Oficinas
educativas sobre hipertensão arterial: um estudo quasi-experimental sobre
avaliação da eficácia
Resumo.
É
crescente o número de crianças e adolescentes com hipertensão arterial.
Medidas preventivas são necessárias para minimizar os riscos cardiovasculares
na vida adulta.O estudo objetiva descrever o desenvolvimento e avaliação de
oficinas enfocando ações educativas sobre hipertensão arterial realizadas com
202 escolares do ensino fundamental e médio de uma escola pública da cidade de
Fortaleza-Ceará, no ano de 2003. Os escolares foram divididos em três grupos.
Do grupo A participaram 45 escolares das turmas de educação infantil e de
ensino fundamental I; do grupo B, 71 do ensino fundamental II e, do grupo C, 86
do ensino médio. A organização das oficinas educativas ocorreu em três
etapas: modelagem, aplicação e avaliação. A etapa de modelagem compreendeu a
elaboração das oficinas colocadas em prática na fase de aplicação. Na etapa
de avaliação considerou-se o conhecimento obtido pelos escolares nas oficinas.
No Grupo A, em que o jogo de memória foi utilizado, o conceito ótimo
foi predominante (66,9%). O recurso adotado para o Grupo B foi o jogo de
cruzadas, verificou-se que 33,8% dos adolescentes obtiveram o conceito máximo, excelente.
Na avaliação do aprendizado do Grupo C, em que se adotou a dinâmica do
repolho, observou-se que 51,0% dos adolescentes obtiveram o conceito excelente.
Concluiu-se que os recursos elaborados e utilizados apresentaram-se como
instrumentos adequados no desenvolvimento de práticas de educação em saúde
com os participantes.
Palavras-chave:
Enfermagem, Hipertensão, Educação em Saúde.
A
presença de hipertensão arterial primária na população adulta em geral
situa-se em torno de 20%, na infantil chega a 13% e na idosa com mais de 65 anos
atinge cerca de 50%. Estes dados são suficientes para justificar a importância
da doença como problema de saúde pública que deve congregar esforços da
equipe multiprofissional de saúde, no sentido de buscar formas adequadas de
intervenção com vistas a reduzir sua magnitude.
Conforme
estudos realizados nos últimos vinte anos, é crescente o aumento da prevalência
de hipertensão primária em crianças e adolescentes, e casos de hipertensão
secundária são menos freqüentes do que se pensava. Especialistas na área de
cardiologia têm enfatizado a importância, não apenas de assistir as crianças
com níveis pressóricos elevados para sua idade e sexo, mas também dispensar
atenção especial à criança normotensa que apresenta fatores de risco para a
hipertensão1.
Embora
a perda da qualidade de vida e mortalidade precoce pelas doenças crônicas não
transmissíveis como a hipertensão aconteça mais freqüentemente após os 40
anos de idade, é na fase inicial da vida das pessoas que os comportamentos
considerados de riscos cardiovasculares (sedentarismo, hábitos alimentares
inadequados, obesidade, tabagismo e etilismo) são incorporados às atividades
diárias. Portanto, nesta fase da vida é essencial o desenvolvimento de
comportamentos saudáveis passíveis de promover saúde cardiovascular. Nesta
perspectiva, as ações educativas são o instrumento de trabalho do
profissional de saúde para o estabelecimento de um estilo de vida mais saudável.
As
práticas educativas devem se fundamentar no uso de recursos lúdicos que
simbolizem ou mesmo representem a temática, estimulando, assim, o
estabelecimento de hábitos saudáveis em escolares (crianças e adolescentes).
As atividades lúdicas de educação em saúde devem ser livres e incentivar a
curiosidade e a criatividade de cada grupo etário em particular,
apresentando-se de forma divertida e interessante.
Na
definição de atividade lúdica enquadra-se qualquer atividade (jogos ou
brincadeiras) que produza um distanciamento da realidade, estimule a
auto-expressão dos participantes, bem como leve ao relaxamento das tensões e,
ainda, proporcione entretenimento e reconhecimento de si mesmo2.
