NOTAS PRÉVIAS
Análise da formação em saúde: uma cartografia das mudanças curriculares no ensino
Ana Maria Pereira Brasílio de Araújo1, Ana Lúcia Abrahão1
1Universidade Federal Fluminense
RESUMO
Objetivo: construir uma cartografia do trabalho docente a partir das mudanças produzidas com a incorporação de novos paradigmas pedagógicos na formação em saúde. A publicação da Portaria nº 2530/2005, do Ministério da Saúde, homologa a política de incentivo às mudanças curriculares dos cursos de graduação da área da saúde. Entretanto, os efeitos do processo de mudança curricular no curso de graduação em enfermagem, ocorrem para além dos currículos na medida em que abalam as formas de ser, de sentir e de agir dos docentes. Método: traçar uma cartografia da formação, tendo como instrumentos de pesquisa, o diário de pesquisa e a análise da implicação. O tempo previsto para conclusão desta pesquisa é de 24 meses. Resultado: será analisado à luz na Análise Institucional. Os aspectos éticos serão respeitados, de acordo com a resolução 196/96.
Palavras-chave: Enfermagem; Ensino; Instituições Acadêmicas
SITUAÇÃO PROBLEMA E SUA SIGNIFICÂNCIA
A publicação da Portaria nº 2530, em dezembro de 2005, do Ministério da Saúde, homologa a política de incentivo às mudanças curriculares dos cursos de graduação da área da saúde. Tal medida, insere o curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Serra dos órgãos (UNIFESO) no movimento de mudança curricular, operacionalizada por meio do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde).
O Pró-saúde é um programa interministerial, dos Ministérios da Saúde e da Educação, cujo objetivo é reorientar o processo de formação habilitando os profissionais para o atendimento das necessidades de saúde da população brasileira.
Efeitos das diversas necessidades de superação dos descompassos históricos entre formação e cuidado na saúde, as mudanças curriculares que ganham visibilidade a partir do Pró-saúde, nele não se iniciam nem tem a pretensão de se encerrar. Desde a década de 1950 está em curso na América Latina, um movimento de reformulação curricular dos profissionais de saúde, numa tentativa de superação dos problemas enfrentados no cotidiano dos serviços e de ofertar melhor atendimento às necessidades de saúde da população(1).
Neste contexto, desde o final da década de 1990, o Curso de Enfermagem do UNIFESO reflete sobre a necessidade da mudança curricular. Entretanto, é somente no primeiro semestre de 2007 que a mudança curricular vem a ser efetivada, num processo que se consolida permanentemente.
Nesta proposta, cabe destacar a substituição das grades curriculares baseadas em disciplinas por um modelo integrado entre módulos tutoriais e de prática profissional que visam ativar o conhecimento por diferentes estímulos. A pedagogia da transmissão vem sendo substituída por um processo de ensino-aprendizagem que, mediado por metodologias ativas, tem nos estudantes a sua centralidade. Estes passaram também a imergir no mundo do trabalho desde o primeiro período do curso.
A proposta tomada pelo curso é de uma formação comprometida com o processo de aprender a aprender, onde o conhecimento não se resume a um processo de memorização ou de transferência de conhecimento de um sujeito a outro, mas é fruto da elaboração de conhecimentos prévios e de incorporações ao longo da formação.
O formar-se então, como movimento do processo de construção do conhecimento, é pensado aqui como comportando um inacabamento, na medida em que o docente como ocupante de um espaço destinado ao saber é ao mesmo tempo convocado a aprender.
Ao vivenciar esta convocação para o movimento do formar-se, algumas questões começaram a rondar a feitura deste projeto de pesquisa e se tornaram norteadoras deste percurso: como formar-se ocupando um lugar afirmado pelo estudante que, em sua busca de conhecimento tem no docente, muitas vezes, seu porto, vislumbrado como seguro? Como estar em um lugar, em que enquanto formo sou também formado? Como afetar-se pelas mudanças, desterritorializar-se, sair do centro de uma cena, num lugar em que por ofício formamos estudante, formamos gente?
