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Meaning for the professional practice of terms attributed to actions of nursing: a descriptive study

Confirmação de significado para a prática profissional de termos atribuídos a ações de enfermagem: estudo descritivo

 Greicy Kelly Bittencourt*, Maria Miriam Nóbrega*

*ABEn, PB, Brazil

 

Abstract - Study of the descriptive exploratory type developed with the objective to identify to the meaning of the terms used in the registers of nursing in six clinical units of a hospital school and to confirm the meaning of the same ones.  The collection of data was carried through of March the April of 2005, when he was requested that the nurses marked if they agreed or if they disagreed with the definition of the 74 enclosed terms in the axes type of action.  It was gotten, as resulted, one IC ≥0,80 for 69 terms and IC < 0,80 for 5 terms.  One concludes that meaning of the terms used for the nurses of the HULW/UFPB are directed for actions commence exerted by the Nursing, inside of the concepts central offices of the Nursing Actions Classification of the CIPE Version Beta 2.

Words key:  Language, Nursing, Register of nursing. 

Resumo - Estudo do tipo exploratório descritivo, através do qual objetiva-se identificar o significado dos termos utilizados nos registros de enfermagem em seis unidades clínicas de um hospital - escola e confirmar o seu significado. A coleta de dados foi realizada, de março a abril de 2005, quando foi solicitado que as enfermeiras marcassem se concordavam ou se discordavam da definição dos 74 termos incluídos no eixo tipo de ação. Obteve-se, como resultado, um IC ³0,80, para 69 termos e um IC < 0,80, para 5 termos. Concluiu-se que os significados dos termos utilizados pelos enfermeiros do HULW/UFPB são direcionados para ações comumente exercidas pela Enfermagem, dentro dos conceitos centrais da Classificação das Ações de Enfermagem da CIPEÒ Versão Beta 2.

Palavras-chave: Linguagem, Enfermagem, Registro de enfermagem. 

Resumen - El estudio del tipo exploratorio descriptivo desenvolvido con el objetivo para identificar al significado de los términos usados en los registros del cuidado en seis unidades clínicas de un hospital escuela y para confirmar seus significados.  La coleta de datos fue llevada a través de marcha el abril de 2005, cuando le solicitaron a que las enfermeras marcaron si convinieron o si discreparon con la definición de los 74 términos incluidos en el tipo de las hachas de acción.  Fue conseguida, según lo resultado, un IC ≥0.80 para 69 términos y IC < 0.80 para 5 términos. Uno concluye que los sognificado de los términos usados por las enfermeras del HULW/UFPB están dirigidos para las acciones comienzan ejercido por el enfermera, dentro de los conceptos de la clasificación de las acciones de enfermería de la CIPE versión 2 beta.

Palabras clave: Lenguaje, Enfermería, Registro de Enfermería.

 

INTRODUÇÃO

Os conceitos representam o ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho terminológico de definição. Eles são considerados, pelas normas terminológicas, unidades abstratas criadas a partir de uma combinação única de características, representados pelos termos por serem designações verbais. O termo é uma designação que corresponde a um conceito em uma linguagem de especialidade, ou seja, é um signo lingüístico qualificado no interior de um discurso de especialidade que difere da palavra, unidade da língua geral, por ser uma palavra contextualizada no discurso, tendo um referente de interpretação1.

Na Enfermagem, a ausência de uma linguagem especializada que estabeleça a definição e a descrição da prática profissional compromete o seu desenvolvimento como ciência. A falta dessa linguagem, segundo Nóbrega e Gutiérrez2, é um fato questionado na profissão. As referidas autoras mencionam que alguns questionamentos sobre o conhecimento específico da Enfermagem, os seus conceitos, seus significados e a utilização desses conceitos na prática são facilmente identificados na literatura de enfermagem.

Em resposta a esses questionamentos, os estudiosos da Enfermagem utilizaram alternativas, como: a elaboração de modelos conceituais de enfermagem, a partir da década de 1950, num esforço para identificarem conceitos específicos da profissão; o desenvolvimento de pesquisas relacionadas com o aprimoramento dos conceitos, a partir da década de 1960; a introdução do processo de enfermagem, na década de 1970, como um modelo operacional para a prática de enfermagem2.