Um
material bem escrito ou uma informação de fácil entendimento melhora o
conhecimento e a satisfação dos participantes, desenvolve atitudes e
habilidades, facilita a autonomia, promove a adesão, torna-os capaz de entender
como as próprias ações influenciam o padrão de saúde e favorece a tomada de
decisão, além de contribuir na redução do uso dos serviços e dos custos com
a saúde3,4
.
Os
jogos e as brincadeiras utilizados no processo de educação em saúde devem
levar em consideração o desenvolvimento cognitivo de cada indivíduo. Crianças
no estágio pré-operacional (2 a 7 anos) possuem o pensamento dominado por
acontecimentos vivenciados. Para crianças neste grupo etário, que estão começando
a elaborar conceitos e fazer associações simples entre as idéias, o método
mais eficaz e esclarecedor é formado por brincadeiras e jogos imaginativos5.
Durante
o estágio das operações concretas (7 a 11 anos), a habilidade mais
significativa é a capacidade de ler. As crianças utilizam os processos de
pensamento para experimentar eventos e ações, para dominar os símbolos e para
usar suas reservas de memória das experiências pregressas, na avaliação e
interpretação do presente. Nesse período, as brincadeiras e os jogos
imaginativos também são adequados para as atividades de educação em saúde,
assim como os recursos didático-pedagógicos que aproveitam a habilidade de
leitura5.
No
estágio das operações formais (a partir de 11 anos), o pensamento operacional
formal caracteriza-se por adaptabilidade e flexibilidade. Portanto, as crianças
podem ser influenciadas por princípios lógicos, em vez de se basearem em suas
próprias percepções e experiências. Elas se tornam cada vez mais capazes de
pensar de modo científico e consoante a lógica formal. Nesse estágio das
operações formais, as práticas educativas podem envolver dinâmicas ou jogos
com grau de complexidade crescente, com vista ao envolvimento do adolescente em
cada etapa para a compreensão da atividade como um todo5.
Vários
autores mencionam os jogos educativos como uma forma de aprendizagem, e
enfatizam, em especial, o uso deles no processo de aprendizagem de crianças e
adolescentes nas escolas6,7. Ao se considerar a escola como o local
onde as crianças passam boa parte do dia, salientamos a importância de
trabalhar educação em saúde neste local, o que permite, ainda, integrar os
profissionais da escola na orientação sobre os fatores de risco para doenças
cardiovasculares aos estudantes, contribuindo para a mudança do estilo de vida
destes por meio da continuidade do processo educativo.
Neste
estudo, temos como proposta avaliar uma experiência de atuação no
desenvolvimento de noções de saúde cardiovascular com escolares, voltadas
especialmente para prevenção da hipertensão arterial, por meio de jogos
educativos. A finalidade do nosso estudo é contribuir para a sua replicação
em situações similares, ou mesmo em outras que envolvam o processo
ensino-aprendizagem em saúde. Como objetivo estabelecemos desenvolver e avaliar
oficinas educativas sobre hipertensão arterial realizadas com escolares da
educação infantil, ensino fundamental e médio.
Material
e Métodos
O
estudo é de natureza descritiva e se baseia na avaliação no desenvolvimento
de oficinas educativas sobre hipertensão arterial promovidas com estudantes
(crianças e adolescentes) matriculados em uma escola pública municipal
localizada na cidade de Fortaleza, Ceará. O estudo foi realizado no período de
março a agosto de 2003.
Participaram
da proposta um total de 202 estudantes, dos quais 45 matriculados nas turmas de
educação infantil e de ensino fundamental I (Grupo A), 71 matriculados nas
turmas de ensino fundamental II (Grupo B) e 86 matriculados no ensino médio
(Grupo C). A escolha dos participantes foi aleatória, não probabilística por
conveniência, sendo critérios de inclusão: estar matriculado na classe
escolhida, estar presente na sala de aula nos momentos de oficina e de avaliação
do conhecimento e aceitar participar do estudo.
