NOTAS PRÉVIAS

 

 

Mulheres e saúde: trabalhadoras rurais e vivências de violência - Um estudo exploratório

 

 

Rejane Antonello Griboski1, Dirce Bellezi Guilhem1, Leides Barroso Azevedo Moura1

1Universidade de Brasília

 


RESUMO
Trata-se de projeto de pesquisa de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade de Brasília. Objetivo: Conhecer a percepção das mulheres trabalhadoras rurais acerca de vivências e da natureza das violências cometidas por parceiro íntimo, experiências de aborto e acesso aos serviços de saúde. Método: Pesquisa social, de caráter transversal e exploratório. Utiliza como marco teórico a Bioética Feminista. Os dados foram coletados em fases: fase I - Na Marcha das Margaridas ocorrida em 2011; fase II- Encontros com as lideranças femininas das trabalhadoras rurais da CONTAG. Utilizou-se instrumento auto-administrado especialmente desenvolvido para esta pesquisa contendo perguntas validadas em outros estudos. Resultados: A pesquisa encontra-se em andamento. Participaram da fase I 800 mulheres e da fase II, 130. Os resultados deste estudo fornecerão subsídios para efetivar um sistema de monitoramento das políticas públicas de estabelecimento da igualdade e justiça social às mulheres trabalhadoras rurais.
Palavras-chave: População rural; Mulheres; Aborto; Violência; Violência contra a mulher.


 

SITUAÇÃO PROBLEMA E SUA SIGNIFICÂNCIA

Atualmente a população brasileira é de 190.732.694 de habitantes, dos quais 51% (97.342.162) são mulheres. Aproximadamente 29 milhões de pessoas (15,6%) fazem parte da população rural, incluindo homens e mulheres(1). No Brasil, o trabalho no meio rural é reconhecido como uma atividade realizada, majoritariamente, por homens. As mulheres trabalhadoras rurais trazem em seu cotidiano, além das atividades domésticas, as atividades na lavoura ou plantio de subsistência familiar e a responsabilidade pela educação de seus filhos.

Mesmo com todas as tarefas por elas desempenhadas, ainda, conseguem se organizar. Inicialmente, em nível local ou regional e mais recentemente em nível nacional, apresentam no bojo de sua luta as questões de gênero, posse da terra, melhoria da saúde, enfrentamento das situações de violência, entre outras reivindicações.

Apesar dessa contribuição, seu trabalho permaneceu invisível, mas a história se modificou a partir da metade do século XX. Estudiosos apontam avanços em sua organização e luta, mas também, mostram desafios relacionados às relações de gênero, a violência por parceiro íntimo (VPI) e sexual e à busca pela igualdade para as mulheres. Sendo assim, os cenários de violência, multideterminados e polissêmicos, envolvem toda a sociedade em suas complexas dimensões – social, econômica, política e cultural –, exigindo uma abordagem que contemple a intersetorialidade e a transversalidade que o conceito de gênero demanda(2).

Este estudo pioneiro mostra sua relevância justamente porque oferece a oportunidade de conhecer as vivências e a cultura das mulheres trabalhadoras rurais e o processo de enfrentamento da violência. Assim como, a convivência em grupos ou redes sociais pode possibilitar a promoção da autonomia e ser considerados lugares de transformação social.

 

OBJETIVO

Conhecer a percepção das mulheres trabalhadoras rurais acerca de vivências e da natureza das violências cometidas por parceiro íntimo, experiências de aborto e acesso aos serviços de saúde.

 

QUESTÕES NORTEADORAS

Questionamentos possíveis neste contexto: Como a mulher trabalhadora rural percebe ou identifica a existência de relações consideradas assimétricas, isto é, onde predomina o “poder masculino”? Quais as formas de violência cometidas por parceiros íntimos? Quais as experiências relacionadas ao aborto? Qual a acessibilidade aos serviços de saúde?