A adoção do processo de enfermagem incentiva as enfermeiras a tomarem suas próprias decisões clínicas, propiciando-lhes uma maior autonomia profissional. No entanto, a utilização do processo de enfermagem como um modelo metodológico capaz de organizar a assistência de enfermagem ainda não é comum na profissão. Um fator chave para a transição ocorrida no modo de pensar, de falar e de atuar na Enfermagem foi a decisão tomada nos anos de 1970, no sentido de se desenvolverem sistemas de classificação dos conceitos da linguagem profissional relacionados com os diagnósticos de enfermagem e, posteriormente, com as intervenções e os resultados de enfermagem3.

Na Enfermagem, há sistemas de classificação desenvolvidos e relacionados com algumas das fases do processo de enfermagem, que possibilitam a documentação de Enfermagem, de acordo com as diferentes fases desse processo. Três elementos são componentes primários para a classificação da prática de Enfermagem: diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem.

A utilização desses sistemas de classificação, na prática de enfermagem, tem mobilizado as enfermeiras, em todo o mundo, atendendo ao desafio de universalizar a sua linguagem e evidenciar os elementos de sua prática. Como resultado dessa mobilização, durante o Congresso Quadrienal do Conselho Internacional de Enfermagem (CIE), realizado em Seul, em 1989, foi votada e aprovada a proposta para se desenvolver um sistema de Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE4. Em dezembro de 1996, o CIE apresentou, à comunidade de Enfermagem, a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – Um marco Unificador – Versão Alfa, constituída de Classificações de Fenômenos de Enfermagem e de Intervenções de Enfermagem, com o objetivo de estimular a discussão e, conseqüentemente, os comentários, as observações, críticas e recomendações de melhoria, a fim de se obterem subsídios para as próximas versões dessa classificação2.  Essa versão foi traduzida em diversas línguas, inclusive no português do Brasil, ocorrendo sua disseminação e avaliação em vários países.  Em sua evolução foi construída a Versão Beta, que foi apresentada à comunidade de enfermagem em julho de 1999, durante as comemorações dos 100 anos do CIE.  Em janeiro de 2002, o CIE disponibilizou, via internet, a Versão Beta, com correções editoriais, solicitando, mais uma vez, todo o empenho das enfermeiras do mundo para sua utilização e validação, na prática clínica5.

Em 2000, o Comitê de Avaliação da CIPE fez uma revisão dos objetivos iniciais da CIPE, apresentados na Versão Alfa, os quais passaram a ser: a) Estabelecer uma linguagem comum para descrever a prática de enfermagem, facilitando a comunicação entre as enfermeiras e das enfermeiras com os outros profissionais da saúde; b) Representar conceitos usados na prática local, em diferentes linguagens e áreas de especialidades; c) Descrever mundialmente a prestação do cuidado de enfermagem prestado às pessoas (indivíduo, famílias e comunidades); d) Permitir a comparação dos dados de enfermagem entre as populações de clientes, os locais de atendimento, as áreas geográficas e os tempos; e) Estimular a pesquisa de enfermagem através de ligações entre os dados disponíveis e os sistemas de informação de saúde; f) Fornecer dados sobre a prática de enfermagem para influenciar o ensino de enfermagem e a política de saúde; g) Projetar tendências nas necessidades dos pacientes, fornecimento de tratamentos de enfermagem, recursos utilizados e resultados obtidos com o cuidado de enfermagem6.

A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) é um dos sistemas de classificação mais utilizados e conhecidos na Enfermagem. Essa classificação é composta por três elementos: fenômeno de enfermagem, ação de enfermagem e resultado de enfermagem. Para o CIE7, a CIPE é uma terminologia combinatória que facilita o mapeamento cruzado de termos locais e vocabulários existentes e classificações.