Realizamos,
como integrantes de um projeto de pesquisa e de extensão,
oficinas educativas baseados em Piaget, com a utilização de recursos lúdicos
adequados para as diferentes faixas etárias e escolaridade. No desenvolvimento
das oficinas, procuramos sensibilizar os escolares para alguns questionamentos:
1. O que é hipertensão arterial? 2. Existem fatores que levam ao seu
desenvolvimento? Quais são estes fatores? 3.
Podemos preveni-la? Como?
As oficinas educativas transcorreram em três etapas: modelagem, aplicação e
avaliação, descritas a seguir.
Etapas
de Modelagem e de Aplicação
Estas etapas foram caracterizadas pela consulta à literatura especializada no
tema da pesquisa, construção de jogos educativos de acordo com as fases de
desenvolvimento cognitivo de cada grupo de escolares e sua aplicação.
Grupo
A - O
primeiro jogo criado teve como estrutura o jogo de memória. Foi constituído
por um painel com oito pares de figuras que representavam hábitos de vida,
classificados como permitidos, parcialmente permitidos e proibidos
para o estabelecimento de uma vida mais saudável. Este jogo foi considerado o mais adequado para aplicação
aos estudantes que se encontravam na educação infantil e ensino fundamental I.
Como ilustrações de hábitos permitidos
utilizamos pessoas realizando atividades físicas, comendo frutas e verduras.
Para hábitos parcialmente permitidos,
usamos figuras de um saleiro, de um hambúrguer com refrigerante e de uma pessoa
estressada. Hábitos proibidos foram
simbolizados por desenhos que representavam a obesidade, o tabagismo e o
etilismo (Anexo A).
Cada figura do painel possuía um par e sua localização devia ser memorizada
pelos alunos. Foi dado um tempo de 30 segundos para memorização das figuras e
então elas foram dispostas pelo verso, que continha números de identificação.
Em cada turma, os alunos foram divididos em dois grupos; cada grupo escolhia um
par de figuras. Quando acertavam o par, a representação simbólica da figura
era discutida com os escolares. Quando erravam, passavam a vez para outra
equipe, estimulando, assim, o espírito de competição, com o intuito de
prender a atenção dos estudantes.
Grupo
B - O
segundo jogo criado teve como base o jogo de cruzadas e foi utilizado com 71
adolescentes que estavam matriculados nas séries do ensino fundamental II. A
cruzada foi construída em cartolina e numerada de 1 a 14, representando o número
de perguntas que abordavam a definição de hipertensão arterial, os fatores de
risco e as ações de prevenção (Anexo B). Foram selecionadas as seguintes
questões: 1. Atividade física básica que faz muito bem à saúde (caminhar).
2. Indivíduos que têm maior risco de apresentar hipertensão (idosos). 3. Quem
não tratar corretamente a hipertensão pode ter (complicações). 4. Deve-se
comer diariamente e faz muito bem à saúde (verduras). 5. Quem tem hipertensão
pode levar uma vida (normal). 6. A hipertensão nem sempre apresenta (sintomas).
7. A atividade física deve ser (prazerosa). 8. (Hipertensão) significa o mesmo
que ter pressão alta. 9. (Saleiro) não deve estar presente na mesa. 10. (Pressão)
é a força que o sangue exerce na parede dos vasos. 11. A hipertensão pode ter
(controle) se a pessoa se cuidar. 12. (Bebida alcoólica) pode aumentar a pressão,
dificulta o tratamento medicamentoso e pode ser fator de risco para outras doenças.
13. Fator de risco para a hipertensão que a pessoa pode desenvolver após períodos
de raiva e muito cansaço (estresse). 14. Responsável por outras doenças, além
do aumento do risco para desenvolvimento de doenças do coração (fumo).
Cada
série era dividida em dois grupos. A cruzada foi fixada na parede da sala e
pedia-se que cada grupo, por vez, escolhesse um número de 1 a 14. Em seguida,
era lida a questão correspondente ao número escolhido e o grupo tentava dizer
a palavra que deveria se encaixar na cruzada. Caso acertassem, discutíamos o
tema referente àquela questão e, caso errassem, passavam a vez para o outro
grupo, com o mesmo objetivo do jogo anterior.
