ORIGINAL ARTICLES

 

Profile of children’s families afflicted by an accident in the domiciliary context

Perfil de famílias de crianças acidentadas no contexto domiciliar

 

Regiane P de Lima1, Lorena B Ximenes1, Luiza JE de S Vieira2, Mônica OB Oriá1

1UFC, CE, Brasil; 2UNIFOR, CE, Brasil

 

ABSTRACT. Accidents in the childhood, despite being potentially predictable and preventable, still can cause high child morbidity and mortality. This study aimed at defining a profile of their families, concerning family income, work status, maternal education and age, from which children had experienced domestic accidents. This is a descriptive study based on a quantitative approach. The sampling was 65 families of children currently attending two shelters in Fortaleza-CE, during 2004-2005. Parental interviews were conducted at their households, by using forms addressing socio-demographic characteristics and the occurrence of a previous domestic accident. Out of these 65, in 43 households, accidents had been reported. There was no statistical association between domestic accidents and family income, occupational status, maternal education and age. In 56 families, the monthly income was 02 minimum salaries at most, 27 mothers did not work outside their homes, 40 mothers did not complete the primary school and 15 mother’s age ranged between 21 and 24 years old. Therefore, by knowing the real situation of the children’s families whom experienced domestic accidents, the nurses can plan activities based on health education, which might prevent accidents and ultimately promoting child health.

 Keywords:  Accidents, Home; Child; Family

 RESUMO. Os acidentes na infância, apesar de potencialmente previsíveis e preveníveis, causam alta morbi-mortalidade infantil. O estudo teve como objetivo traçar o perfil das famílias quanto à renda familiar, ocupação, instrução e idade materna cujas crianças na primeira infância vivenciaram acidentes domésticos. Estudo descritivo com abordagem quantitativa. A amostra constituiu-se de 65 famílias de crianças matriculadas em duas creches, em Fortaleza-CE, em 2004-2005. Realizaram-se entrevistas com os pais, nos domicílios, utilizando-se formulários com assuntos referentes às condições sócio-demográficas e ocorrência de acidentes domésticos. Dos 65 domicílios, em 43 ocorreram acidentes. Não se verificou associação estatística significante entre renda familiar, ocupação, instrução, idade materna e a ocorrência dos acidentes domésticos. Em 56 famílias a renda total foi de no máximo 02 salários mínimos, 27 mães não trabalhavam fora do lar, 40 mães não concluíram o ensino fundamental e 15 mães tinham idade entre 21 e 24 anos. Desta forma, ao conhecer a real situação das famílias das crianças que experienciaram acidentes domésticos, a Enfermagem pode planejar atividades de educação em saúde, que proporcionem a prevenção dos acidentes e, conseqüentemente, promovam a saúde infantil.  

Palavras-chave: Acidentes domésticos; Criança; Família 

INTRODUÇÃO 

Os acidentes domésticos em crianças podem ser considerados um importante problema de saúde pública, acarretando desde incapacidade física temporária até seqüelas graves e permanentes, ou mesmo morte. O acidente, como qualquer outra doença, tem causa e determinantes epidemiológicos, podendo assim, ser evitado e controlado(1). O acidente geralmente é o resultado de um conjunto de fatores que tornam mais ou menos previsível a sua ocorrência, não ocorrendo, portanto, ao acaso(2).

O tema tem alcançado relevância nos países desenvolvidos, principalmente após os avanços no controle das doenças infecciosas, tornando os acidentes uma das principais causas de morbi-mortalidade na infância(2). Nos países industrializados, em média, 50% dos óbitos de crianças com idade superior a 01 ano são ocasionados por acidentes(1)

Em 2004, no Ceará, as causas externas foram responsáveis por 20 óbitos em crianças menores de 01 ano, 65 em crianças na faixa etária de 01 a 04 anos e 105 mortes em crianças com idade entre 05 e 09 anos, estando entre as principais causas de morbi-mortalidade nessas faixas etárias(3).