Neste sentido, pensar o processo de mudança para além de currículos, na medida em que afeta todos os envolvidos neste processo de formação, é entender que este movimento não apenas transforma currículos, mas abala nossas formas de ser, de sentir e de agir enquanto docentes. Uma mudança não somente curricular, mas existencial.
Esta é uma pesquisa vinculada ao programa de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade Federal Fluminense, vinculada à linha de pesquisa em cuidados coletivos em enfermagem e saúde nos seus processos educativos e de gestão e unida ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Gestão e Trabalho em Saúde (NUPGES/CNPq).
O objetivo deste estudo é construir uma cartografia do trabalho docente a partir das mudanças produzidas com a incorporação de novos paradigmas pedagógicos na formação em saúde. O tempo para conclusão desta pesquisa é de 24 meses, com término previsto para dezembro de 2012.
MÉTODO
O método que auxiliará o caminhar deste projeto será a cartografia. Deleuze e Guattari(2) ao destacarem algumas características aproximativas do rizoma, apresentam a cartografia como um mapa aberto, conectável em todas as suas dimensões, desmontável e suscetível às modificações. Diferente daquilo que chamaram de decalque, reproduzindo imagens já dadas, os movimentos que definem os contornos deste mapa são definidos também por aqueles que o habitam.
A proposta de traçar uma cartografia da formação, tomando-a como um território rizomático, é a de percorrer e deixar ser percorrida pelos movimentos deste território, cartografando as mudanças ocorridas no ensino.
Esta pesquisa visa produzir um recorte na formação a partir de alguns marcos teóricos escolhidos. A estas escolhas somam-se as experimentações vividas neste território, que longe de portarem o caráter de fidedignidade aos movimentos acontecidos, partem da implicação ética, política e libidinal da pesquisadora.
Alguns instrumentos de pesquisa auxiliarão na construção deste percurso, quais sejam: o diário da pesquisa e a análise da implicação.(3)
O diário tomado aqui como “dentro do texto”, e não como um “fora do texto”, não é concebido na perspectiva da pesquisa etnográfica e sim na perspectiva da análise institucional. Um movimento reflexivo do pesquisador, não se refere estritamente à pesquisa, mas ao processo do pesquisar. Nele estão os sussurros inauditos, as lentes que captam a sequência de cenas que nos afetam e que deixam marcas-registros no corpo-diário do pesquisador. O diário e a análise da implicação servirão de dispositivos de sustentação de um campo de indagação, evidenciando os movimentos do território da formação.
Esta pesquisa se propõe a pensar a formação do enfermeiro, a partir das mudanças curriculares, tendo como campo de pesquisa o curso de enfermagem do UNIFESO, em que atuo como docente. Aprovado nos Comitês de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina/Hospital Universitário Antônio Pedro (02/09/2011, parecer nº 0244.0.258.258-11) e do UNIFESO (10/11/2011, parecer nº 692-11).
REFERÊNCIAS
1. Mourão LC, L'Abbate S. Implicações docentes nas transformações curriculares da área da saúde: Uma análise sócio-histórica. Online braz j nurs [ serial in the internet ]. 2011 [ cited 2012 Feb 23 ] 10(3). Available from: http://www.uff.br/objnursing/index.php/nursing/article/view/3423
2. Deleuze G, Guattari F. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: 34; 1996. v.1.
3. Lourau R. René Lourau na UERJ -1993 - Análise institucional e práticas de pesquisa. Rio de Janeiro: UERJ; 1993.
Dados do Projeto:
Projeto de dissertação do Programa de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, aprovado em 10/11/2011 pela banca composta por: Profª. Drª Ana Lúcia Abrahão; Profª. Drª Paula Cerqueira e Profo. Dr. Mauro Leonardo Caldeira dos Santos. Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina/Hospital Universitário Antônio Pedro em 02/09/2011 sob o parecer nº 0244.0.258.258-11. Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do UNIFESO em 10/11/2011 sob o parecer nº 692-11.
Apoio Financeiro à Pesquisa: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Recebido: 27/03/2012
Aprovado: 03/09/2012