Grupo
C - O
terceiro jogo construído foi baseado na dinâmica do repolho.
O repolho é um objeto formado por várias
folhas de papel embrulhadas em si mesmas. No início, foram elaboradas 13
frases, cada uma escrita em uma folha de papel. Depois de escritas, as folhas de
papel foram dispostas em ordem seqüencial e com grau de complexidade crescente,
originando uma bola com formato de repolho. Cada frase elaborada estava associada a um conceito ou a
uma pergunta escritos em cartolina e fixados à parede (Anexo C).
As frases e os conceitos foram os seguintes, consecutivamente: 1. Vasos que saem
do coração e levam o sangue oxigenado com nutrientes para todas as células do
nosso organismo (artérias). 2. É quando a pressão exercida pelo sangue em
movimento na parede das artérias é muito forte, ficando acima dos valores
normais (hipertensão). 3. Até 120 x 80 mmHg (pressão normal). 4. Este é um
problema! Em casos de pressão alta, leve e moderada, na maioria das vezes, não
há sintomas. Somente quando a pressão sobe muito, pode ocorrer dor no peito,
dor de cabeça, tontura, visão embaçada e sangramento nasal. (sintomas da
hipertensão arterial) 5. O principal fator é o hereditário. Além desses
fatores de risco incontroláveis, fatores ambientais podem aumentar a chance de
instalação da hipertensão arterial. Fatores ambientais: ingestão excessiva
de sal, aumento de peso, sedentarismo, excesso de bebidas alcoólicas, estresse,
tabagismo e uso de alguns medicamentos (Por que uma pessoa apresenta hipertensão
arterial). 6. Procure substituí-lo por outros temperos que também dão sabor
aos alimentos, mas que não são maléficos à saúde, como orégano, louro,
cebola etc (sal). 7. Tem grande relação com o aumento da pressão. Faz o coração
trabalhar mais, e pode causar o aumento da pressão. Consulte um nutricionista e
pratique exercícios físicos (obesidade). 8. Fortalece o seu organismo e
relaxa. Diminui bastante os riscos de pressão alta (exercício físico). 9. O
uso excessivo eleva a pressão arterial. É uma das causas de resistência ao
tratamento anti - hipertensivo. Causa gastrite, doenças no fígado, coração,
cérebro e problemas sociais (bebida alcoólica). 10. Importante fator de risco
para doenças cardiovasculares, sendo responsável por uma em cada seis mortes.
Aumenta a pressão e acelera a progressão da aterosclerose. Abandoná-lo deve
ser a primeira providência do hipertenso (cigarro). 11. Pode levar ao aumento
da pressão arterial. Procure enfrentar os problemas com tranqüilidade. Não se
irrite à toa. Diversão é importante. Sem o... além de ficar mais feliz, você
estará cuidando do seu coração (estresse). 12. Ser da raça negra; ser homem
e ter 50 anos; ter familiares com a doença; ser idoso; ter diabetes; ter maior
número de fatores de risco aumenta as chances de desenvolver hipertensão
(fatores de riscos). 13. Pode ser feito com ou sem medicamentos. Isso vai
depender dos níveis da sua pressão arterial, do comprometimento ou não de
determinados órgãos e da presença de outras doenças. Não se deve interrompê-lo
após a normalização da pressão arterial, uma vez que ela deve estar sempre
sob controle (tratamento).
Durante a oficina para realização da dinâmica do repolho, os escolares iam
passando o repolho para o amigo que
desejasse e cada pessoa que estava com o objeto ia lendo uma frase e tentando
identificar o conceito exposto na parede. Se o aluno acertasse, explicávamos
aquele assunto. Se errasse, deixávamos em aberto para que os outros alunos
pudessem identificar o conceito correto.
Etapa
de Avaliação
Nesta etapa, realizamos a coleta dos dados apresentados neste estudo. Passados
cerca de 15 dias da etapa de aplicação para cada grupo, voltamos à instituição
para a etapa de avaliação do conhecimento dos escolares após o
desenvolvimento das oficinas educativas, com aplicação dos instrumentos de
coleta de dados que continham questões semelhantes às discutidas durante as
oficinas.