O uso da CIPE estabelece padrões de cuidados, que podem ser utilizados em qualquer parte do mundo, como também impulsiona uma padronização da linguagem de enfermagem e, conseqüentemente, permite uma melhoria na qualidade da assistência, por meio da sistematização, do registro e da quantificação daquilo que os componentes da equipe de enfermagem produzem.

Vale salientar que, na elaboração da CIPE versão beta, o conceito Ações de enfermagem foi introduzido em substituição a Intervenção de enfermagem, pois os membros do grupo consultivo da CIPE consideram que, intervenção refere-se a um nível mais concreto de ação, enquanto as ações de enfermagem indicam uma abrangência específica, porém não concreta8. Na CIPEÒ Versão Beta 2, o conceito Ação de enfermagem continua sendo utilizado como o conceito de abrangência específica, porém menos concreto do que o conceito Intervenção de enfermagem.

Na CIPEÒ Versão Beta 2, Ação de Enfermagem é definida como o comportamento desempenhado pelas enfermeiras na prática assistencial, e, as Intervenções de Enfermagem referem-se à ação realizada em resposta a um diagnóstico de enfermagem visando à obtenção de um resultado de enfermagem6. A Classificação de Ações de Enfermagem, na CIPEÒ - Versão Beta 2, foi desenvolvida numa abordagem multiaxial, constituída de oito eixos: Tipo de ação, Alvo, Meios, Tempo, Topologia, Localização, Via e Beneficiário.

Este estudo foi desenvolvido a partir dos resultados das pesquisas realizadas nas Clínicas Obstétrica, Pediátrica, Médica, Doenças Infecto-Contagiosas, Cirúrgica e Unidade de Terapia Intensiva, do Hospital Universitário Lauro Wanderley, onde foram realizadas 17.072 transcrições de termos e expressões de registros de enfermagem de 417 prontuários, as quais levaram à extração de 2.812 termos, dos quais 1292 atribuídos a fenômenos e 1.520 atribuídos a ações de enfermagem.  Após o mapeamento desses termos com a Classificação de Ações de Enfermagem da CIPEâ Versão Beta 2, observou-se a ocorrência de 1.520 ações de enfermagem, sendo 1.082 ações constantes e 438 ações não constantes na Classificação de Ações de Enfermagem da CIPEâ Versão Beta 2. Classificando-se os termos identificados como ações de enfermagem constantes na Classificação de Ações de Enfermagem da CIPEâ Versão Beta 2, evidencia-se que, das 1.082 ações, 206 estão no eixo Tipo de ação, 414 no eixo Alvo, 153 no eixo Método, 16 no eixo Tempo, 61 no eixo Topologia, 184 no eixo Localização, 44 no eixo Via, 4 no eixo Beneficiário9. A partir desses resultados, as autoras afirmam que os componentes da equipe de enfermagem das seis unidades clínicas do HULW utilizam mais termos constantes do que não constantes na CIPEâ Versão Beta 2, o que assegura a confiabilidade dessa terminologia e sua utilidade como instrumento tecnológico para inserção em sistemas de informação e registro da prática profissional. Os termos não incluídos nesse sistema de classificação devem ser validados para posteriores inclusões nesse sistema de classificação.

          Diante dos resultados obtidos nesses estudos, questiona-se: Os significados atribuídos, na CIPEâ Versão Beta 2, aos termos do eixo tipo de ação, identificados em seis clínicas do HULW/UFPB, correspondem aos significados a eles atribuídos por enfermeiras docentes e assistenciais? As enfermeiras docentes e assistenciais utilizam esses termos na prática profissional?

Neste estudo objetiva-se identificar, na CIPEâ Versão Beta 2, no eixo tipo de ação, o significado dos termos relacionados com ações de enfermagem, mapeadas nas seis unidades clínicas do Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB e confirmar, por meio de um grupo de enfermeiras docentes e assistenciais, o significado dos termos identificados e mapeados nas seis unidades clínicas do referido hospital, no eixo tipo de ação.