Os fatores sociais, como o desenvolvimento dos aglomerados urbanos, com condições desfavoráveis de subsistência, associado ao empobrecimento progressivo e o elevado nível de desinformação da população brasileira, são importantes variáveis relacionadas com aumento da freqüência de ocorrências de trauma infantil(4).

A taxa de acidentes é maior em famílias com condições socioeconômicas mais baixas, que residem em domicílios com estruturas mais precárias. Porém, torna-se complicado estabelecer se essas taxas maiores são conseqüências da própria moradia, das características inerentes aos moradores ou uma combinação de ambos os fatores(5).

As crianças estão expostas a inúmeras situações consideradas de risco à sua saúde, principalmente em populações em que há desigualdades sociais, nas quais esses fatores de risco são mais freqüentes. Por esse motivo, faz-se necessária a implantação de atividades voltadas para a prevenção desses agravos e promoção da saúde das crianças(6).

Ainda, o tipo de educação dispensada à criança pode influenciar na ocorrência de acidentes. As crianças que adquirem liberdade desde cedo, vivenciam uma maior quantidade de situações de risco para acidentes, porém, aprendem a lidar mais prematuramente com essas situações. Em contrapartida, as crianças superprotegidas têm maior dificuldade de lidar com essas experiências e se tornam mais vulneráveis a elas(2).

Assim, os acidentes têm contribuído significativamente para elevar a taxa de morbi-mortalidade infantil, pois, além de estarem intimamente relacionados com a própria fase da infância, estes também refletem, muitas vezes, a falta de capacidade protetora da família e o desconhecimento dos inúmeros fatores de risco que permeiam o cotidiano da criança(7).

Em média, dois terços de todos os acidentes com crianças ocorrem dentro de casa, e a maioria poderia ter sido evitada(8). Sobre a influência do domicílio na ocorrência de acidentes com crianças, vale a pena ressaltar que não é de surpreender que a maior parte dos acidentes nele ocorra, haja vista o grande período que as crianças pequenas permanecem no mesmo ou em seu entorno. Isso exige que os responsáveis pelas crianças tenham conhecimento dos riscos do ambiente, tomando medidas para evitá-los ou prevení-los, pois ao mesmo tempo em que o domicílio pode propiciar a ocorrência destes agravos, ele pode funcionar também como um meio facilitador para ações preventivas e educativas, neutralizando a existência de tal risco(5,9).

Assim, justifica-se a necessidade de estudos dentro do âmbito familiar, identificando o perfil sócio-demográfico das famílias e a ocorrência de acidentes domésticos com as crianças na fase de ‘toddler’ e pré-escolar, de forma que a Enfermagem possa desenvolver estratégias educativas junto às famílias, visando à prevenção destes agravos, e conseqüentemente, a promoção da saúde infantil. 

Logo, o objetivo deste estudo foi traçar o perfil sócio-demográfico das famílias cujas crianças na primeira infância experienciaram acidentes domésticos. 

METODOLOGIA

O estudo foi do tipo descritivo com abordagem quantitativa. Um estudo de abordagem quantitativa deve envolver a coleta sistemática de informação numérica geralmente sob condições de muito controle, além de ter suas informações analisadas utilizando procedimentos estatísticos(10).

A população foi constituída por 113 famílias de crianças na fase de ‘toddler’ (01 a 03 anos) e pré-escolar (03 a 06 anos) que se encontravam matriculadas em duas creches da Secretaria de Educação do Município, localizadas no bairro Planalto Airton Senna, em Fortaleza-Ceará.

Optou-se por estudar essa população porque ela está vinculada ao projeto de pesquisa de iniciação científica intitulado ‘Acidentes domésticos em crianças na fase de ‘toddler’ e pré-escolar’, financiado pelo CNPq, bem como trata-se de um subprojeto de pesquisa ‘O contexto familiar e escolar influenciando no processo saúde-doença da criança na primeira infância’, que é financiado pela FUNCAP.

A amostra foi calculada baseada na fórmula estatística para populações finitas, resultando em 65 famílias. A seleção foi feita após acesso às fichas das crianças que estavam matriculadas nas creches, adotando os seguintes critérios: crianças na faixa etária de 01 a 06 anos e que freqüentavam as creches.