No
Grupo A em que o jogo de memória foi
utilizado, aplicamos um instrumento de coleta contendo oito figuras semelhantes
às do jogo de memória que caracterizavam cada par. Os estudantes deveriam
pintar em um círculo ao lado de cada figura. Deveriam usar a cor vermelha
quando a figura se referisse a algum hábito considerado como proibido;
a cor amarela para o que era parcialmente
permitido e a cor verde para o que era permitido.
No intuito de facilitar a compreensão dos estudantes, as cores representavam o
esquema adotado em semáforos.
No
Grupo B, em que ocorreu a aplicação
do jogo de cruzadas, utilizamos um questionário com perguntas semelhantes às
abordadas durante as oficinas.
Para
avaliação da oficina com aplicação da dinâmica do repolho,
desenvolvida com o Grupo C, construímos
afirmativas semelhantes às 13 questões discutidas nas oficinas. Os alunos
deviam ler as afirmativas e identificar se eram verdadeiras (V) ou falsas (F),
tendo como referência o que haviam aprendido.
Os
dados de avaliação foram analisados a partir de uma escala de Likert composta
por cinco conceitos: insuficiente, regular,
bom, ótimo e excelente. Os
conceitos foram determinados por intervalos de acertos de 20%.
Antes
de iniciar a etapa de modelagem, solicitamos autorização ao diretor da escola
para a realização do estudo. Após a autorização, identificamos o ambiente e
a população a ser abordada. Durante um evento de comemoração do dia das mães,
organizado pela coordenação da escola, fomos convidadas a promover uma oficina
sobre a importância das mudanças dos hábitos de vida desde a infância e a
adolescência, visando a prevenção de doenças cardiovasculares na fase
adulta. Aproveitamos, neste momento, a oportunidade para obtermos o
consentimento livre e esclarecido dos pais para que seus filhos pudessem
participar do estudo. Com vistas a atender aos aspectos éticos relativos aos
estudos com seres humanos8, a proposta foi encaminhada e aprovada
pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Walter Cantídio da
Universidade Federal do Ceará.
Discussão
dos Resultados
O Grupo A foi constituído por 45
escolares matriculados na alfabetização, na 1a e na 4a séries,
com média de idade de 7 anos (40%). Crianças com idades de 10 e 12 anos
tiveram menor participação (4,5% cada). A distribuição dos escolares quanto
ao sexo foi de 60% para as meninas e de 40% para os meninos.
No Grupo B, constituído por
estudantes da 6a e 7a séries do ensino fundamental II, a
análise dos dados mostrou os seguintes resultados: houve maior participação
de adolescentes com idades de 12 e 13 anos, correspondendo a 33,8% cada. Entre
os adolescentes de 12 anos, 66,7% eram do sexo feminino e 33,3% do sexo
masculino. Já entre os participantes com idade de 13 anos, 62,5% eram do sexo
feminino e 37,5% do sexo masculino. Novamente os participantes do sexo feminino
obtiveram maior participação (60,5%).
Os
escolares do Grupo C estavam
matriculados no 1o, 2o e 3o anos do ensino médio.
Neste grupo, as idades de maior e de menor participação foram 17 anos
(36,0%) e 21 anos (1,2%). Entre os adolescentes de 17 anos, 51,6% eram do sexo
feminino e 48,4% do sexo masculino.
Na etapa de avaliação do conhecimento produzido pelas oficinas com aplicação
da escala de Likert, verificamos que no Grupo A, em que o jogo de memória foi
utilizado, o conceito ótimo foi
predominante (66,9%). Apesar da idade, as crianças de 7 anos obtiveram melhor
desempenho, e corresponderam a 24,5% do grupo com conceituação ótima.
O sexo de maior participação neste conceito foi o feminino (42,2%), e 2,2% dos
participantes obtiveram, respectivamente, os conceitos regular e insuficiente.
