RESUMO DE TESES E DISSERTAÇÕES
O contato e a amamentação precoces em um hospital amigo da criança
Eloana Ferreira D´Artibale1, Luciana Olga Bercini1
1Universidade Estadual de Maringá
RESUMO
Objetivo: Analisar as vivências e os significados do contato e amamentação precoces de puérperas internadas em um Hospital Amigo da Criança, bem como os fatores envolvidos nestas práticas.
Método: Estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, realizado entre novembro de 2011 e janeiro de 2012 com 16 sujeitos. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo, modalidade temática.
Resultados: A aproximação entre o binômio mãe-filho logo após o nascimento proporcionou uma experiência única à mulher, com sentimentos e significados favoráveis ao vínculo mãe-filho e ao início da amamentação. Os principais obstáculos para a efetivação do contato e amamentação precoces foram: a prioridade dada aos cuidados de rotina após o nascimento e, o parto cesáreo.
Conclusão: Para a consolidação do quarto passo da Iniciativa Hospital Amigo da Criança é necessário ir além de uma abordagem meramente técnica, há que se relevarem as características socioculturais das pacientes, os profissionais, instituições e a sociedade.
Descritores: Interação Mãe-Filho; Aleitamento Materno; Humanização da Assistência; Enfermagem.
INTRODUÇÃO
A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) foi idealizada em 1990 visando aumentar as taxas e os benefícios do aleitamento materno. Os hospitais que desejam se credenciar à iniciativa devem atender critérios globais mínimos, descritos como “Dez passos para o sucesso do aleitamento materno”(1).
Entre os dez passos destaca-se o quarto que estabelece que se devam colocar os bebês em contato pele a pele com suas mães, imediatamente após o parto por no mínimo uma hora e encorajar as mães a reconhecerem quando seus bebês estão prontos para serem amamentados, oferecendo ajuda se necessário(1).
Quando a interação entre o binômio é iniciada logo após o parto, ocorre a humanização e a qualificação da assistência prestada à mulher e ao recém-nascido(2). Portanto, o contato precoce deve ser realizado assim que possível.
Muitas vezes, os serviços e os profissionais de saúde enfatizam mais os aspectos práticos e biológicos do contato e da amamentação, em detrimento de questões singulares da mulher(3,4). Contudo, sendo a puérpera a agente do processo em questão, é fundamental que seus desejos e aspectos socioculturais sejam levados em conta.
Dessa forma, este estudo teve como objetivo analisar as vivências e os significados do contato e da amamentação precoces de puérperas internadas em um Hospital Amigo da Criança, bem como os fatores envolvidos em tais práticas.
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa. Participaram da pesquisa 16 mulheres que foram admitidas para o parto no Hospital Universitário Regional de Maringá e que se encontravam aptas a amamentar e a estabelecer o contato com o seu bebê logo após o nascimento. A coleta de dados foi realizada de novembro de 2011 a janeiro de 2012, por meio de observação sistemática não participante dos partos, anotações de diário de campo e entrevista semiestruturada, realizada após o parto. Para o tratamento dos dados foi aplicada a análise de conteúdo modalidade temática. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá com Parecer nº509/2009.
RESULTADOS
Observou-se que apesar da presença do acompanhante no momento do parto ter sido uma prática vivenciada por poucas participantes, esta se constituiu um fator favorável para a efetivação do quarto passo.
As puérperas mostraram-se bastante receptivas à realização do quarto passo, todavia, apresentaram ter pouco conhecimento em relação a essa prática, mostrando-se em alguns momentos surpresas e despreparadas.
Para as participantes, o momento do contato e amamentação precoces foi carregado de emoções, às vezes difíceis de descrever. O tempo necessário para o início do contato esteve relacionado à prioridade dada aos cuidados de rotina e ao parto cesáreo, que interferiu negativamente no contato e amamentação precoces, na medida em que adiou esse primeiro encontro.
O estudo revelou ainda que o quarto passo não foi plenamente desenvolvido como preconizado pela IHAC, entretanto, práticas intermediárias para a sua efetivação foram percebidas, como o contato entre mãe e filho ainda dentro do período descrito como “sensitivo”. Este se refere ao momento no qual, os recém-nascidos se encontram mais sensíveis a estímulos táteis, térmicos e de odores e, os níveis de catecolaminas estão elevados, facilitando assim, o início da amamentação(5).
A prática assistencial ao parto e o processo de trabalho mostraram ser decisivos na caracterização da assistência, facilitando a visualização das principais barreiras e caminhos para o desenvolvimento e efetivação do quarto passo da IHAC. Portanto, os dados da pesquisa instigam um pensamento crítico-reflexivo dos profissionais sobre a importância de modificações nas práticas e saberes que modulam a atenção em relação ao fenômeno investigado.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados dessa pesquisa, pode-se afirmar que há um longo caminho a percorrer para a consolidação do quarto passo. Faz-se necessário ir além de uma abordagem meramente técnica, uma vez que estão envolvidas as características socioculturais específicas das pacientes, os profissionais, as instituições e a sociedade. Para mudar tal realidade, precisamos investir na discussão de ideias referentes à IHAC e, acima de tudo, criar oportunidades para que essas ideias sejam efetivadas e vivenciadas, a fim de partirmos para ações que concretizem os preceitos defendidos por esta iniciativa humanizadora da atenção à saúde materno-infantil.
REFERÊNCIAS
1. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Iniciativa Hospital Amigo da Criança: revista, atualizada e ampliada para o cuidado integrado: modulo 1: histórico e implementação. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2008.
2. Barbosa V, Orlandi FS, Dupas G, Beretta MIR, Fabbro MRC. Aleitamento materno na sala de parto: a vivência da puérpera. Cienc Cuid Saude. 2010; 9(2):366-73.
3. Soares RSS, Lessa PME, Pinheiro P, Damasceno A. Parturient´s companion and their relationship with the nursing team: a qualitative study. Online Braz J Nurs [ Internet ]. 2010 June [ Cited 2012 October 23 ] 9(1). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/2867
4. Strapasson MR, Fisher ANC, Bonilha ALL. Amamentação na primeira hora de vida em um hospital privado de Porto Alegre: relato de experiência. Rev Enferm UFSM. 2011; 1(3): 489-96.
5. Moore ER, Anderson GC. J Midwifery Womens Health. 2007; 52(2):116-25.
Bibliografia de referência: D´Artibale EF. O contato e a amamentação precoces no contexto de um Hospital Amigo da Criança. [Dissertação]. Maringá (PR), Brasil: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá; 2012.
Data da defesa: 27 de Setembro de 2012. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Universidade Estadual de Maringá.
Banca examinadora: Profa. Dra. Luciana Olga Bercini (UEM); Profa . Dra. Ana Lúcia de Lourenzi Bonilha (UFRGS); Profa. Dra. Ieda Harumi Higarashi (UEM).
Recebido: 09/11/2012
Revisado: 15/01/2013
Aprovado: 24/02/2013