 

PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo exploratório descritivo que foi desenvolvido nas Clínicas Obstétrica, Pediátrica, Médica, Doenças Infecto-Contagiosas, Cirúrgica e Centro de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Lauro Wanderley, localizado no Campus I da Universidade Federal da Paraíba.  Para o alcance dos objetivos, o estudo foi desenvolvido em duas etapas. Antes da sua execução, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa do HULW/UFPB, em observância aos aspectos éticos preconizados na Resolução Nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde10.

Na primeira etapa, a constituição do corpus de análise do estudo, partiu-se dos registros de enfermagem identificados em 417 prontuários de pacientes em unidades clínicas do HULW, de onde foram extraídos 1.520 termos dos eixos da Classificação de Ações de Enfermagem, que, após o mapeamento cruzado, resultaram em 1.082 ações constantes e 438 ações não constantes na Classificação de Ações de Enfermagem da CIPEÒ9. Nessa construção do corpus de análise, foram utilizados os 1.520 termos, que foram submetidos aos seguintes procedimentos: 1) correções ortográficas; 2) exclusão de repetições; 3) análise de sinonímia; 4) correções de acordo com a CIPEÒ Versão Beta 2 através da transferência de termos para a lista de fenômenos de enfermagem; 5) exclusão de alguns termos por serem características de ações e de fenômenos de enfermagem constantes na CIPEÒ Versão Beta 2.

Após a realização desses procedimentos, foi realizado o mapeamento cruzado dos termos identificados nas seis clínicas do HULW/UFPB com os termos constantes na Classificação das Ações de Enfermagem da CIPEÒ Versão Beta 2. Após o mapeamento cruzado, foram identificadas 654 ações de enfermagem, das quais, 229 são classificadas como constantes e 425 classificadas como não constantes na CIPEÒ Versão Beta 2. Dos 229 termos constantes na Classificação de Ações de Enfermagem da CIPEÒ Versão Beta 2, 74 deles estão incluídos no eixo Tipo de ação, os quais foram utilizados como objeto deste estudo.

Em seguida, foram utilizadas, com base na CIPEÒ Versão Beta 26, as definições conceituais para os 74 termos constantes no eixo tipo de ação. Em virtude de essas definições terem sido traduzidas para o português do Brasil, sem terem sido submetidas a um processo de validação, as mesmas foram avaliadas por uma professora de língua portuguesa, que fez suas correções, utilizando critérios técnicos e lingüísticos. Essas definições foram empregadas no desenvolvimento do instrumento que foi utilizado na segunda etapa da pesquisa.

         A segunda etapa da pesquisa foi desenvolvida, objetivando a confirmação de significados dos termos por um grupo de enfermeiras docentes e assistenciais que atendessem aos critérios de ter, no mínimo, o título de Mestre em Enfermagem e que atuassem no desenvolvimento de atividades docentes e assistenciais numa das clínicas do HULW/UFPB. Fizeram parte da população do estudo, nessa fase, mediante os critérios de inclusão, 11 enfermeiras da Escola Técnica de Saúde, 16 do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico e Administração, 6 enfermeiras do Departamento de Enfermagem em Saúde Pública e Psiquiátrica e 4 enfermeiras atuantes nas clínicas do HULW/UFPB, totalizando uma população de 37 enfermeiras.

Quanto ao sexo, a amostra foi constituída por 12 enfermeiras docentes e assistenciais e por um enfermeiro. A prevalência da idade das enfermeiras variou de 31 a 50 anos, o equivalente a 69,2% das participantes da pesquisa. A amostra foi constituída de 8 enfermeiras com título de Mestre e de 5 com título de Doutor, sendo 10 enfermeiras docentes e 3 enfermeiras assistenciais. Quanto ao tempo de experiência na Enfermagem, destacaram-se 4 (30,8%) das enfermeiras que apresentam de 21 a 25 anos de experiência na área, enquanto que 3 (23%) delas têm 26 ou mais anos de tempo de experiência na profissão. Com relação à área de atuação, a maioria: 6 (46,2%) das participantes da pesquisa são enfermeiras vinculadas à Clínica Médica, 3 (23%) enfermeiras vinculadas à Clínica Pediátrica.