Os resultados comprovam a adequada utilização do jogo de memória como recurso
lúdico para a faixa etária de 6 a 12 anos de idade. Na etapa de aplicação do
jogo não foram encontradas dificuldades. No entanto, na de avaliação,
conforme percebemos, algumas crianças não conseguiram identificar corretamente
as figuras por não conhecerem bem as cores, possivelmente em virtude da pouca
idade e da inserção tardia no sistema de educação infantil.
Na
etapa de avaliação do aprendizado conferido pelo jogo de cruzadas, recurso
adotado para o Grupo B, encontramos que 33,8% dos adolescentes obtiveram o máximo
(excelente), com maior participação
do grupo de 13 anos (12,7%) e dos adolescentes do sexo feminino (66,7%); entre
os demais participantes, 29,6% alcançaram o conceito ótimo,
24% bom, 9,8% regular e apenas
2,8% receberam conceituação mínima (insuficiente).
As questões com maior número de acerto foram as questões 4 e 8. E as menos
acertadas foram as questões 11 e 12.
Na
avaliação do aprendizado do Grupo C, em que adotamos a dinâmica do repolho,
verificamos que 51,0% dos adolescentes obtiveram o conceito excelente,
41,9% ótimo, 5,9% bom
e 1,2% insuficiente. Entre os participantes com conceituação máxima,
17,5% tinham 17 anos e 30,3% eram do sexo feminino. As questões com maior número
de acerto foram as questões 1 e 9. E as menos acertadas foram as questões 5 e
11.
Os
jogos de cruzada e a dinâmica do repolho
não apresentaram dificuldades no desenvolvimento das etapas de aplicação e
avaliação. A escolha de uma linguagem simples, voltada para o contexto dos
adolescentes da instituição e dos recursos, facilitou o processo de educação
em saúde cardiovascular.
Brincar
é uma atividade a ser considerada na infância e na adolescência porque ensina
a criança e o adolescente a viver, ajuda-os no seu desenvolvimento, abre
caminhos para descobrir o seu papel no mundo e, ao experimentar habilidades,
contribui, ainda, para a formação do conceito de si mesma9.
A
atividade lúdica como veículo de aprendizagem favorece também o conhecimento
adquirido gradativamente de acordo com a realidade vivida pelos participantes,
de uma forma alegre, leve, grupal e participativa2.
Por esse motivo, torna-se essencial a utilização dessas estratégias
para a realização de um trabalho em educação e saúde com crianças e
adolescentes, pois se evidenciou claramente a facilidade de atenção, motivação
e interesse por parte do grupo do estudo quanto aos momentos vivenciados10.
Em
mais de seis anos de realização de projetos de pesquisa em Saúde
Cardiovascular, as ações de educação e promoção da saúde sempre estiveram
presentes11,12. Preocupados, também, com a dinâmica social atual,
os integrantes do projeto passaram a desenvolver atividades direcionadas, em
especial, para a criança e o adolescente. Educar e promover saúde possuem a
mesma meta, qual seja, ensinar pessoas a viverem a vida de forma mais saudável,
isto é, lutar para adquirir o potencial de saúde máximo possível. A promoção
da saúde vai além da detecção das incapacidades da criança. Busca, como
referido, o desempenho de prática de saúde positiva por parte da criança e de
sua família. Contudo, não existe um momento certo para a abordagem dessas
crianças pelos profissionais de saúde13. Conforme se reconhece, as
ações de promoção da saúde devem acontecer o mais cedo possível,
aproveitando, principalmente, a busca da família pelos serviços de saúde e o
ambiente escolar.
As
formas utilizadas para se comunicar um assunto, seja na escola, na comunidade,
no hospital, devem ser simples, claras e criativas, para prender a atenção,
despertar a curiosidade e proporcionar um resultado positivo dos conteúdos
abordados10.
Nossa experiência no desenvolvimento das oficinas educativas e na
construção dos recursos lúdicos foi árdua, porém muito gratificante. A cada etapa vivenciamos e aprendemos como é difícil
trabalhar estratégias de educação em saúde diferentes das comumente
encontradas.
As
oficinas educativas constituíram importantes métodos para estimular a
compreensão e a aprendizagem das crianças e dos adolescentes. Ademais, a criação
de instrumentos educativos sobre saúde cardiovascular visa, principalmente, a
mudança de comportamento para a obtenção de um estilo de vida mais saudável.