 

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa social, que está sendo desenvolvida com mulheres trabalhadoras rurais. Estudo observacional, exploratório, de corte transversal, para obtenção de novos conhecimentos sobre saúde e vivências de violência. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília em 14 de junho de2011, nº 068/2011, conforme regulamentação brasileira. O processo de coleta de dados foi subdividido em duas etapas: a primeira fase teve como objetivo conhecer a concepção das mulheres sobre vivências de violência e foi realizada durante o evento A Marcha das Margaridas, ocorrido em Brasília nos dias 16 e 17 de agosto de2011. Utilizou-se a técnica de questionários autoadministrado, geralmente, empregada na pesquisa de opinião pública, em pesquisas de satisfação e em pesquisas políticas(3). Sua escolha foi fundamental para garantir o sigilo das respostas.

Os questionários autoadministrados foram desenvolvidos com perguntas fechadas sobre violência, aborto e acesso à saúde. Esse método é rápido e apropriado para obtenção de dados em grande escala. Após o preenchimento, o questionário anônimo era entregue aos entrevistadores ou depositado em uma pasta. Na segunda fase, optou-se pela abordagem por meio de entrevistas. Após esclarecimentos, anuência e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, as entrevistas foram realizadas com lideranças femininas das Federações/Sindicatos associados à Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura – CONTAG.

Utilizou-se um questionário estruturado contendo questões sobre perfil sociodemográfico, saúde sexual e reprodutiva, violência, e consciência da violência. Foram incluídas 800 participantes, na fase I e 130, na fase II. A pesquisa encontra-se em andamento, porém, já foi possível perceber, como resultados prévios, que a violência parece permear as relações. Quanto a sua classificação, são consideradas leves (insultos, humilhações), moderadas (empurrões ou tapas) e graves (ameaça de morte, espancamentos e uso de força física e armas). A violência sexual pelo parceiro íntimo também foi mencionada. A discussão adotará como referencial teórico a Bioética Feminista. Romper o ciclo da violência é fundamental e precisam ser adotadas estratégias para prevenção, qualificação da assistência de enfermagem e participação da equipe de saúde no enfrentamento de todas as formas de violência e discriminação, entre as quais o acesso e a ampliação da participação dessas mulheres nos espaços políticos. Os resultados deste estudo fornecerão subsídios para efetivar um sistema de monitoramento das políticas públicas de estabelecimento da igualdade e justiça social às mulheres trabalhadoras rurais.


 
REFERÊNCIAS

1. IBGE. Dados do censo de 2010. Diário Oficial da União 04 nov 2010.

2. Moura LBA, Reis PED, Faustino AM, Guilhem D, Bampi LNS, Martins G. Vivências de violência experimentadas por mulheres do Distrito Federal: estudo descritivo. Online braz j nurs [ serial in the Internet ]. 2011 [ Cited 2012 Jan 23 ] 10(3). Available from: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/article/view/3534

3. Babbie E. Métodos de Pesquisa de Survey. Belo Horizonte: UFMG; 2005.

 

 

Dados do Projeto: Projeto de Doutorado do Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade de Brasília – UnB aprovado em 14 de agosto de 2010 pela banca composta por: Lílian Varanda Pereira (Presidente), Sandro José Martins, Otávio Toledo Nóbrega e Rafael Mota Pinheiro (Suplente). Em andamento.
Aprovação no CEP: Comitê de Ética em Pesquisa da FS/UnB, sob número 068/2011, em 14/06/2011.
Apoio financeiro: Este projeto tem apoio logístico da CONTAG, porém não possui apoio financeiro.
Endereço para correspondência: SQN 205, Bloco G, apto 602. Asa Norte, Brasília, DF CEP: 70843-070. Contato: ra.griboski@gmail.com 

 

Autores e participação na pesquisa
Rejane Antonello Griboski - participou na pesquisa, na elaboração, coleta e estruturação da nota prévia.
Dirce Guilhem - participou na orientação e estruturação da nota prévia.
Leides Barroso Azevedo Moura - participou da estruturação, orientação e correção do português.

 

Recebido: 30/03/2012
Aprovado: 03/09/2012