NOTAS PRÉVIAS

 

O cuidar diante da finitude nas instituições hospitalares: um estudo descritivo

 

Magda de Souza Chagas1, Emerson Elias Merhy2, Ana Lucia Abrahão3, Maria Paula Cerqueira4, Erminia Silva5

1,2,4 Universidade Federal do Rio de Janeiro
3 Universidade Federal Fluminense
5 Universidade Estadual Paulista

 


RESUMO
Problema: A morte, embora presente nos espaços de serviços da saúde, encontra-se como a “morte interdita”, exilada, encaixotada e tratada como o insucesso, sendo poucas as iniciativas e ofertas de cuidado e preparo para quem vai morrer, para a família, para os profissionais e cuidadores.
Objetivo Geral: Analisar o processo de morrer como objeto do cuidado no cotidiano e na prática hospitalar, a partir da morte como acontecimento.
Método: O estudo estará centralizado no significado do fenômeno, que a partir de um conjunto de técnicas, orientado pela abordagem qualitativa, será capaz de responder aos desafios teóricos e práticos inscritos no desenho da investigação. Como instrumentos de coleta de dados serão utilizados o diário de campo e entrevistas. Os sujeitos do estudo serão usuários da enfermaria de onco-hematologia do Hospital Universitário Antônio Pedro, Niterói/RJ. O material será analisado a partir dos núcleos de sentidos com a análise de conteúdo segundo Bardin.
Descritores: Morte; Tanatologia; Cuidado Paliativo


 

SITUAÇÃO PROBLEMA E SUA SIGNIFICÂNCIA

A morte é provocadora de incômodos principalmente na cultura contemporânea ocidental, mas não foi sempre assim. A maneira de olhar a morte depende do momento histórico e dos sentidos que as culturas dão à morte. Diferente do que já aconteceu na antiguidade, onde a morte tinha lugar central na vida e era vivida na e em família. Hoje, após a modernidade, a vida passou a ter lugar central e a morte a ser escondida, passando a representar o que não se quer por perto, o indesejável e, com raríssimas exceções, o local escolhido para seu desfecho continua sendo as instituições hospitalares(1). No entanto, “ela”, que tem presença constante nos serviços de saúde em todos os níveis de gestão e de complexidade, impacta diretamente nos profissionais(2), nos familiares que vivem a perda e na pessoa vivendo com a morte anunciada. O impacto deste acontecimento não é obrigatoriamente transformado em experiência. Fazer da morte um acontecimento é produzir o singular no encontro, o bom encontro.

 

OBJETIVO

Geral

Analisar o processo de morrer como objeto do cuidado no cotidiano e na prática hospitalar, a partir da morte como acontecimento.

Específicos

Conhecer outras possibilidades de construções e experimentações na morte, que não apenas sofrimento e tristeza, a partir das vivências dos pacientes/usuários atendidos nos serviços de saúde; Descrever as formas e modos de cuidar da equipe de saúde durante o processo de morte no ambiente hospitalar.

 

MÉTODO

A proposta centra-se na abordagem qualitativa, de caráter descritivo, que responde a questões muito particulares se preocupando com parte da realidade e do fenômeno que se quer investigar, que não pode ser quantificado. Neste sentido, o presente estudo se insere no campo da pesquisa qualitativa, posto que busca investigar o processo de cuidar durante a morte-morrer.

O cenário da pesquisa será a enfermaria de onco-hematologia do Hospital Universitário Antônio Pedro, Niterói/RJ. A técnica de coleta de dados será a entrevista semiestruturada, prevista para ocorrer entre novembro de 2013 e março de 2014.

Como sujeitos da pesquisa serão convidados os usuários internados no serviço, que estejam em tratamento onco-hematológico e vivenciando o processo de finitude humana, ou processo anunciado, durante o período definido de coleta de dados. Serão excluídos aqueles que não apresentarem condições clínicas para responder a entrevista e menores de 18 anos. Serão sujeitos, ainda, os familiares dos usuários elegíveis, que aceitarem participar livremente da pesquisa, maiores de 18 anos. Serão excluídos àqueles que mantêm pouco vínculo com o usuário e que não compareçam a enfermaria durante o período de coleta. Também serão entrevistados os profissionais de saúde que atuam na enfermaria que não estejam em férias ou licença no momento da coleta de dados. Excluir-se-ão da amostra: professores, alunos e estagiários de qualquer área da saúde em atividades na referida enfermaria. Estima-se a participação de cinco usuários, cinco familiares e dez profissionais de saúde. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) será lido pela pesquisadora para todos os sujeitos da pesquisa e serão esclarecidos os objetivos, riscos e benefícios do estudo, em acordo aos preceitos éticos, antes da assinatura e aceite em participar.

Conformando a proposta de pesquisa qualitativa descritiva, será utilizado o método do usuário-guia ou caso traçador que parte do princípio de que os usuários dos estabelecimentos de saúde, em geral, buscam formas de vínculos aos territórios em que são atendidos de modos muito singulares. O caso traçador é um conceito originário das pesquisas em ciências biológicas e estudos clínicos, que pode ser aplicado ao campo da avaliação de serviços de saúde(3). O método permite avaliar o processo de trabalho de uma equipe de saúde, a partir da reconstituição de um caso, possibilitando uma melhor observação do ato de cuidar prestado ao usuário. O material será analisado a partir dos núcleos de sentidos com a análise de conteúdo segundo Bardin.

O projeto está sob a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFF, CAAE: 5963613.5.0000.5243.

 

REFERÊNCIAS

1. Chagas MS, Merhy EE. Trabalho vivo em ato na defesa da vida até na hora da morte. Lugar Comum-Estudos de Mídia, Cultura e Democracia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Laboratório Território e Comunicação-LABTeC/ESS/UFRJ. 2009, set-dez; 29:187-204.

2. Sabatke CE, Montezeli JH, Venturi KK, Ferreira APA. Experience the death of victims of trauma in ready-salvage descriptive study. Online braz j nurs [ Internet ]. 2012 April [ Cited 2013 Sept 18 ] 11 (1):. Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3601. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1676-4285.20120013.

3. Minayo MCS.(org.). Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Ed.Vozes 29ªedição, 2010. 108p.

 

 

DADOS DO PROJETO
Projeto de doutorado vinculado ao programa de pós-graduação da Clínica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, linha de pesquisa Micropolítica do Trabalho e Cuidado em Saúde.

 

 

Recebido:18/09/2013
Revisado:25/09/2013
Aprovado:27/09/2013