Conforme percebemos, os recursos utilizados apresentaram-se como instrumentos
adequados para o desenvolvimento de práticas de educação em saúde
cardiovascular com os escolares participantes.
Esperamos que as oficinas possam contribuir para a mudança de
comportamento dos escolares envolvidos e seus familiares. Ressaltamos,
novamente, que a escola é um local ideal para se trabalhar com essa população,
contribuindo para a formação de adultos comprometidos com sua saúde
cardiovascular.
1.
Salgado
CM, Carvalhares JTA. Hipertensão arterial na infância. J. pediatr 2003; 79(1):
115-124.
2.
Rabelo SE, Padilha MICS. A atividade lúdica no processo educativo ao cliente
diabético adulto. Texto
Contexto Enferm.1998; 3(7):106-117.
3.
Moreira MF, Silva MIT. Readability of
the educational material written for diabetic patients. Online Braz J. Nurs
(OBJN-ISSN 1676-4285) [online] 2005 August; 4(2) Available in: www.uff.br/nepae/objn402moreiraetal.htm
4.
Serxner
S. How readability of material affects outcomes (abstract). J
Vasc Nurs. 2000; 18:3.
5.
Wong DL. Whaley & Wong.
Enfermagem pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. 5ªed.
Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 1999.
6.
Kamii C, Deviries R. Jogos em grupo na educação infantil. São Paulo (SP):
Trajetória Cultural; 1991.
7.
Dinello DR. A expressão lúdica na educação na infância. 4ªed. Santa Maria
(RS): Pallotti; 1985.
8.
Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196/96. Decreto nº 93.333
de janeiro de 1987. Critérios
sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Bioética
1996; 4(2): 15-25.
9.
Silva LR da. A utilização do brinquedo terapêutico na prescrição da assistência
de enfermagem pediátrica. Texto Contexto Enferm. 1998; 7(3):96-105.
10.
Castro APR, Gonçalves, AF, Caetano FHP, Souza, LJEX. Brincando e aprendendo saúde.
Texto
Contexto Enferm. 1998; 3(7): 85-95.
11.
Oliveira JV, Araujo TL. Com saúde não se brinca...mas brincando podemos
aprender a cuidar da saúde. Rev. RENE 2002; 3(2):105-111.
12.
Silva VM, Lopes MVO, Araujo TL. Validación
de un recurso lúdico para educación en salud cardiovascular. Rev.
Cubana Enfermer. 2004; 20(3). Disponible
en: http://scielo.sld.cu/
13.
Smeltzer SC, Bare BG. Educação
para saúde e promoção da saúde. In: Brunner & Suddarth. Tratado
de enfermagem médico-cirúrgica. 9ªed.
Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2002.
Aos
funcionários da Escola de Ensino Fundamental e Médio Félix de Azevedo, pelo
apoio; aos estudantes e pais, pela confiança e participação durante a realização
do estudo, e ao CNPq (processo no 500639/2003-5), pelo suporte
financeiro.
ANEXO A – JOGO DE MEMÓRIA
1
- Atividade física básica que faz muito bem à saúde?
2 - Indivíduos que têm maior risco de apresentar hipertensão?
3 - Quem não tratar corretamente a hipertensão pode ter...
4 - Deve-se comer diariamente e faz muito bem à saúde?
5 - Quem tem hipertensão pode levar uma vida...
6 - A hipertensão nem sempre apresenta...
7 - A atividade física deve ser...
8 - Significa o mesmo que ter pressão alta?
9 - Não deve estar presente na mesa?
10 - A força que o sangue exerce na parede dos vasos?
11 - A hipertensão pode ter... se a pessoa se cuidar
12 - Pode aumentar a pressão, dificulta o tratamento medicamentoso e pode ser
fator de risco para outras doenças.
13 - Fator de risco para a hipertensão que a pessoa pode desenvolver após períodos
de raiva e muito cansaço?
14 -Responsável por outras doenças, além do aumento do risco para
desenvolvimento de doenças do coração?
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