EDITORIAL

 

 

Influência da religiosidade e espiritualidade na saúde: reflexões para o cuidado de enfermagem

 


Elaine Antunes Cortez1

1Universidade Federal Fluminense

 


RESUMO
Pesquisas voltadas para a relação entre a influência da religiosidade na saúde têm avançado e seus resultados se tornam mais consistentes. O cuidado de enfermagem deve incluir o mundo de quem é cuidado, o que torna necessária a compreensão das crenças religiosas e das diversas formas de expressar a religiosidade/espiritualidade. Assim, a dimensão da religiosidade/espiritualidade deve ser valorizada pelos enfermeiros e estes precisam refletir acerca da dimensão afetiva envolvida no cuidado.
Palavras-chave: Enfermagem; Saúde; Crenças Religiosas; Espiritualidade.


 

A urgência de discussões sobre religiosidade, crenças e práticas religiosas, espiritualidade, fé e sua relação com a saúde é notória. Na prática profissional, o debate sobre a fé e sua relação com a saúde é um fenômeno resultante, principalmente, da demanda dos usuários ao invocarem um cuidado que contemple a sua saúde em dimensões mais amplas, inclusive religiosas e espirituais e; em virtude do ser humano buscar esperança e apoio social nas dificuldades da vida neste mudo moderno e conturbado.
No campo da literatura, mesmo que de forma tímida, essas temáticas já começam a ser aventadas, como se pode notar pela triplicação do número de trabalhos científicos publicados mundialmente, na última década. Além disso, os resultados dos estudos são progressivamente mais consistentes(1) e já comprovam que os benefícios de ser adepto a uma religião são maiores que os malefícios.
Segundo Koenig, três fatores influenciam a saúde de quem adota práticas religiosas: as crenças, que orientam e facilitam as decisões diárias contribuindo para redução do stress; o apoio social, no qual a comunidade religiosa oferece apoio emocional e até financeiro e; a adoção de hábitos saudáveis, que promovem a boa saúde(2). As pessoas ao adotarem práticas religiosas, ou quando mantêm alguma forma de espiritualidade, apresentam 40% menos chance de sofrer de hipertensão, além de possuir um sistema de defesa mais forte(2). Além disso, a religião pode atuar de modo salutar, auxiliando na manutenção da disposição do cliente e propiciando uma visão mais abrangente sobre a vida. O fato de se sentir amado por Deus representa um fator fundamental e gera um melhor bem-estar físico e psíquico para o cliente(2).
A base teórica e científica destas práticas poderia ser levada em consideração se o profissional de saúde tivesse o devido preparo científico para tal. Ademais, valorizar a dimensão religiosa não é uma questão de crer ou não em Deus, mas, sobretudo, considerar a realidade subjetiva e social que tem uma existência objetiva(3). Na Teoria do Cuidado Transpessoal de Watson, existe a premissa de que a força interna do ser é capaz de curar, e, para tanto, os cuidadores devem reconhecer primeiro em si mesmos esse potencial, como uma postura filosófica, de forma a acreditarem na força interna de todo ser humano(4). O cuidado de enfermagem deve incluir o mundo de quem é cuidado, o que torna necessária a compreensão das crenças religiosas e das diversas formas de expressar a religiosidade/espiritualidade.
Diante deste contexto, a dimensão do cuidar deve ser valorizada pelos enfermeiros e estes precisam refletir acerca da dimensão afetiva envolvida no cuidado, já que, estão inseridos em vários cenários e espaços.

 

REFERÊNCIAS

1. Cortez EA. Religiosidade e espiritualidade no ensino de enfermagem: contribuição da gestão participativa para a integralidade no cuidado. Tese [Doutorado em enfermagem]. Rio de Janeiro: Escola de enfermagem Anna Nery /UFRJ; 2009.

2. Koenig HG, (editor). Espiritualidade no cuidado com o pa­ciente. Por quê, como, quando e o quê. São Paulo: Editora FE; 2005.

3. Vasconcelos EM. A espiritualidade no trabalho em saúde. São Paulo: Hucitec; 2006.

4. George JB. Teorias de enfermagem: fundamentos para a prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2000.