Ressalta-se que foram encontradas algumas dificuldades durante a coleta dos dados relacionadas ao acesso dos domicílios, a existência de endereços errados e/ou incompletos ou ausência dos pais e/ou responsáveis no momento da visita, sendo realizada uma visita a cada família.

Os dados foram coletados no período compreendido entre dezembro/2004 e julho/2005 com as famílias das crianças, em seus domicílios. Para tanto, foram aplicados formulários, em que constavam dados referentes à estrutura da família, condições sócio-demográficas e a ocorrência de acidentes no contexto domiciliar, por meio de entrevista.

Os dados foram tabulados em planilha eletrônica (EXCEL) e processados no Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 11.0), fixando para todos os testes estatísticos com o nível de significância de 0,05, para posteriormente serem discutidos de acordo com a literatura pertinente.

As normas e diretrizes instituídas pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio da Resolução N° 196/96, para a pesquisa em saúde, foram seguidas durante todo o desenvolvimento da pesquisa. Logo, o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, sob o protocolo no 101/04, tendo obtido aprovação.

Antes de iniciar a pesquisa de campo, foi solicitado às diretoras das duas creches a autorização para selecionar as famílias das crianças. Depois de selecionadas, foi feito um contato com as mães e/ou responsáveis pelas crianças, esclarecendo-as sobre os objetivos da pesquisa, com o intuito de que aceitassem participar da mesma. Nas visitas domiciliares às famílias foi solicitado que as mesmas assinassem o termo de consentimento pós-informação assegurando o sigilo, o anonimato, o livre acesso às informações, bem como, liberdade para sair da pesquisa no momento em que acreditasse ser oportuno. 

DISCUSSÃO

Conforme mencionado anteriomente, a amostra do estudo constou de 65 famílias de crianças na fase de ‘toddler’ (01 a 03 anos) e pré-escolar (03 a 06 anos), matriculadas em duas creches em Fortaleza-Ceará.

As famílias visitadas apresentavam, em sua grande maioria, condições sócio-demográficas desfavoráveis. As condições sanitárias eram precárias, os domicílios eram compostos de poucos cômodos, o que favorecia a aglomeração de pessoas em um pequeno espaço. Observou-se uma média de 4,89 pessoas por domicílio, tendo o número de pessoas por domicílio variado de 02 a 11 pessoas.

Nas tabelas a seguir tentou-se estabelecer a associação entre as variáveis sócio-demográficas das famílias visitadas e a ocorrência de acidentes no contexto familiar.   

Tabela 01. Distribuição das famílias visitadas de acordo com a renda familiar e a ocorrência de acidentes domésticos em crianças. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

 

RENDA FAMILIAR

ACIDENTES

SIM

NÃO

N (%)

N (%)

menos de 1 salário

11 (25,6)

06 (27,3)

de 1 a 2  salários

25 (58,1)

14 (63,6)

de 2 a 5  salários

06 (14)

02  (9,1)

de 5 a 10  salários

01 (2,3)

-

TOTAL

43 (66,2)

22 (33,8)

X2 0,88 < 7,8147   p= 0,83    P(X2)= 7% (NS)

 

Segundo os dados apresentados na Tabela 01, não houve, no presente estudo, associação estatística significante entre a variável renda familiar e a ocorrência de acidentes no domicílio (p=0,83), fato que só veio a confirmar resultados obtidos em outros estudos, onde também não se verificou associação entre essas duas variáveis(5,11).

Entretanto, é interessante ressaltar que das 65 famílias visitadas, 17 apresentaram renda familiar inferior a 1 salário mínimo e 39, renda entre 1 e 2 salários mínimos, totalizando 56 famílias que apresentaram renda total de até 2 salários mínimos, demonstrando a desfavorável situação econômica em que essas famílias se encontravam.

De acordo com o Censo Demográfico 2000, ao observar-se o indicador de rendimento domiciliar per capita, 26,7% dos domicílios brasileiros possuíam renda de até 1/2 salário mínimo, em contraste com 28,4% que apresentavam rendimento superior a 2 salários mínimos(12). Com relação à renda familiar, identificou-se em outro estudo que mais de 50% das famílias, com ou sem acidentes, ganhava menos de 2 salários mínimos(13).