Para se confirmar o significado de termos do eixo tipo de ação, foi elaborado um instrumento constituído por três colunas: a primeira contendo as definições dos 74 termos identificados nas seis unidades clínicas e constantes no eixo tipo de ação da Classificação de Ações de Enfermagem da CIPEÒ Versão Beta 2; a segunda com um espaço para que as enfermeiras marcassem se concordavam ou se discordavam da definição do termo; a terceira, usada para que, em caso de discordância, fossem apresentadas as sugestões que as enfermeiras considerassem necessárias para uma melhor definição do termo. Após sua construção, o instrumento foi submetido à validação aparente, para se verificar sua aplicabilidade.

A coleta de dados foi realizada no período de março a abril de 2005 e consistiu na distribuição do instrumento entre as enfermeiras que atendessem aos critérios preestabelecidos para que elas indicassem se concordavam ou se discordavam do significado dos 74 termos.  Os instrumentos foram entregues diretamente às enfermeiras em seu local de trabalho.

O significado das definições dos termos foi considerado confirmado, quando alcançou um Índice de Concordância (IC) ³ 0,80 entre as enfermeiras, calculado através da formula IC = NC ¸ NC + ND, em que NC = número de concordâncias e ND = número de discordâncias11. A escolha do IC ³ 0,80 deu-se em virtude de o mesmo ser apontado na literatura como o ideal12

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da confirmação de significados dos 74 termos na prática de enfermagem mostraram que 69 deles obtiveram um IC ≥0,80, enquanto 5 termos obtiveram um IC < 0,80. Dos termos que alcançaram um IC ≥ 0.80, 28 termos obtiveram uma concordância igual a 1,00, entre os membros do grupo de enfermeiras. São eles: Alimentar, Alterar, Atender, Aumentar, Avaliar, Controlar, Elevar, Encorajar, Evitar, Examinar, Imobilizar, Informar, Inserir, Inspecionar, Instalar, Intubar, Manter, Massagear, Motivar, Percutir, Posicionar, Preparar, Remover, Transferir, Tratar, Trocar, Ventilar e Verificar. Não foram apresentadas sugestões para melhor definir os termos, pois a definição apresentada no instrumento foi suficiente para a compreensão da ação de enfermagem.

Vinte e oito termos obtiveram um IC de 0,92. São eles: Aplicar, Apoiar, Auscultar, Cateterizar, Colaborar, Comunicar, Confortar, Desfibrilar, Desmamar, Escutar, Estimular, Explicar, Iniciar, Instilar, Instruir, Isolar, Lavar, limpar, Medir, Monitorizar, Palpar, Promover, Registrar e Regular. Apesar de terem sido poucas as sugestões apresentadas para esses termos, algumas delas foram consideradas relevantes e serão discutidas a seguir.

Para o termo Apoiar, por exemplo, foi sugerido que além da ajuda social e psicológica, a Enfermagem também pode atuar fornecendo ajuda física. A definição do termo na CIPE versão 1 já passou por essa reformulação e foi-lhe acrescido o suporte físico que a Enfermagem pode prestar, tendo sido acrescentada a definição “agüentar o peso de e manter em posição; segurar”13. Tal reformulação confirma a relevância das sugestões apresentadas pelo grupo de enfermeiras da pesquisa.

Na CIPEÒ Versão Beta 2, o termo Confortar é definido como “Consolar alguém nos momentos de necessidade”6:173, porém algumas sugestões apontam para uma ampliação do sentido desse termo que também pode ser voltado para um conforto físico. Já o termo Desmamar é entendido de forma equivocada quando remete apenas para a idéia de apartar-se do leite materno. O termo também pode ser usado nesse sentido, porém é mais ampla a definição: “Fazer com que alguém deixe de depender de alguma coisa” 6:164. Deixar de depender de alguma coisa pode ser do leite materno, de um aparelho, de uma medicação, dentre outros exemplos.

