exclusiva por utilização de software; declaração de utilização ética de animais (se aplicável).
• Com a velocidade de acesso e inovação de informações em saúde, advinda sobretudo por conta das bases eletrônicas de dados, supedâneo da Prática Baseada em Evidências(10), os periódicos tendem a privilegiar as pesquisas de intervenção cujos dados sejam mais recentes.

Em suma, as consequências em curto prazo da lógica do cavalo correndo ad infinitum atrás da inalcançável cenoura são: oneração do autor e perda do apelo fugaz da juventude dos dados, na medida em que muito tempo se dissipa entre: obtenção de aporte financeiro para pagamento da taxa de submissão do artigo; formatação de acordo com as normas da revista; tempo de revisão.

• A consequência, em longo prazo, mais nefasta é o desestímulo a produção de artigo científico, dada a recorrente rejeição, desencadeando a sensação de frustração e impotência que podem matar, ainda na manjedoura, um brilhante pesquisador.

Nesse cenário, a sugestão aos autores é se debruçar sobre a milenar obra de Sun Tzu, A Arte da Guerra⁽¹¹⁾, que professa: “Se conheces os demais e te conheces a ti mesmo, nem em cem batalhas correrás perigo; se não conheces os demais, porém te conheces a ti mesmo, perderás uma batalha e ganharás outra; se não conheces aos demais nem te conheces a ti mesmo, correrás perigo em cada batalha”.

Assim, para que o intrépido autor não corra perigo demasiado e desnecessário numa expedição de vitória incerta cabe-lhe conhecer o território que se pretende invadir: missão, visão, valores, perfil, regularidade, assiduidade, pontualidade, número de artigos por fascículos, tempo médio de revisão, tipos de desenhos metodológicos mais aceites, temática de interesse, custos de submissão, edição e publicação etc. As formas de obter respostas a essas lacunas é dedicar parcela preliminar do tempo de confecção do artigo para: (1) elaborar planilha de demonstrativa de todos os itens de interesse a serem cotejados; (2) eleger os potenciais periódicos alvo; (3) explorar os websites de cada periódico a fim de preencher todos os campos da planilha, acrescidos de campos para o nome e endereço eletrônico do editor chefe; (4) realizar avaliação criteriosa das revistas mais propensas a aceitar o material produzido; (5) enviar uma query letter ao editor de no máximo três parágrafos com as seguintes informações: (a) Quem é o autor, incluindo formação, afiliação, grupo de pesquisa e país de origem; (b) Do que se trata sua pesquisa quanto ao desenho, população, problema explorado, sem, contudo enviar resultados (p-valor, frequências ou inferências); (c) justificar o interesse em publicar na referida revista e indagar se seu produto é tempestivamente de interesse ao periódico, a fim de que se submeta ao processo formal de submissão.

A query letter ainda não é muito cultural no Brasil, contudo, trata-se de uma iniciativa bastante positiva e tende a se disseminar. Como resposta, podem advir: (1) respostas genéricas e preteríveis: as normas de submissão estão disponíveis no site; (2) indicação positiva; (3) indicação positiva, contudo, intempestiva. Nesse sentido, é altamente recomendável verificar se o periódico não está aceitando algum tipo de desenho naquele momento, por exemplo, estudos de revisão; (4) indicação negativa, no entanto, propositiva para outro periódico sugerido ou não; (5) Não responsividade. Seja lá como for, ter-se-á um norte ou um oriente, dependendo da época que se trata.

O Open Journal Systems (OJS), plataforma em que se estrutura o OBJN, permite ao leitor, em TODAS as publicações, a ferramenta “INCLUIR COMENTÁRIO”, localizado abaixo das referências e do número do Digital Object Identifier (DOI). É importante que os leitores utilizem mais essa ferramenta, a título de feedback acerca dos conteúdos publicados. É uma boa hora para iniciar!

REFERÊNCIAS

1. Comitê internacional de editores de revistas médicas. Requisitos Uniformes para manuscritos submetidos às revistas biomédicas: edição e redação de publicações biomédicas J bras Doenças Sex Transm [ internet ]. 2011;23(4):226-240

2. Montenegro O [ homepage na internet ]. Metade. [ Acesso em 26 mar 2014 ]. Disponível em: http://letras.mus.br/oswaldo-montenegro/72954/

3. Franco W [ homepage na internet ]. Cabeça. [ Acesso em 18 mar 2014 ]. Disponível em: http://letras.mus.br/walter-franco/718662/

4. Klintowitz J. A história do Brasil em 50 frases. São Paulo: Leya Brasil; 2013.

5. CAPES [ homepage na internet ]. Webqualis. [ acesso 26 mar 2014 ]. Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam

6. Thomson Reuters [ home page na internet ]. Journal Citation Reports. [ s.l. ]: Thomson Reuters; [ Acesso em: 20 mar 2014 ]. Disponível em: http://thomsonreuters.com/journal-citation-reports/

7. Elsevier. Scopus [ base de dados online ] Waltham (MA): Elsevier [ Acesso em: 22 mar 2014 ]. Disponível em: http://www.scopus.com/authid/detail.url?authorId=24480961300

8. Lima DVM. Equalization and free access to information: basis for the effective iberian-american cooperation. Online braz j nurs [ Internet ]. 2011 April [ Cited 2014 Mar 27 ] 10 (1):. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3223.

9. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n°. 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União Poder Executivo 13 jun 2013; seção 1.

10. Sackett DL, Starus SE, Richardson WS, Rosenberg W, Haynes RB. Medicina baseada em evidências: prática e ensino. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed; 2003.

11. Sun T. A arte da Guerra. 1ª Ed. São Paulo: Record;2006.

Referência da imagem: Stik. Cow Carrot Incentive Error [ ilustração ].[ s.l. ]. Disponível em: http://karapana.files.wordpress.com/2007/11/bgr0286l.jpg

Recebido: 09/01/2014
Revisado: 24/03/2014
Aprovado: 24/03/2014