Destaca-se que das 43 (66,2%) famílias que vivenciaram acidentes com crianças em seus domicílios, 25 (58,1%) ganhavam até 1 salário mínimo e 11(25,6%) tinham renda entre 1 e 2 salários mínimos. Ainda, observa-se que das 22 (33,8%) famílias que não vivenciaram acidentes, 14 (63,6%) apresentavam renda familiar  entre 1 e 2 salários mínimos.

O fator socioeconômico possui uma influência direta na qualidade de vida da família, e pode ser considerado como um importante determinante na ocorrência de acidentes no contexto domiciliar(14). As famílias com classe socioeconômica baixa apresentam um número de fatores de risco no ambiente maior que a média, sendo maior a tendência ao fatalismo, menor a supervisão das crianças e, sob a visão da classe média, o arranjo domiciliar parece irresponsável, ilógico ou desleixado(5)

TABELA 02. Distribuição das famílias visitadas de acordo com a ocupação materna e a ocorrência de acidentes domésticos em crianças. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

 

OCUPAÇÃO MATERNA

ACIDENTES

SIM

NÃO

N (%)

N (%)

estudante

01 (2,3)

-

dona de casa

15 (34,9)

12 (54,6)

desempregada

06 (14)

05 (22,7)

autônoma

14 (32,5)

03 (13,6)

func. pública

03 (7)

01 (4,5)

func. emp. privada

04 (9,3)

01 (4,5)

TOTAL

43 (66,2)

22 (33,8)

X2 5,088 < 11,0705   p= 0,405    P(X2)= 59,5% (NS)

 

Por meio da Tabela 02 pode-se observar que não houve associação estatística significante entre a ocupação materna e a ocorrência de acidentes no domicílio (p=0,405). Um estudo, em Pelotas-RS, também não identificou associação entre o trabalho materno e a ocorrência de injúrias acidentais(11).

Contudo, destaca-se o fato de que das 43 (66,2%) mães que vivenciaram acidentes domésticos com crianças, 15 (34,9%) ocupavam-se exclusivamente dos afazeres domésticos. Além disso, 06 (14%) estavam desempregadas e 14 (32,5%) trabalhavam como autônomas, categoria na qual incluímos as vendedoras autônomas e diaristas. Isto comprova o fato de que a presença ou não de um adulto em casa, no caso a mãe, não impede que o acidente ocorra.

A mulher, em nossa sociedade, acumula uma diversidade de papéis na família, pois é responsável pelo cuidado do lar, dos filhos, pela resolução de problemas relacionados ao processo saúde-doença dos outros membros. Além disso, há as que acumulam uma dupla jornada, tendo que trabalhar fora de casa para ajudar na subsistência da família. Essa situação além de gerar insatisfação na mulher, faz com que ela se torne sobrecarregada, possibilitando momentos de exaustão, esquecimento, diminuindo a atenção para com as crianças, facilitando a ocorrência dos acidentes(15). 

TABELA 03. Distribuição das famílias visitadas de acordo com a instrução materna e a ocorrência de acidentes domésticos em crianças. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

 

INSTRUÇÃO MATERNA

        ACIDENTES

SIM

NÃO

N  (%)

N  (%)

ens. fund. incompleto

25 (58,1)

15 (68,2)

ens. fund. completo

09 (20,9)

02 (9,1)

ens. med. incompleto

03 (7)

02 (9,1)

ens. med. completo

05 (11,6)

03 (13,6)

ens. sup. incompleto

01 (2,3)

-

TOTAL

43 (66,2)

22 (33,8)

X2 2,088 < 9,4877    p= 0,72    P(X2)= 28% (NS)

 

 Conforme a Tabela 03 observa-se que não houve associação estatística significante entre a variável instrução materna e a ocorrência dos acidentes (p= 0,72).