Dezessete termos obtiveram um Índice de Concordância de ≥0,84, e, apesar do alto IC, houve alguns participantes da pesquisa que apresentaram sugestões para ser melhor definido o termo. São eles: Administrar, Aspirar, Colocar sobre/em, Dar, Dar banho, Determinar, Documentar, Drenar, Injetar, Mobilizar, Observar, Oferecer, Orientar, Pesar, Pesquisar, Prevenir e Verificar.

O termo Administrar, por exemplo, obteve um índice de Concordância de 0,84, ou seja, mais de 80% das enfermeiras concordaram com o significado do termo. Apesar do alto índice de concordância, algumas sugestões foram apresentadas pelas demais enfermeiras que discordaram do significado do termo, inferindo-se, então, que o termo Administrar remete a uma ação mais ampla da Enfermagem, contemplando, não só a aplicação de um medicamento, como também atividades de gerenciamento de um serviço de saúde ou de uma equipe de enfermagem. Na CIPEÒ Versão Beta 2, assim como na CIPE versão 1, existe o termo Gerenciar que atende às necessidades das sugestões apresentadas, já que é definido como “estar encarregado de, ou colocar ordem em alguém ou alguma coisa” 6:163.

Para o termo Aspirar, foram apresentadas sugestões para se acrescentar, à definição, corpo estranho ou fluido corporal. A definição de termo Aspirar passaria, então, a ser “Succionar ou retirar uma substância, um corpo estranho ou fluido corporal”.

Algumas sugestões foram apresentadas para o termo Dar. Uma delas refere-se ao fato de ser o termo um verbo transitivo direto e indireto quando utilizado no sentido de fornecer, doar, oferecer algo, necessitando a definição de um outro complemento verbal e, portanto, seria o termo mais bem definido, com a complementação do objeto indireto “a alguém”. Dessa forma, o termo passaria a ser definido como “transferir alguma coisa a alguém”.

O termo Determinar foi susceptível de algumas sugestões, como o acréscimo de “delegar responsabilidades” para complementar sua definição. Já o termo Documentar foi considerado, por algumas enfermeiras, sinônimo de Registrar. Consultando o dicionário da língua portuguesa, constata-se que Documentar é empregado como: “Juntar documentos a; provar, com documentos, que algo é verdadeiro; Registrar informações visando a maior organização e referência para posteriores alterações” 14, e o termo Registrar, como: “Escrever ou lançar em livro especial; escrever; historiar; fazer o registro de” 14. Para a língua portuguesa, os dois termos são considerados sinônimos, o que mostra a relevância das sugestões apresentadas pelas enfermeiras. Sabe-se, portanto, que o termo Registrar é mais empregado na prática de enfermagem.

Algumas enfermeiras apresentaram sugestões para o termo Orientar. Na CIPEÒ Versão Beta 2, o termo é definido como “Dirigir alguém para uma decisão em assuntos relacionados com a saúde6:174. Segundo as sugestões apresentadas, a Enfermagem pode fornecer informações, não só relacionados com os aspectos da saúde, como também com outros aspectos. Essas sugestões são comprovadas pela definição do termo no dicionário da língua portuguesa, no qual consta que Orientar significa “Indicar o rumo a, dirigir, encaminhar, guiar; Buscar orientação, ou informações sobre; inteirar-se, informar-se” 14. Não se observam, na definição do termo, as especificações das informações, ou seja, elas podem ser as mais variadas possíveis.

Para o termo Pesar, foi sugerido que se detalhasse a unidade de medida em que o peso seria expresso, como quilograma (kg), bem como o instrumento utilizado para expressar o peso, como uma balança. Portanto com, o acréscimo das sugestões, o termo Pesar passaria a ser definido como “Atribuir o peso de alguma coisa ou de alguém com o auxílio de uma balança e expressá-lo em quilograma (kg)”.

Os 5 termos que obtiveram IC < 0,80 entre as enfermeiras para o significado das ações de enfermagem, foram: Assistir, Coletar, Estabelecer, Arrumar e Puncionar.  Para o termo Assistir, foi questionado que funções naturais seriam descritas na definição do termo, bem como surgiram dúvidas com relação à frase “Fazer parte do trabalho para alguém”. Em busca de justificativas para as sugestões apresentadas, consultou-se o dicionário da língua portuguesa, no qual o verbo Assistir consta como transitivo direto, quando utilizado no sentido de “Estar presente; comparecer, auxiliar, ajudar; socorrer, acompanhar (enfermo, moribundo, parturiente.) para prestar-lhe conforto moral ou material” 14. Justifica-se, portanto, que Assistir pode ser uma ação desempenhada pela enfermeira, fazendo parte do trabalho para alguém, quando ela faz aquilo que o ser humano não pode fazer por si mesmo.

Algumas enfermeiras sugeriram que a definição do termo Coletar ficaria mais clara se utilizada no sentido de colher ou retirar algo, como o sangue. Tal sugestão é confirmada pela definição encontrada no dicionário da língua portuguesa no qual Coletar é definido como “Fazer coleta de, colher, recolher, arrecadar” 14.

O termo Estabelecer recebeu algumas sugestões para ser melhor definido. Uma delas referia-se ao significado do termo como “determinar caminhos a serem seguidos”. Outra sugestão apresentada direciona o sentido do termo Estabelecer para a “manutenção do estado de saúde normal”. O significado desse verbo, no dicionário da língua portuguesa, é “fazer estável, firme; fixar; estabilizar; determinar” 14. Na CIPEÒ Versão Beta 2, o termo aparece como “Colocar alguma coisa em posição para ser utilizado”. Infere-se que o termo não obteve um alto IC entre as enfermeiras pelo fato de ele apresentar vários sentidos. É tanto que a própria CIPE apresenta três denominações diferentes para ele. São elas: Estabelecer fases, Estabelecer rapport e Estabelecer limites.

         Para algumas enfermeiras, o termo Arrumar tem um sentido mais amplo, motivo pelo qual obteve um baixo Índice de Concordância (0,61) entre o grupo, para o qual, o termo remete a uma ação de enfermagem voltada para cuidar do corpo em geral, não só cuidar dos cabelos e das unhas. Além disso, foi apresentada outra sugestão quanto à organização do ambiente, no sentido de que se pode pôr em ordem os objetos. Buscando-se a definição do termo no dicionário da língua portuguesa, constatou-se que o verbo Arrumar, quando pronominal, pode ser utilizado no sentido de “acomodar-se, ajeitar-se, aprontar-se” 14, bem como pode ser empregado no sentido de “pôr de lado, arrumar com a loja” 14. Percebe-se, portanto, que a ação emitida pelo verbo Arrumar pode ser voltada para os cuidados com o corpo ou com o meio ambiente.

         Um dos menores Índices de Concordância obtido entre as enfermeiras foi para o termo Puncionar (0,61). As sugestões apresentadas se relacionaram à frase “retirar ou remover substâncias”, presente na definição do termo, pois, segundo elas, Retirar e Remover têm o mesmo significado. Ferreira14 define Retirar como “Tirar de onde estava, tirar de dentro de onde estava; extrair” e, Remover, como: “Mover outra vez; mudar de um lugar para outro; afastar, agitar para um lado e para outro; remexer”. Evidencia-se que existem diferenças no significado dos termos Retirar e Remover, porém o senso comum entende esses termos como sinônimos. Na prática de enfermagem, é comum a utilização da frase “Puncionar uma veia” no sentido de inserir uma agulha na veia para introduzir soro ou medicamentos. Analisando-se esse termo em dicionários de termos médicos e de enfermagem, encontrou-se o significado de “puncionar ou perfurar uma superfície com uma agulha ou bisturi; ferida ou abertura feita por perfuração”15:808; 16:1076 ou, “consiste na introdução de uma agulha, um trocarte ou outro instrumento adequado, em uma cavidade natural ou patológica, para retirar parte do seu conteúdo com a finalidade de fazer um diagnóstico, (...) ou para introduzir um medicamento”17:745.  Para Smeltzer e Bare18:204, Puncionar é a “obtenção de acesso ao sistema venoso para administração de líquidos e medicamentos”.  Os autores acrescentam que essa habilidade é uma aptidão esperada das enfermeiras em muitos setores da prática clínica. Por esse motivo, pode-se afirmar que as enfermeiras participantes do estudo marcaram que discordavam do significado do termo, porque, para elas, Puncionar é utilizado como uma ação de introduzir substâncias e não de retirar substâncias de um vaso sanguíneo ou de cavidade corporal.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