É importante ressaltar que das 43 (66,2%) mães que vivenciaram acidentes com seus filhos, 25 (58,1%) haviam cursado apenas parte do ensino fundamental. Ainda, 09 (20,9%) mães haviam concluído o ensino fundamental e 05 (11,6%) , o ensino médio. Já com relação as 22 (33,8%) mães cujas crianças não experenciaram acidentes no ambiente doméstico, 15 (68,2%) não haviam concluído o ensino fundamental.

Em uma pesquisa sobre a estrutura familiar de crianças acidentadas, em Fortaleza-CE, foram obtidas as seguintes proporções quanto à escolaridade: 50% dos informantes, que na grande maioria eram as mães das crianças acidentadas, cursaram no máximo o primeiro grau incompleto; 5% liam e escreviam com dificuldade; 15% eram analfabetos; 10% concluíram o primeiro grau e 20% o segundo grau(16).

Ainda, em outro estudo, observou-se que os pais possuíam o nível de escolaridade mais elevado que o das mães e que mais de 75% deles (pais e mães) tinham, no máximo, iniciado o ensino fundamental. Quanto à relação entre a escolaridade dos pais com a ocorrência dos acidentes, os autores verificaram não existirem diferenças significativas entre os dois grupos (com e sem acidentes)(13).

Apesar disso, o baixo nível de escolaridade pode ser interpretado como um fator desfavorável na assimilação e aquisição de comportamentos preventivos por parte das famílias(16).

A escolarização das mães, que são as principais responsáveis pelo cuidado, influencia positivamente a atenção à saúde das crianças. Ao conhecer-se o perfil de escolaridade desta população, estratégias que facilitem a assimilação das informações sobre a promoção da saúde das crianças podem ser traçadas pelos profissionais de saúde. 

TABELA 04. Distribuição das famílias visitadas de acordo com a idade materna e a ocorrência de acidentes domésticos em crianças. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

 

IDADE MATERNA

ACIDENTES

SIM

NÃO

N  (%)

N  (%)

18 < 21

07 (16,3)

03 (13,6)

21 < 24

11 (25,6)

04 (18,2)

24 < 27

09 (20,9)

03 (13,6)

27 < 30

04 (9,3)

-

30 < 33

03 (7)

03 (13,6)

33 < 36

06 (14)

05 (22,7)

36 < 39

01 (2,3)

02 (9,1)

39 < 42

01 (2,3)

01 (4,5)

42 ≤ 45

01 (2,3)

01 (4,5)

TOTAL

43 (66,2)

22 (33,8)

X2 25,735 < 36,4150    p=. 0,367    P(X2)= 63,3% (NS)

 

Como observado na Tabela 04, não se identificou associação estatística significante entre a idade materna e a ocorrência de acidentes (p=0,367).

Verificou-se que, das 43 mães cujas crianças sofreram acidentes no lar,  11 (25,6%), tinham idade entre 21 e 24 anos. Em seguida ficaram as mães com idade entre 24 e 27 anos, em um total de 09 (20,9%). Em contrapartida, dentre as 22 (33,8%) mães que não vivenciaram acidentes, observou-se que 05 (22,7%) tinham idade compreendida entre 33 e 36 anos.

Quanto à idade dos pais, em outro estudo, observou-se que, no grupo de famílias com acidentes, havia uma menor proporção de pais com idade superior a 35 anos, quando comparado ao grupo sem acidentes(13). Este dado pode estar relacionado ao fato de que os pais com idade mais elevada possuem mais experiência que os mais novos, podendo estar mais atentos às situações que proporcionam riscos de acidentes para as crianças.

Nas 65 famílias visitadas, observou-se um total de 108 crianças com idades compreendidas entre 01 e 06 anos. Constatou-se a ocorrência de 101 acidentes, envolvendo 57 crianças. Vale ressaltar que algumas crianças sofreram mais de um acidente. 

TABELA 05. Distribuição das crianças de 01 a 06 anos de idade de acordo com o sexo e a ocorrência de acidentes. Fortaleza, Ceará. 2004-2005.