         A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) é considerada um instrumento que auxilia na decisão clínica e intensifica a documentação sistemática do cuidado da Enfermagem. Tem como objetivo atender à necessidade de uma linguagem comum da prática profissional para ser utilizada entre as populações culturalmente diferentes, em todos os tipos de lugares, de ambientes e em diversas situações do cuidado de enfermagem. Sua estrutura permite a inclusão de novos conceitos, por ser um sistema de classificação universal da prática de enfermagem19.

         Em virtude de esse sistema de classificação ser constituído de termos utilizados por enfermeiras de todo o mundo, a confirmação do significado de conceitos para a prática profissional é uma maneira de se validarem as ações consideradas relevantes, o que leva à busca de coerência e adequação à realidade prática da Enfermagem. O conhecimento acerca dos termos relacionados com as ações que constituem a prática de enfermagem das seis clínicas do Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB mostrou-se de grande relevância no sentido de que, através da confirmação do significado dos termos identificados nessas clínicas, é possível fazer-se uma reflexão da maneira como estão sendo exercidos os cuidados de enfermagem.

Na perspectiva de se alcançar um dos objetivos deste estudo, solicitou-se a um grupo de enfermeiras docentes e assistenciais a confirmação do significado dos 74 termos relacionados com ações de enfermagem, obtendo-se, como resultado, um Índice de Concordância ³ 0,80 para 63 termos, enquanto cinco termos obtiveram um Índice de Concordância <0,80.  A partir dessa confirmação de significado, foi possível desenvolver um outro estudo de confirmação de utilidade dos termos por um grupo de enfermeiras docentes e assistências, que atuam nas clínicas do HULW/UFPB.

A partir desse resultado, visualizou-se a possibilidade de utilização da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem nas seis clínicas do HULW/UFPB, o que representa um grande desafio e incentiva a realização de futuras pesquisas que contribuam para o desenvolvimento da linguagem especial em enfermagem, através de estudos, com o objetivo de serem elaboradas intervenções de enfermagem a serem utilizadas na assistência de enfermagem, permitindo a visualização de um dos elementos da prática de enfermagem – as ações de enfermagem, estabelecendo-se, também, uma linguagem comum que descreva e represente conceitos usados na prática local, em diferentes linguagens e áreas de especialidades.

 

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12 Waltz CF, Strickland OL, Lenz ER. Measurement in Nursing Research. 2ed. Philadelphia: F.A. Davis Company, 1991. p.27-59.

13 International Council of Nurse. International Classification for Nursing Practice – ICNP Verson 1. ICN, 2005.

14 Ferreira ABH. Novo Dicionário Aurélio – Século XXI: O dicionário da língua portuguesa. Versão 3.0. Ed: Nova Fronteira, 1999. 1 CR-ROM.

15 Anderson KN, Anderson LE. Mosby Dicionário de enfermagem. São Paulo: Ed. Roca, 2001.

16 Stedman Dicionário Médico. 25 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.

17 Rey L. Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003 p. 370.

18 Smeltze SC, Bare BG.  Brunner & Suddarth - Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

19 Mortensen RA. CIPE: uma visão geral do domínio da Enfermagem. In: CIPE in Europe: TELENURSE. Amsterdam: IOS Press, 1997. P. 31-52. /Christensen JP et al. (EDS) Studies in Health Technology and Informatics, 38/

 

Nota: Artigo extraído da dissertação de Mestrado em Enfermagem, do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba.

Received April 19th, 2006

Revised May 1st, 2006

Accept Jun 15th, 2006