 

SEXO

ACIDENTES

SIM

NÃO

                 N   (%)

     N   (%)

masculino

37 (64,9)

20 (39,2)

feminino

20 (35,1)

31 (60,8)

TOTAL

57 (52,8)

51 (47,2)

X2 7,131< 3,8414    p= 0,008     P(X2)= 99,2% (S)

 

 

De acordo com a Tabela 05, observa-se que houve associação estatística significante entre as variáveis (p=0,008).

Constatou-se que das 108 crianças com idade entre 01 e 06 anos, 57 eram do sexo masculino e 51 do sexo feminino. Das 57 (52,78%) crianças que experenciaram acidentes, 37 (64,9%) eram do sexo masculino e 20 (35,1%) do sexo feminino. Já com relação às crianças que não vivenciaram acidentes, observa-se que 20 (39,2%) eram do sexo masculino e 31 (60,8%) do sexo feminino, ou seja, o maior percentual de crianças que não sofreram nenhuma injúria acidental foi do sexo feminino.

Esta maior freqüência de acidentes em crianças do sexo masculino também foi observada em outras pesquisas(4, 17- 23).

Em uma pesquisa com uma amostra de 890 crianças de 0 a 12 anos vítimas de acidentes atendidas em um pronto-socorro pediátrico, 499 (56,1%) eram do sexo masculino e 391 (43,9%) do sexo feminino(20).

Já em um estudo envolvendo 159 crianças vítimas de trauma domiciliar atendidas em um hospital de referência no Ceará, observou-se que a parcela de crianças do sexo masculino chegou a 65,4% do total de crianças acidentadas(4).

A maior ocorrência de acidentes em meninos pode ser atribuída às atividades e comportamentos que são diferenciados nos dois sexos e aos fatores culturais. Os meninos ganham liberdade mais cedo que as meninas, desenvolvem atividades mais dinâmicas que elas, muitas vezes sem a supervisão adequada dos pais e/ou responsáveis, estando, portanto, mais expostos aos riscos do ambiente domiciliar(17, 20).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a realização deste estudo com crianças na fase de ‘toddler’ e pré-escolar que vivenciaram acidentes no ambiente domiciliar, pode-se verificar que:

·   Nos 65 domicílios visitados, residia um total de 108 crianças com idades compreendidas entre 01 e 06 anos. O número de injúrias acidentais encontradas foi 101, envolvendo 57 crianças, ressaltando-se que algumas delas sofreram mais de um acidente.

·   Não houve associação estatística significante quando se relacionou a renda familiar (p=0,83), ocupação (p=0,405), instrução (p=0,72) e idade materna (p=0,367) com a ocorrência de acidentes no domicílio.

·   Houve associação estatística significante entre o sexo da criança e a ocorrência de acidentes (p=0,008). Constatou-se que das 108 (100%) crianças com idade entre 01 e 06 anos, 57 eram do sexo masculino e 51 do sexo feminino. Dentre as crianças que experenciaram acidentes domésticos, 37 (64,9%) eram do sexo masculino e 20 (35,1%) do sexo feminino.

Estudos desta natureza, além de permitirem uma investigação sobre o contexto que envolve os acidentes no ambiente domiciliar, facilitam a atuação dos profissionais de saúde que trabalham com as crianças, pois, para um planejamento adequado das estratégias de educação em saúde, faz-se necessário conhecer a realidade das famílias, identificando as condições estruturais que as mães ou os responsáveis possuem, reconhecendo o potencial dos mesmos como cuidadores e sujeitos do processo de aprendizagem das ações de promoção à saúde da criança(6).

Diante do exposto, observa-se que ao se conhecer o cotidiano das famílias, a Enfermagem, além de obter dados mais significativos e fidedignos sobre a ocorrência dos acidentes na infância, pode ainda atuar no ambiente domiciliar, desenvolvendo ações educativas em saúde com os pais e/ou responsáveis e com as próprias crianças, visando a prevenção dos acidentes, e, conseqüentemente, promovendo a saúde infantil e elevando o nível de bem-estar da família como um todo.  

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Received Jun 26, 2006

Revised Jul 18, 2006

Accept Ago 19, 2006